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Iza Calbo

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Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904) - Phryne before the Areopagus

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poesia:


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  • Bio-bibliografia

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Ruth, by Francesco Hayez

 

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Winterhalter Franz Xavier, Alemanha, Florinda

 

 

 

 

 

Iza Calbo


 

Catar palavras


Catar palavras
tentar achar o lugar certo de encaixá-las
fazê-las parecidas com o sol
ou simplesmente seduzidas pela lua.
A poesia é isso.
A árdua tarefa de juntar
o que não faz sentido...
como a vida que a gente pensa que leva,
mas leva a gente.
Só isso.
Se hoje sou triste,
pouco importa.
Daqui a pouco,
sento-me diante da máquina
e vou tecendo alegrias inventadas.
Se estou insone,
coloco um filme longo e chato
e logo transformo a fita numa canção de ninar.
No mais,
nada.
Uma saudade, talvez,
que vem de longe,
que encolhe dentro de mim e,
sem que eu possa fazer nada,
ecoa pela casa.
Poetas, poetas...
são almas penadas
neste mundo repleto de Cidades de Deus,
de comícios,
farpas.
São os olhos cegos do amor que perdemos na esquina,
a dura e intrigante abnegação de si mesmo.
O resto é pó.
Pó de palavras queimadas
pela falta de ouvidos e assuntos,
pó de móvel esquecido de limpar
e eu nada sei sobre poemas e poesias,
apenas costuro letras como se tocasse uma canção inaudível.


16/09/2002

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Riviere Briton, 1840-1920, UK, Una e o leão

 

 

 

 

 

Iza Calbo


 

O Homem


Não me lembro da cor dos teus olhos,
Mas acho que era clara
Como nas manhãs em que não acordo.
Toquei o teu corpo como há muito não faço.
Caminhamos em praias quase desertas
E comemos frutos vermelhos e gigantes
Como os teus beijos.
Passamos dois dias entre mãos e pernas dadas
E, como acontece nos sonhos, acordei.
Não foi um acordar comum,
Daqueles de espreguiçar a alma.
Foi um despertar com jeito, cor e sabor de saudade.
Então, voltei à cama na esperança de reencontrar-te.
Mas não.
Havia acabado.
Nem um telefonema
Nem um contato,
Apenas a certeza de que uma fresta de esperança
Há de, algum dia,
Cruzar a janela.
E, sozinhos e apaixonados,
Nos deitaremos de novo no chão da casa vazia sem pensar em nada.


01/03/2003

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Iza Calbo


 

Película inacabada


Vejo o cinema ressurgir,
Novo como o teu riso
Que mistura cactos e flor.
Vejo a pétala do imprevisto
Decorar o caminho que traçamos
Até o sol...
Sol de Canudos.
Sol de nós mesmos.
Vejo todas as cores desta película
Percorrendo a vida que tentamos desenhar.
Há um conselheiro e há o desejo de acertar.
Somos cactos em flor
Guiando estrelas que desconhecemos
Estrelas que, cadentes, pensamos perder.
Somos um sol de esteio
Onde o vento é só uma trilha
Que brilha no imenso em nós.
E, graças aos sóis,
Não estamos sós.


23/11/1999 (Em homenagem a Canudos e tudo o mais)

 

 

 


 

 

04/07/2006