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Iza Calbo


 


Carta de despedida

 



Meu amado,

 

Amar é mudar a alma de casa, como disse Mário Quintana. É, como disse você, virar uma criança. Perder o senso. Quando lembro que você está indo - talvez porque a minha alma esteja com você -, uma sensação estranha percorre o meu corpo vazio de mim mesma. Tenho a impressão de que nunca mais vamos nos ver. É uma quase morte. E dói.

Quase não dormi esta noite. Tive tanta vontade de voltar atrás. Parar o tempo. Ter-te nos braços. Sinto tanto a sua falta. Mas você não vê ou finge que não. Chega de escrever coisas lindas. Eu quero viver coisas lindas. Orgasmar. Te sentir como onda que vai e vem entre as minhas coxas. Parece impossível.

Nem lembro mais o gosto do teu beijo, o cheiro do teu abraço...Você está longe. Como se não me amasse. Como se nunca tivesse me amado. Apenas tivesse me enchido da ilusão do que seria ser amada por você.

É. Dizem que tudo passa... Dizem tanta coisa. Como falar de carvão e diamante e esquecer de olhar para o amor estacionado ao lado, pleno e intocado como uma virgem que cai no abismo. Acho que as coisas poderiam ser de outra maneira, mas te perdi. Para sempre.

Quando o avião cruzar o céu tudo parecerá nada. Vai restar a saudade, porque me conheço e, no resto do resto, um imenso vazio. As estrelas, claro, vão estar no céu. O teu peito cheio de ar. Enfim... isso é a vida. Crua. Sem cheiro. Mera sensação do oposto do que é a morte. E a minha alma, morando em você, vai virar eco do amor que tive. Porque, um dia, ao vento de Amaralina, me permiti ser mulher. Beijos. Dorme tranqüilo que eu fico a guardar a insônia para não te esquecer.


 

 

 


 

04/07/2006