Gerardo Mello Mourão
 

Invenção do Mar
Ed. Nova Fronteira, 1998
[Prêmio Jabuti 1999] 
 
1. - Wilson Martins - Os Brasilíadas 
2. - Epitáfios 
3. - Canto I 


           Canto Primeiro 
  

  "E se mais mundo houvera, lá chegara".                 
          Camões - Lusíadas - VII - 14          
 
  

1 - 
Ai flores do verde pinho 
ai pinhos da verde rama 
coroado das flores do verde pinho 
eu não quero este mar - eu quero o outro: 

quero o mar das parábolas e elipses 
dos cones helicôneos dos abismos 
o mar sem fim  -  o mar 
com seus heliotrópios suas ninfas 
seus cavalos-marinhos, seus tritões 
e seus lobos do mar: 

e tu, Pater Poseidon, 
com teu tridente em teu palácio de águas. 
E era uma vez Diônisos - poeta e rei * 
e um dia a flor do pinho será tábua 
e um dia a tábua será sonho quando 
o pinho de novo verde sobre as águas verdes 
talhado a enxó 
entre as espumas talhar as ondas: - então 
o mar libidinoso irá lambendo 
as ancas das caravelas redondas. 

Ai flores  
do verde pinho 
ai ramos de Leiria 
ai flor dos linhos do Alentejo. 

E a flor das velas nesse baile 
bailando ao vento cada vez mais longe 
cada vez mais perto - Diônisos - 
dos sonhos que sonhavam 
os olhos de Isabel - 
e um dia os pinhos serão galgos 
e esses galgos do mar irão galgar 
das pupilas do Infante 
a latitude e a longitude das lonjuras 
ao sal da lágrima - ao sal das águas. 
  

E no chão das águas 
ai flores do verde pinho 
ai linhos do branco linho: 
caminhos dançam sobre o chão do abismo 
sobre o chão dançador da esmeralda revolta 
a dança da saudade marinheira  
cantada nas violas: 
ai tábuas que foram verdes 
tão tábuas para fragatas 
tão tábuas para guitarras. 

No mesmo pinho, Luís Vaz, 
cantavam cantos do mar 
das partidas não chegadas 
dos amores desterrados 
pelas várzeas do Alentejo 
de Teresas e Marias. 

E as moças de seios redondos 
de Traz-os-montes, das Beiras de Portugal 
gemiam canções de amor: 
ai flores do verde pinho 
ai pinhos da verde flor: 
  

na flor, na frôl e na fulô de seus aromas. 
  

   
2 - 
Boa noite, Isabel,  
vagam verdes as duas luas de teus olhos 
nesse verde luar ao lírio de teu rosto 
e aos botões de rosa das rosas de teus seios 
sobre os bosques e os mares de Diônisos. 

E as redondilhas de seus versos cresçam 
e o criador de verdes e de versos 
nos cerque de jograis e de segréis. 

Pelas várzeas a flor do trigo a flor 
do linho a flor do decassílabo 
de teu corpo ondulando entre os pinhais. 

Entre a cintura e as ancas e o regaço 
em teu passo de pássara inventavas 
a graça nupcial das caravelas. 

Boa noite, Isabel - e tu, Diônisos 
concede-me a beleza, a voz, a fala 
dessa Isabel, rainha e musa e santa 
e a voz também das musas do arrabalde 
todas as Isabéis de Portugal. 

E vamos, mãos dadas, com rosas e vinhos 
nas ruas do alto, nas ruas da baixa 
às margens do Tejo, à noite, ao luar, 
na rosa do dia, os lenços no ar 
chamar os marujos, cada um por seu nome 
cantando  galope na beira do mar. 

Eles vão eles voltam, talvez nunca mais 
quem sabe da selva das ondas do mar 
partir é partir, voltar é voltar 
mas parte com eles a voz das Marias 
cantando galope na beira do mar. 

Um dia a outro mundo eles hão de chegar 
e o vento e as estrelas vão sempre levar 
canções que de longe, na vida ou na morte 
violas de amor saudosas das serras 
das filhas do Douro num último olhar 
nos lembrem perdidos por outras ribeiras 
cantando galope na beira do mar.  

