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Um copo de vinho fresco
Um copo de vinho fresco
como um fresco pensamento.
Vinho fresco
teve o sol por fermento.
Um copo de vinho fresco
em Lisboa, Campolide.
Um amigo que foi morto
pela Pide.
Um copo de vinho fresco,
consciência revoltada,
mecanismo tic-tac
de granada.
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Morrer de sede
Estrangeiro que fui no meu
país,
saltei fronteiras a tentar
a sorte.
Estrangeiro que sou, perdi
o norte,
corri o mundo, não
deitei raiz.
É meu rasgado e velho
passaporte
a sede antiga, esta cicatriz
queimadura que diz e contradiz
a pátria calcinada
até à morte.
Mas torno sempre ao lar:
fornalha, frágua,
cinzas e pedras sob cada
ponte.
Orvalho, quando o há,
é só de mágoa.
E quando exijo ao verde
que desponte
e vem Abril abrir-se em
olhos d'água,
vou eu morrer de sede ao
pé da fonte.
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Leão, que tenho dentro
Retirantes da zona temperada,
procurámos um sol
mais africano
que desse, em cada tarde,
perfumada,
a safra que é normal
em cada ano.
Preciso viajar o corpo teu,
dobrar-te em curvaturas
de felino,
alumiar o anjo que mordeu
o nosso corpo a corpo em
desatino.
Leão, que tenho dentro,
sai da jaula,
e a pata vai pousar em teu
regaço.
Selvagem o amor em que te
faço
aluna a revidar a minha
aula.
Desnudas as lições
que assim consomem
corpos opostos de mulher
e homem. |
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Homem-lobo
"O homem é lobo-fera,
nem sequer merece a vida..."
Quem o disse, lobo era,
ou carneiro suicida.
Quem não mete o dente
em roubo
e não quer roubar-se
à vida,
se não mata o homem-lobo
a si mesmo se liquida
porque dentro da razão
da humana condição
o tributo a dar à
vida
é morte que lhe é
devida. |
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A Primavera no poço
A Primavera no poço,
minha filha, solidão.
Vampiro de estimação
traz cravado no pescoço.
Onde o céu, onde
o balouço,
embalado na subida?
A meio curso foi colhida.
Onde o riso que não
ouço?
Onde a chama que não
brilha?
Alçapão em
armadilha
a esvair-lhe o sangue moço.
Caída no meio de
estrume,
lanterna de vagalume,
minha filha pele e osso. |
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Enganos
Anos e anos
de enganos
e assina
a sina
assassina:
coração à
guilhotina! |
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Ali, além, acolá...
Ali, além, acolá,
só dinheiro é
que não há.
Será tamanha a fartura
que ninguém jamais
procura
ser dono de coisa alguma.
Por isso não se costuma
usar tranca ou cadeado,
apelar a magistrado,
condenar sem compaixão,
meter homem na prisão,
empurrá-lo para a
guerra.
Onde fica essa terra?
Onde fica ou ficará?
Ali, além, acolá...
É povo, por natureza,
inclinado à gentileza.
Todos são donos de
tudo
porque todos fazem tudo
para todos. Mais distingo
ser ali sempre domingo.
É festa continuada,
irmandade partilhada
entre homens e mulheres,
bem-te-quero, bem-me-queres,
sejam quais as gerações.
Desigual doutras nações
onde fica ou ficará?
Ali, além, acolá...
Arribado me quisera
ao país da Primavera.
Com a minha confraria
hei-de ali surdir um dia
sem daqui arredar pé.
Trocar eu quero o que é.
Porém ânsia
desmedida
troca-me as voltas da vida
e comigo me deparo
solitário ao desamparo
a pregar neste deserto.
O azul é tão
incerto...
Onde fica ou ficará?
Ali, além, acolá... |
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Foice e martelo
Foice e martelo,
coice!
Foi-se a foice,
foi-se o martelo,
foi-se Marte,
foi-se o elo,
foi-se a arte,
foi-se o mar,
foi-se o ar.
Fosso... |
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Saudade
Ao longe, entre portas do
desejo,
a aranha da saudade agora
tece
a teia que te envolve e
te adormece.
Partiste. Repartido me revejo
ave nocturna a debicar o
nexo
contido nessa concha do
teu sexo. |
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Adunar
Adunar na vertical é
transformar o instinto em razão e esta naquele.
É conseguirmos ver
o Invisível.
É usarmos de infravermelhos
para localizar o Monstro agora diluído em estruturas canibais, omnipotência,
omnipresença.
É sabermos detectar
a tempo as suas teias e evitar nelas pousar.
É rasgarmos as suas
máscaras, sejam elas lotes de acções ou abertura de
caça ao preto e ao cigano.
É darmos valor à
vida humana, em vez do preço que ele pretende atribuir-lhe.
É sermos indiferentes
à diferença entre irmãos, homens que todos somos.
É não deixarmos
que ele converta as nossas vidas num andar solitário por entre a
gente.
É não deixarmos
que ele transforme os homens em colónias de formigas.
É conseguirmos pôr
no Soweto um pianista japonês a emocionar a assistência com
um nocturno de Chopin.
É não deixarmos
que tantos morram à fome enquanto permanecem terras férteis
em pousio e há trigo acumulado nos celeiros.
É não consentirmos
que as máquinas tomadas pelo Monstro nos deixem com a alma em desarrimo.
É não deixarmos
que ele transforme o planeta em esgoto a céu aberto.
É não aceitarmos
as gorjetas que ele oferece para olharmos para o outro lado.
É não deixarmos
que nos atire para a lixeira.
É não consentirmos
que o Direito Comercial lace, aperte, esmague e devore os Direitos do Homem.
É arrimar-nos a um
tronco largo quando a jibóia ataca, comprimento ela não tem
para laçar-nos juntamente com a árvore.
É puxarmos da catana
e retalhá-la se ela insistir no ataque.
É dinamitarmos a
digestão antropofágica do Labirinto.
É espantarmos os
disciplinados cumpridores de ordens, os bandos de corvos sempre à
espera da sua quota-parte de carniça.
É ensinarmos as gaivotas
a cagar na cabeça de arrogantes e presunçosos.
É darmos um banho
de lixívia aos engravatados distribuidores de paninhos e água
quente.
É cravarmos malaguetas
no umbigo do Dr. Prepotência, e outras, como flechas, no cu que o
Dr. Banqueiro tem como cofre.
É nunca ficarmos
de costas para os traidores que há na vida.
É estarmos sempre
atentos às manobras do Piloto que elegemos.
É sabermos transformar
as espadas em arados e as metralhadoras em berbequins.
É levarmos os mansos
a possuir a terra.
É consolarmos os
que choram.
É saciarmos os que
têm fome e sede de justiça.
É acreditarmos que,
embora Invisível, será ainda possível empurrar o génio
do Santo Lucro para dentro da garrafa, como outrora acreditámos
que era possível vencer o Hitler, mesmo quando todos, até
os nossos filhos, garantiam que ele já era o rei do mundo. |
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