Mais de 3.000 poetas e críticos de lusofonia!

Eliana Teixeira

 

elianatex@yahoo.com.br

Jornal do Conto
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poesia & conto:


 

Crítica, ensaio, resenha e comentário:

 


Fortuna crítica:


Uma notícia da autora: 

Meu nome é Eliana Isabel Teixeira, sou paulista, me formei em medicina e atuo como dermatologista. Já andei pelo mundo sozinha, adoro fazer pão, aquele perfume abençoado que acaba com qualquer mau-humor, limpo minha casa enquanto ouço de Villa-Lobos a Joe Coker, Sam Coke, Otis Redding, Cole Porter e Gershwin na voz de Ella Fitzgerald, além de Tom Jobim...

Amo as Letras e sempre leio os poemas que me caem nas mãos. Absolutamente apaixonada pela prosa de Machado de Assis e pela poesia de nossos grandes poetas, meus prediletos são Cecília Meireles e Drummond, além dos pouco conhecidos como Lupe Cotrim Garaude e dos portugueses Eugénio de Andrade, Judith Teixeira, Davi Mourão-Ferreira, Sophia de Mello Breynner, Fernando Pessoa, entre tantos, Poeta!

Você partilhou comigo o belo texto da menina afegã, "Uma visita ao poeta Ascendino Leite", o belíssimo "Punhais de Othelo", "Ma Fi Alah!", "Adolescíamos", "No Céu tem Prozac", sua versificação sobre o texto de Saramago e seu quarto Panfleto, com "Uma canção distante", "O assombroso cão do segundo", "Cadê o meu?", "Não é aqui não", "Gêmeas eram as senhas das torres gêmeas", "O trem e o cordeiro", "José Alcides Pinto, de coração pendido", "Penúltimo canto, a dúvida", "Uma pequena aula de música".

Além do belo poema no envelope de imburana...

Obrigada mais uma vez, Poeta!

Um abraço com cheiro de imburana,

Eliana

SP, SP, 7.7.2007
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), Morte de César, detalhe

 

Frederic Leighton (British, 1830-1896), Memories, detail

 

 

 

 

 

 

 
 

 

 

 

 

 

 

 

 

Mais de 3.000 poetas e críticos de lusofonia!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Eliana Teixeira

Um pequeno bloco de poemas

 


 

NEGAÇÃO

Alto muro que cerceia novos sentimentos
Muro novo
- cimento e pedra -
Obstruindo inconfessáveis desejos
Molda o ser para que não ultrapasse
O limite do inatingível
- do inatingível -
Sentimento azul
- borboleta e pássaro -

Sobrevoando a barreira dura e áspera
Da minha mais completa solidão.





VISÃO DA RUA

Meu coração fica tão apertado
Quando tua camisa branca esvoaça
-garça aprisionada -
No varal do apartamento.





EM SILÊNCIO

Quero que meu olhar
Atravesse teus olhos
Como uma seta lançada
Por um arqueiro infalível

E que descubra, lá no fundo,
A força silenciosa
Que mantém a ordem do universo
Na total ausência
De palavras estabelecidas

O coração é mudo e simples.





SONHO

Adormeço
E encontro teus olhos
Naquele mesmo lugar dos sonhos
Que minha memória inventou

Estendo minha mão
E toco tua sombra
Com as pontas dos dedos

Dançamos a música inaudível
Como nas fotografias
Amanheço
E afago teu corpo ausente.





PERCEPÇÃO

Mão crispada no meu ombro esquerdo
Profundos olhos de oceano intocado
Visão urgente que tudo percebe
E dissimula
Desconcertando a minha imaginação

Acende agora a chama oculta
No meu peito
E que esse calor sagrado
Aqueça nossos corações
Neste inesperado quase-abraço.





THORN TREE


Adeus, terra árida
Que trouxe aridez ao meu coração
Eu quero a chuva nos campos
Da minha terra
Ver os pássaros nas poças d'água
Acariciar os meus gatos

Eu quero poder respirar
O ar úmido das manhãs
Da minha terra
Não mais a poeira seca do deserto

Não mais esta paisagem cinzenta,
Inacabável
De árvores com espinhos
Que ferem o meu coração

Eu quero as árvores verdes
Dos desenhos das crianças
Com seus frutos maduros

Eu quero os frutos maduros
Que este deserto infértil
Não pode gerar

Tanta poeira... tantos espinhos...
Adeus,  monótona paisagem cinza
Que cobre de cinzas a minha alma:

Marquei um encontro com a vida!





PLENITUDE

Deixem-me ser como aquele rio:
Nunca o mesmo rio a cada segundo
E, ainda assim, água
Como todas as águas
De todos os rios
- É sabedoria pura sua essência intacta

Deixem-me ser como os seixos
Que rolam em seu leito
Com suas formas perfeitas
-Mistério guardado
No silêncio profundo do tempo

Deixem-me ser como as árvores
Em suas margens
Cujas folhas fingem cair e renascer
De tempos em tempos

Deixem-me ser como os pássaros
Deste cenário
Que não precisam disputar o azul do céu
Para serem livres

Também sou essa paisagem
Sei que sou feita de água, pedra,
Árvore e pássaro
Também eles são feitos de mim

Somos todos a página de um mesmo livro
No mistério inexplicável do tempo.





