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Felipe Stefani

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Thomas Colle,  The Return, 1837

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Poesia:

Ensaio, crítica, resenha & comentário: 


Fortuna: 


Alguma notícia do autor:

Felipe Stefani é poeta, artista plástico e fotógrafo. Nasceu em São Paulo em 1975. Tem poucas palavras sobre si mesmo, mas variadas formas de expressão. Já fez de tudo, até biologia, porém foi na arte que encontrou meios de se relacionar com o mundo. Faz parte do grupo “Só Desenho”, que tem os desenhos publicados no site www.pbase.com/sodesenho . Ilustrou o livro “Teatro das Horas” do poeta André Setti, editado pela Edições K. Tem poemas e desenhos publicados no sites (2009)

www.meiotom.art.br ,

www.revistazunai.com.br ,

www.revistamalagueta.com ,

http://revistacult.uol.com.br/website/ ,

www.verbo21.com.br e

www.cronopios.com.br

Escreve também em seu blog: http://cultuar.blogspot.com  Prefere que sua arte fale por si mesma. E-mail:  felipe.stefani@uol.com.br

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Ruth, by Francesco Hayez

 

Edna Menezes

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Um esboço de Leonardo da Vinci, página do editor

 

 

Felipe Stefani

Um pequeno bloco de poemas

 

LOBOS, MADRUGADA

 

Não te deites com a volúpia presa aos dentes,
se pretendes despertar os lobos.

Madrugada,
o uivo sonda teus ossos.

Alquimia não consiste em acalentar o orgulho.
Os lobos sabem farejar as sombras,
violetas e asteróides
não envolvem seus mundos.

Sutileza,
presa acidentada dos cálculos,
a cidade tem uma cegueira acelerada,
os lobos avançam,
teu quarto tem extremidades impossíveis.

A volúpia brota de ossos cegos,
onde a vida, com seus lábios violetas,
não penetra.

Tu, cadáver de ti mesma,
volúpia acidentada,
não penetres a alquimia com asteróides cegos.

Os lobos te envolvem, no lado mais sutil do orgulho.

Madrugada
tem acordes turvos.
Deitas-te à cama,
o edifício encravado na cidade
não supõe teus lobos extremos.

Com volúpia, não calcules a cegueira
sem supor teus uivos.

 

Brotam nas sombras,
brotam nas ruas,   
em espaços turvos,
no sorriso das cifras.
Avançam a madrugada em que te deitas,

cadavérica.
Farejam e, ao farejar, te despertam,

tão inesperada quanto um asteróide.

 

 

DANÇA PRIMORDIAL

 

Quantas vezes vi a loucura me percorrer cegamente as entranhas?

Lavrando do fundo de um corpo sua flor brutal,

libertando

a dança desregrada que atravessa a voz,

recompondo

na noite o ouro intenso onde a lua faz ressaca.        

 

Estou completo em minhas paisagens.

 

De uma vida inteira absorvo a marcha,

canto as estações abertamente,

tocando com o esquecimento as margens,

que se distanciam

e evocam

toda pureza de uma arte. 

 

Quantas vezes essa loucura corrompeu o último enlace

do medo que se abre ao fim de cada feixe de encanto

no alimento obscuro,

colhido do apuro

das visões imensas?

 

Toda obra é terrível e sangra

na memória a sua imagem.

 

No auge insondável desse estrondo,

canto

em volta de uma dor,

o dorso se contorce,

no centro,

multiplicando o gesto,

um eco indefinido devora em travessia

centenas de mundos construídos

e sonhados.

 

Pois a música se apossa da ébria lentidão do meu engano.

 

 

ÉBRIO

a noite levou-me qual ébrio furacão dentro do sono a casa o perfume nada sabia do silêncio unânime levava o vinho a janela do quarto negro negro minha treva me chamava madame colocava gelo no copo ah caminho vegetal de tentações mesquinhas na manhã abri as asas na revolta de um insone o vôo sobre a cidade a cidade a cidade a chaga imediata dos vícios deixei-a entorpecida pálpebra negra enquanto o sol faiscava uma loucura unânime migrei para as visões distantes a aurora e o beijo afundou-a até a doçura do sonho besta soberba no outro dia era um poeta

 


 

 

ACORDE NOTURNO

 

O acorde da noite

mais uma vez tombou

sobre meu corpo migrante,

e, sendo a música a vastidão no instante,

deixei-me sonhar em volta dela.

 

Ela que me tocou na noite,

na correnteza de músicas estranhas,

como mar revolto entre as sombras dos naufrágios.

 

E navegamos,

sacrificando o mar, multiplicando as margens,

a infinita música dos presságios,

exilados nessa travessia,

onde somente as estrelas morrem por nós.


 

 

 

POEMA MÍSTICO

 

Repentino,

na clareira vulcânica da idade,

concebi assim a leitura da memória:      

de que tudo que desata, cresce e morre  

tem um gesto,

um gesto de princípio.

 

Deveríamos chamar ritmo

tudo que nos torna exaltados.

 

Somos tentados a ver dentro do sonho,

assim nos recriamos do que nos causa escândalo,

nomeamos a noite, a tarde e a manhã dos tempos

como fôssemos deuses.

 

Somos ritmo do sonho,

lembrando, vagando,

no fim de cada era,

causando escândalo.

 

Vede, as estrelas,

os frutos das figueiras,

o templo

furiosamente serão lembrados.

Viveremos disso,

dando ao mundo

um nome de batismo.

 

Chamaremos inspiração

tudo que concentra,

avança e se enraíza.

 

 

 

Impérios definham.

Somos tentados a dizer que foi um sonho,

um sonho dentro do sonho,  

se concebêssemos tal geometria.

Pois também se lavram as águas antigas.

Vede, as águas calmas

são também colhidas.

 

O sonho não é sonho,

a memória não é memória.

 

Há sempre um Deus a redizer a história.

 

   
 
 

 

 

 

 

 

 

20.4.2009