3 - 
E era uma vez um mar e em seus 
 pergaminhos de esmeralda 
os reis e os pontífices lavraram 
a escritura das ilhas, das antilhas 
dos continentes com seus promontórios e seus vales 
e as ribeiras de rios e outros mares 
nos reinos de talvez 
onde donde por onde para onde - Miguel - * 
não importa chegar - o que importa é partir. 

E o vento e as ondas, 
ventos alísios e ondas alísias 
alisaram a esmeralda da caligrafia 
e era lida nas águas à luz da estrela 
e à luz das velas que tremiam 
nas capelas de ouro dos pontífices 
nos tetos dos reis 
no chão de pedra onde se erguia 
sobre a rosa-dos-ventos rupestre 
o Infante com seu rosto rupestre - 
                                  e ali 
  
as espumas e o vento soletravam 
o diálogo do Príncipe 
com a lonjura do mar e a lonjura do céu. 

E Gil e Dias e Vasco e Pedrálvares e Pero Lopes 
e de seus bagos venho - 
Gonçalo Velho, Diogo Cão e Antônio Cão 
mais a matilha toda dos mastins do mar 
iam riscando mapas, portulanos, 
no mesmo pergaminho de esmeralda onde 
                     jaziam 
escrituras datadas e assinadas 
ao escrivão de Deus Nosso Senhor. 

E brotava a caligrafia dos palimpsestos 
por onde 
era o delírio de Cristóforo 
tu, lobo do mar, tu, cordeiro do mar, tu 
genovês de Portugal e português de Gênova 
português de Castilha a navegar os olhos 
de outra Isabel que te fel 
  

nascer nalguma onda do mar - daquele 
mar oceano de Diônisos e do Infante 
no fim do mar sem fim. 
  

E as sereias os golfins o peixe-galo - ariacó 
o cavalo-marinho o lobo-marinho o leão-marinho 
o peixe-espada o peixe-boi e o salmão e a garoupa e os meros 
e o peixe-gato e os portugueses - naquele tempo 
habitavam o mar dos mares e as sereias das águas. 
  

E os que nascem no mar são portugueses  
e o mar é o chão maior de Portugal. 

4 -               
Ontem os pinhos da terra 
hoje os pinhos do mar 
os pinhos da terra acenam 
das encostas do Alentejo 
do lombo do mar caminham 
pelo lombo do mar 
               esses pinhos do mar 

aonde vão os pinhos plantados nos vales? 

     Do verde dos vales vão 
     os pinhos da verde flor 
     ao verde das águas verdes. 

Aonde irão os pinhos já plantados 
no caminho sem fim das águas verdes? 

E era uma vez um Capitão 
e o vento e as velas 
                 da caravela 
 
  

levavam e levavam 

ao fim da terra e ao fim do mar 
o Capitão do Fim, poeta. 

E o mar sem fim se vai findar ali 
nos olhos do Capitão que miravam 
no verde da pupila e no verde das águas 
o verde fim do Oceano sem fim, 
onde é o fim da terra do sem fim. 

5 - 
Boa noite, Senhora Dona Isabel, 
boa noite, Senhor Diônisos, Poeta e  Rei, 
boa noite, Senhor Infante, 
boa noite, Gil, do Bojador,  
boa noite, boa noite, Gonçalo do Cabo Não, 
boa noite, Capitão Bartolomeu: 
e agora o que era o Cabo Não 
               virou Cabo Talvez 
e o que era Cabo das Tormentas 
é o Cabo da Esperança. 
            
        (e a esperança é boa, cantador? 
         É a Boa Esperança, Senhor Príncipe Perfeito) 
        e por ela, também Vós, Manuel - de Beja - 
        onde gemia de amor e de saudade essa Soror Mariana  
         
        também Vós outro batismo  
        havereis um dia. 
 
 
  

A esquadra - e 
era coisa deveras maravilhosa de se ver - 
              - desde Ceuta - conta Gomes Eannes - 
de manhã parecia uma floresta que houvesse perdido 
                todas as flores e todos os frutos 
e de repente se transforma num vergel de folhas verdes  
                e de flores 
e desse vergel se elevavam cânticos de aves desconhecidas. 
  