FANTASIA

Em frente ao espelho visto meus sáris coloridos
- Um a um -
A breve revelação em vidro e prata desvenda
Meus olhos de jade,
Meu pescoço de estátua,
Minha pele de cetim

Meu coração a céu-aberto
Galopando cavalos azuis

Esta noite me pertence:
Serei, em vermelho e dourado,
A princesa escolhida do harém

Esta noite dormirei tão perfumada
Como se esperasse alguém.





PELA JANELA DO TREM

A mulher de sári colorido
Desce do riquixá com duas meninas
O homem de longui as recebe
Sem emoção

A pequena, de vermelho, enlaça seu pescoço
A maior o abraça,  em branco
A mulher apenas segue atrás, resignada
Sobem em silêncio
A rua estreita de terra
E desaparecem na poeira
Da minha visão

O que terão para o jantar?
 




AMOR-MENINO

Meu amor-menino
Vem sempre visitar meus sonhos
Sua presença é sempre doce
Como um pássaro sem medo

O tempo o tornou homem
E a vida o afastou para um país distante
Não sei se é feliz
Nada sei do âmbar
De seus olhos calmos

Nem mesmo sei o seu rosto
Mas minha memória
Guardou suas mãos
Seus longos dedos acariciando
A face morna do tempo

Meu amor-menino
Vem sempre visitar meus sonhos
Somos tão jovens e belos!
Mas ele nada sabe de sonhos,
Ele nada sabe de mim

Ele nada sabe de sua visita inesperada
Que me faz despertar
Em total abandono e abraçar
O amor que nunca tive.
 




TARDE EM COCHIN

País longínquo do meu amor distante
Atravesso oceanos e continentes
Para observar o pôr-do-sol
Na tarde quente de Cochin

(Da calçada da marina
Sou mais observada que o pôr-do-sol)

Oh mistura de cheiros e sabores
Diante do Mar Arábico!
Vozes estranhas me localizam
No mapa-múndi da minha memória

Tecidos coloridos e poeira
Se misturam à minha solidão.
 




SIMPLICIDADE

Meditar.
Meu refúgio em silêncio
Minha mente serena
Meu coração desperto

Oração silenciosa
Que me identifica
Sem números
E sem registros

Não mais eu-com-documentos
E obrigações
E deveres
E horários a cumprir

E sorrisos a dar,
Nem aplausos
Nem explicações

Deixem-me ser assim
Desperta e distante
E ao mesmo tempo
Tão envolvida
E tão próxima

O olhar que se aproxima
Enche de luz a minha alma
Sei que já não sou
E sou

Sei também que sou o ser
Que se aproxima

Também sou luz no silêncio da noite.
 

 

 

 

 

Benedicto Ferri de Barros

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Mais de 3.000 poetas e críticos de lusofonia!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Eliana Teixeira

Outro pequeno bloco de poemas

 


 

DOS JASMINS I

Jasmineiro, jasmineiro
Me responda bem ligeiro
E não minta para mim:

Podem ser as nossas vidas
De janeiro a janeiro
Só perfume de jasmins?

 




DOS JASMINS II

Os jasmineiros parecem florescer
Sempre que estou triste
Pendem pelos muros,
Escorrem pelas calçadas,
Agarram-se aos meus cabelos,
Ultrapassam os meus portões

Minha alma sem cadeados
Transborda de perfume pela casa
No branco puríssimo
De suas flores estelares

Guirlandas imaginárias
De muitas voltas
De muitas voltas

Penetro na mata fechada do tempo
E percorro o longo caminho
De muitas voltas
De muitas voltas

Quem me dera que a vida fosse
Um eterno perfume de jasmins!

 




TARDE

Tuas mãos recebem o veludo
Da minha pele perfumada
Em cada centímetro
Do abandono de que sou feita
O silêncio de uma prece
Que subiu aos céus
Sem  que ouvisses.

 




PALAVRA

Palavra que o vento leva
Resposta que o vento traz
Fragmento incompreendido
Lume de punhal
Caco de vidro
Escuridão.

 




INSTANTE

Meu coração fibrila
Em azul-marinho
Que é a cor do meu vestido

Tuas mãos acolhem o que sobrou
De mim

Meus pés acompanham
A surpresa dos teus passos
E de repente ignoro o óbvio dos dias

E de repente sou mais espanto
E menos solidão

Mas já não penso. Já nada posso ouvir
No espaço virtual
Entre teu corpo e o meu.

Aves noturnas nos teus olhos
Dão a dimensão
Do meu vôo entre as estrelas.

 




LUAR

Lua cheia nas janelas
Que rouba a paz do meu sono
Somatória de aquarelas
É branco o meu abandono.

 




TRISTE ALIMENTO

"Os alimentos sadios não são apanhados com armadilhas ou redes "
                                       
(William Blake)


Que visão abençoada
Esse bezerrinho mamando
Sobre o tapete orvalhado
De capim

Que cena perfeita
Essa mãe de olhos mansos
Que sabe proteger o filho
Como todas as mães

Mas todos os filhos partem, um dia
E ele será levado, inocente,
Apertado entre inocentes,
E sentirá tanta sede...
Água fresca que só seus olhos doces
Parecem implorar

E terá fome e solidão.
Será levado ao ritual cotidiano e indiferente
De tortura e dor
De choque, sangue e morte.

(Meu coração se recusa a compreender esse tristíssimo alimento).

 

 

Carlos Nóbrega

 

Benedicto Ferri de Barros

 

 

 

 

 

13.9.2007