Luiz Nogueira Barros
Prezado amigo Soares Feitosa
Recebi seus "livretos" e "poemetos". Após a leitura logo compreendi tratar-se de pura
alegoria semântica. Livretos são, por questões de número de páginas. Poemetos, jamais...
O poema "femina" (modo mulher) também tem seu lado "modo homem". É uma apologia à permanência
do ente amado, que jamais terá ido embora. E mesmo quando aos poucos volatilizado pelas ingerências
do tempo, com certeza, ao se fazer em últimos vapores também nos levará consigo. Jamais li alguma
coisa tão bonita e real sobre a permanência do ente amado.
Li "Thiago" com intensa emoção. Jamais havia lido poetas, pelo menos os sociais, que procurassem o
que de comum, ou mesmo de tão distante, existisse entre eles e os outros poetas. Entre você e Thiago
existe a "ancestralidade das águas desejadas". As suas, escassas, absorvidas pelas terra que por vezes
se faz em poeiras à menor brisa. As de Thiago, abundantes. E fico com a impressão de que entre os dois
houve um "dilúvio inconcluso", de inclinações equivocados.
"Thiago", é um poema épico que começa em águas rasas, um vau de poeiras e rezas a José, o Santo
errado. E segue. E anda. E desconfia de que o mundaréu de águas de Thiago não é apenas feito de
chuvas, mas das lágrimas do poeta andarilho quando ali esteve, fugidio, maltratado pelas lembranças
das suas terras secas e sofridas.
Nem preciso, meu caro amigo, continuar falando bobagens. Mas não poderia esquecer dos poetas que
você vai falando, como andarilho, sejam Euclides da Cunha, Geraldo Mourão, Nertan Macêdo e Humberto
Teixeira, que todos os poetas são parentes na medida em que são universais em seus cantos de dor,
de angústia, de solidão. O Conselheiro, que há de ter lido "A Utopia", de T. Morus, jamais suspeitou
que ela nasceu de um relatório de Fernão de Magalhães sobre a 'Terra do Fogo, embora haja vivido e
conjecturado sonhos em terras escaldantes da Bahia, que ele também fez mais escaldantes ao temperar
seus sonhos com o fogo sagrado, dos céus, e o fogo pecador, dos infernos.
Foi tudo muito rápido. Acabei de ler os dois poemas e logo me desloquei para o computador: internauta
ainda sem os verdadeiros ângulos do universo, se é que eles existem. Aliás, em matéria de eternidade
e infinito (infinitude) continuo não aceitando infinitos e eternidades negativos e positivos.
Nem nada que possa ficar à esquerda, à direita, acima e abaixo de tais conceitos, até porque,
se assim fosse possível, os próprios conceitos de eternidade e infinito estariam a precisar de
nova "configuração". E também porque acredito que somente os poetas sabem o que significam infinito
e eternidade, porque são filósofos. E quando assim concluo chego a ter pena dos físicos e
matemáticos...
Vou ler os demais "poemetos". Voltarei a lhe fazer observações. Afeito ao mundo das análises
políticos-históricas, e, por vezes também filosóficas, não sei se serei perdoado, cheguei a me
perder em alguns poucos poemas sonhando também ser poeta.
Voltaremos ao assunto. Não estou surprêso com a qualidade dos seus poemas. Estou feliz. "As auroras
criam". E um dia os poetas que estão nos abismos da terra serão "cuspidos de volta..."
Amém, meu amigo, pelas auroras criadoras. E por todos os poetas que haverão de nascer.
Luiz Nogueira Barros
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