6 -  
E aonde vão esses pinhos do mar 
depois do fim das terras e do fim dos mares? 

Navegar navegando 
onde donde por onde alaonde 
é a carta-de-pré dos romeiros do mar 
a carta de marear dos que mareiam 
nos pinhos de Isabel e de Diônisos. 

Ilhas e antilhas e terras novas 
desveladas serão: os mastros 
das velas das caravelas vão 
aos ventos devolver os véus das névoas 
e desvendar as várzeas do horizonte 

e nalgum horizonte 
de cabelos lavados, pele nova 
teu rosto irrompe 
Anfitrite trigueira - Terra em flor - achada flor 
concha aberta entre as conchas erguida 

Yara de ouro estremecida ao cio 
do mar dos marinheiros desatados 
do mastro de Odisseu:  

e ao canto da sereia não morreram 
Diogo e Vasco e tu, Bartolomeu, e tu 
Cristóforo e tu, Pedro, e tu Fernão 
e nascemos vagindo na vagina das ilhas 
e aquém e além do Equador 
não se morre de amor e só de amor se morre 
e os filhos do perigo são os filhos 
do princípio do mundo e do fim do mundo 
e eram seus pais os capitães do fim, Fernando,*  
                           capitães 
                           do sem fim. 

7 -   
Naquele tempo - tempo de aurora 
fazíamos perguntas às estrelas e as estrelas 
perguntavam às velas 
                 das insensatas caravelas: 

        "que ventos quereis levar? 
         quereis os ventos da terra 
         ou quereis ventos do mar"? 

          - Só os ventos, Pedrálvares, os ventos 
            de navegar  -  pois, 
            navegar navegando é nosso fado e nosso cio. 
 
  

8 - 
E os cavaleiros do mar galopam as águas 
no sertão do mar 
e as mãos salgadas dos marinheiros 
seguram dia e noite  
                           e aos quartos d'alva 
a rédea das espumas 
e navegam o espaço  - 
                           para onde? 
e navegam o tempo  -  
                           para quando? 
e navegam a espuma -  
                           para que? 

E em seu ofício 
                     de navegar navegando - Girola - * 
buscam no dia a noite e na noite a aurora 
e os olhos de Vasco e Pedro e Manuel 
e de outros que ninguém celebra 
e ficaram escritos só nas águas: 
um Antônio do Tejo ou do Alentejo, 
um Brás da Beira (Alta ou Baixa) 

um Mourão dos lados de Évora 
um Sampaio de Montemor, um Mello, das terras altas, 
um Ribeiro, do Concelho da Regalada, um Sebastião,  
                                         do Minho, 
um Barros, um Soares de Trás-os-montes 
um Afonso, um Oliveira, um Joaquim,   
de qualquer ribeira de Portugal 
com olhos tão enxergadores como os dos grandes capitães 
espiavam as estrelas, liam as constelações, a bússola,  
                                          o astrolábio 
e contavam a sombra das cifras no sextante 
e por eles 
os pinhos e as velas tecidas do linho das campinas 
por umas Isabéis, alguma Inês de olhos redondos 
iam cumprindo o mar sem  outro quefazer senão 
navegar navegando. 

Nas espumas do mar só eu leio agora 
seus nomes esquecidos   
e celebro seus nomes marinheiros. 
  

Caçavam a aventura e não caçavam nada e caçavam tudo 
no sertão do mar 
e então o mar era sertão e o sertão era mar: 
iam em busca apenas de uma rima e de uma oitava rima 
a rima rúnica dos papiros e a rima rupestre que rimasse, 
                  Infante, 
com a rima de pedra de teu promontório. 

Sonhava Henrique a rima de rimar o mundo 

                - e assim 

nesse Patmos do Algarve descobrimos: 
no princípio era a rima e a rima era diante do mundo 
e o mundo era a rima e o poema estava na rima 
              e descobrimos as rimas e 
escrivão e 
cartógrafo sou de rimas no papel do Egito 
no papiro augusto 
no papel das ovelhas da serra. 

