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Fernando Py


 


A poesia existencial de Colares


 


 

O Poeta Majela Colares é atualmente um dos melhores nomes da poesia brasileira. Em todos os seus livros ressalta-se não apenas o cuidado com a escolha vocabular, o acabamento formal dos versos, mas sobretudo uma reflexão acerca do tempo e certa perplexidade ante o destino humano. Já consagrado agora, volta-se para suas origens, digo, para o livro de estréia, reeditando-o com algumas emendas e o acréscimo de novos poemas do mesmo período. Confissão de Dívida e Outros Poemas (Calibán, Rio de Janeiro, 2001) é um volume que, lido hoje, denota já que, desde a estréia, Colares apresentava algumas de suas características atuais, como o cuidado com o aspecto formal do poema as preocupações existenciais do homem e as reflexões sobre o tempo (veja-se, por exemplo, “Contornos do Tempo”, p.59).

Os poemas de Majela mostram, igualmente, um certo pessimismo, de admirar talvez em poeta ainda jovem à época da primeira edição (1993), embora já beirasse os 30 anos. Mas uma pequena carga de pessimismo chega até a ser saudável, ainda mais levando-se em conta que este livro é basicamente confessional. Colares transita entre a confissão explicita, como em “Poema Anônimo” (p.25), e diversos outros que indicavam sua “confissão de dívida” para com poetas maiores do nosso tempo, como por exemplo Manoel Bandeira, no “Sentir Recifense” (p.28), uma espécie de reaproveitamento do poema “Infância” deste, porém num tom mais desolado.

Todavia, esses poemas inaugurais também “confessam as dívidas” do poeta, suas leituras, ou seja, sua formação literária e filosófica bem estruturada que lhe permitiu alçar mais alto vôo nos livros seguintes. Outrossim, a menção explícita ao clássico grego Aristófanes “Um Momento de Aristófanes”, (p.43) e ao grande porta simbolista Cruz e Souza “Pensando Cruz e Souza”, (p.118), indica que sua poesia, já na estréia, adquiria uma expressão pessoal que só fez afirmar-se com o tempo.
Aliás, Majela sempre mostrou muita consciência de seu fazer poético, tendo hoje, com apenas quatro livros publicados, uma postura crítica segura diante da própria obra, a ponto de saber analisar e criticar também os textos que se publicam a respeito de seus livros. É o poeta por excelência, que já gravou seu nome na história da nossa literatura.


*Poeta e crítico literário carioca.


 



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03/10/2006