9 - 
Nos pergaminhos nos palimpsestos 
riscamos o Equador e os trópicos 
e os meridianos e as linhas  imaginárias e as reais 
riscamos  paralelos colorimos iluminuras de rimas: 
                 - e assim 
desenhamos os mapas: 
                 - e assim 
se compunha o mapa-mundi 
e a terra e o mar e as ilhas e as antilhas 
norte e sul e leste e oeste 
escandiam o verso a estrofe o poema do mundo. 

E cem mil marinheiros pereceram 
nas profundas do mar nas entranhas dos peixes 
por uma rima. 

E de rimas se fêz 
a flor marinha dos continentes quando, Luís, 
por dilatar a fé e o império dilatou-se 
a poesia do mundo: 

e o sonho ia se erguendo sobre as águas e o sonho 
era a ilha mais formosa e era  
o continente maior do poema do mundo - 
                                   
                   pois, 
                            
Agostinho, positum, compositum 
a quatro mãos com Deus - os marinheiros 
de Diônisos, de Henrique, o Infante, e de Manuel, 
o Venturoso - compuseras 
entre céu e oceanos 
o teu carmen pulcherrimum. 
                      
E estrelas novas saltaram no firmamento 
dos tercetos do Dante enquanto rimas 
saltavam nas eiras nas beiras nasjeiras 
do mundo de Diônisos. 

E Gil Eanes e Gonçalo Velho e Bartolomeu 
ensinavam Vasco a soletrar o mar e a terra 
de Bojador a Cananor 
e verdes - olha o marzão de Cabo Verde, Vera poeta,  - 
onde começavam as rimas do Império: 

Meliapor e Timor e Cranganor e Mangalor 
e de todos os nomes, pequeno poeta dos piratas ingleses, 
Macassar, Manaar e Manapar, 
Madagascar e Visnagar e Malabar e Zanzibar 
com as rimas de todas as vogais 
em ara e era e ira e ora e ura 
de Guanabara e Jericoacoara e Pajuçara 
a Singapura e Baramura 
ali chegavam as caravelas de Cristo 
velas de linho fiadas na Beira 
e brasão da cruz encarnada 
bordada em Leiria pelas mãos 
das Marianas e Joanas e Marias do Céu.  

E assim se achava o mundo inteiro 
suas vogais e suas sílabas, 
de Uganda a Luanda, por Banda e Sarabanda 
e Mombaça e Bokaça 
e Camorim e Camocim 
e Cochim e Bombaím e Costa do Marfim 
e Benim  e Baçaim e Mearim por onde 
iam rimando a terra os menestréis do mar 

e os cartógrafos em Gênova em Veneza 
e os Waldseemueller e os Gerardos Mercator 
e os que desenhavam mapas flamengos 
                  para flibusteiros 
iam pintando a flauta e o mote das rimas que inventamos: 
Japão, Nagapatão e Maranhão e Hindustão  
Goiás e Paravás e Badegás 
e Sião e Cantão e Jaguarão 
e Diú e Iguatu e Xingu e Pegu e Paracatu e Curuzu 
e Ormuz e Queluz 
e Ubatuba e Caraguatatuba 
e as fronteiras dos continentes rimavam 
nas Áfricas, nas Índias, nas décadas da Ásia 
nas Europas e naquela quarta parte nova 
arada por marinheiros: 
e se mais mundo houvera mais rimas lá rimaram. 

Pois de Purus a Pacajus a Crateús 
e Cochabamba e Riobamba - Godo - * 
e eram no Chile com João Fernandes 
contemplando os Andes: 

e de Ipueiras a Cajazeiras,  
na prima e no bordão 
as geografias ressoavam 
Pará e Paraná, Ceará e Sabará e Socotorá e Cuiabá, 
Gravatá e Bogotá e Areguá e Panamá - Edi Simons - * 
Tarapacá e Curuçá e a ilha de Maçuá. 

As velas pediam ventos  
as violas pediam rimas 
e assim fundamos a cantiga das serras, das planuras, 
com rimas em al e ol - do Senegal ao Grão Mogol 
em el, em il em ul - Coromandel, Tamboril e Seul e Chaúl 
e Pinamar, Raul, 
partidos de Formosa. E assim, 
de Maragogi a Pacotí  ao Piauí Aracati e Cacequi 
e ao Havaí e trouxemos dali o cavaquinho ukelelê 
de quatro cordas - e os violeiros dedilhavam o mundo 
de Jaceguai e Shangai ao Paraguai e Villaguai - Efraín  - *  
                  a glosa tua - 
e era nosso o mundo 
de Angola a Carangola a Bissau e Macau 
e a China e a Cochinchina e a Costa da Mina 
e a Guiné e o Pindaré e Bornéu e Chinchéu e Birabéu 

e os Congos e os Sorongos e a Serra Leôa e Água Boa 
e de Lisboa e Madragôa a Quilôa e Gôa e praias de     
                                       Alagoas,  
Iguaba, Ibiapaba 
Jaçanã e Tupaceretã 
Sachima e Kangashima e Iroshima 
e cantando achamos 
o Pau de Pernambuco e o Pau de Calambuco 
Piancó, Cabrobó, Copiapó e Marajó, 
Inhamuns e Garanhuns: 
do Golfo de Tomkin à côrte de Pequim, 
de Guarabira a Cashimira 
do Tibet a Jafet, de Manila a Bashinila 
bailávamos a bordo  
de um galeão e de uma rima 
e de um aroma e de um sabor. 
     
E de Almofala a Sofala e Karputala e a Costa do Ouro 
e o Zaire e o Niger nesses versos de pedra de Ielala 
da Nigéria, Sumatra, Java, a Indonésia e a Polinésia 
até as terras sem fim 
do Samorim 

regadas a sangue e vinho, José Francisco, 
de Damão a Coração 
(que os gringos dizem Curaçáu) 
e levávamos a cânfora e a canela 
e o marfim e a pimenta malagueta e a noz-moscada 
e o bálsamo e o açafrão  
dos jardins de Coulão  
o veludo, a seda e o gengibre e o ananás e o chá 
e o ouro das Gerais e a porcelana 
e o cravo e o café e o mel-de-cana, o pau-de-tinta 
de Pernambuco e as araras vermelhas 
e os papagaios verdes e a rima , sempre a rima 
a oitava rima sobre a qual, Luís, * 
estamos navegando cinco séculos. 

E a frota carrega os marinheiros vivos e os mortos 
e num barco no Estreito de Ceilão 
navega o cadáver vivo de Francisco Xavier 
por Molucas e Malacas  
nas navegações do mar e nas navegações da terra, 
das praias da Páscoa Florida às Califórnias de Ouro 
das Mesopotâmias do Prata às Bolívias de prata 

do Ceilão ao Paquistão, Mantiqueiras, Borboremas 
de Katai a Hokusai e Cipango e Calicut, 
e Beldroega e Adis-Abeba, 
e de Mooca a Meruoca e Ayuruoca, Dantas, 
e os rios, o São Francisco, o Mississipi, 
o Prata, o Ganges, o Amarelo, o Amazonas 
o Amazonas, o Amazonas, 
a volta ao Gênese - ao diluvium aquarum -- 
e o Beberibe e o Capiberibe 
e o Paraíba e o Parnaíba e suas barras 
as barras verdes do mar, dos mares do mar 
terras nossas e águas nossas 
navegantes de três raças destinadas a 
navegar navegando. 

       E assim, no ventre 
       das mulheres de todas as ilhas 
       de todas as praias foi plantado o sêmen 
       dos machos de Portugal. 
 
 
  

O teu, Homero, era o catálogo das naus: 
três mil violas eram poucas para cantar 
saudades de Portugal 
e tuas naus, Diônisos - e tuas naus, Infante, 
não cabem num catálogo. 

Este é o catálogo das rimas 
poucas para rimar as terras a que chegamos, 
em todas fincadas no alto  
dos Himalaias, das Ibiapabas, das Ibiturunas 
as bandeiras das quinas e da Cruz 
belas como as mãos das bordadeiras de Alcobaça  
                                   que as bordaram 
para Diônisos e Vasco e Dias e Pedrálvares e os outros 
e para Manuel, por isto o Venturoso. 



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