Jorge Luís
Borges
INSTANTES,
[que não é de Borges]:
[quem é autor?]
"Se eu pudesse novamente viver a minha vida,
na próxima trataria de cometer mais erros.
Não tentaria ser tão perfeito,
relaxaria mais, seria mais tolo do que tenho sido.
Na verdade, bem poucas coisas levaria a sério.
Seria menos higiênico. Correria mais riscos,
viajaria mais, contemplaria mais entardeceres,
subiria mais montanhas, nadaria mais rios.
Iria a mais lugares onde nunca fui,
tomaria mais sorvetes e menos lentilha,
teria mais problemas reais e menos problemas imaginários.
Eu fui uma dessas pessoas que viveu sensata
e profundamente cada minuto de sua vida;
claro que tive momentos de alegria.
Mas se eu pudesse voltar a viver trataria somente
de ter bons momentos.
Porque se não sabem, disso é feita a vida, só de
momentos;
não percam o agora.
Eu era um daqueles que nunca ia
a parte alguma sem um termômetro,
uma bolsa de água quente, um guarda-chuva e um pára-quedas
e,
se voltasse a viver, viajaria mais leve.
Se eu pudesse voltar a viver,
começaria a andar descalço no começo da primavera
e continuaria assim até o fim do outono.
Daria mais voltas na minha rua,
contemplaria mais amanheceres e brincaria com mais crianças,
se tivesse outra vez uma vida pela frente.
Mas, já viram, tenho 85 anos e estou morrendo"
Remetido por
Fernando Tucori <tucori@sti.com.br>
Leia mais sobre o tema
De José Nêumanne Pinto:
De qualquer maneira, essas parcerias beirando o apócrifo produziram
um folclore digno de nota. Há algum tempo, circulou quase clandestinamente
no Brasil um poema chamado Instantes, que lhe era atribuído. A autoria
não resistiria a uma análise crítica criteriosa, mas
seu nome foi associado à peça literária sem valor
nenhum e ganhou o tom de mensagem de amor à vida. Ninguém
em pleno domínio das faculdades mentais imaginaria que o mestre
fosse capaz de versos cafonas como: “Se pudesse voltar a viver / começaria
a andar descalco no começo da primavera”. Talvez o próprio
Borges risse, se recebesse um cartão de Natal com o pobre poema
que algum anônimo associou a seu nome, então já uma
grife.
Edmilson Caminha Jr, num trabalho sobre esses erros de atribuição
inexata, fala de Instantes e fala também de "Ter Namorada" atribuído
a Drummond, que é de Artur da Távola. Mandaram-me o Namorada,
um dia destes, mas não estou localizando agora. O trabalho do Edmilson
Caminha está muito bem feito, bota mais luz sobre ambos os enganos.
Vou ver se consigo um contacto com ele, via Lustosa da Costa. Edmilson
parece que não está internetado. Aguardem
Soares Feitosa
Assunto:
INSTANTES
Data:
Thu, 1 Jan 1998 02:19:54
-0400
De:
"Marcia Tunholi" <tunholi@pla.net.py>
Para:
<jpoesia@secrel.com.br>
Nunca imaginei que fosse merecedora desse IMENSO presente. Moro en Asunción(Py),
mas sou brasileira, adoro poesias apesar de ñ entender muito. Ñ
sei, apesar de ñ entender eu SINTO. Voces ñ podem imaginar
minha felicidade ao descobrir este site, como lhes disse antes, é
um tremendo presente.
Bem, todos sabemos que a poesia Instantes ñ é de Borges,
inclusive há algum tempo, saiu uma reportagem na revista Cláudia
falando exatamente sobre isso, que a "autora" é uma mulher e inclusive
disseram o nome. Enfim, guardei a revista porque achei super importante,
haja vista que todos a atribuem à Borges. Quando se conversa sobre
esse assunto eu sempre digo que a poesia ñ é dele e sim de
uma mulher, só que ñ encontro a revista e esqueci o seu nome.
Afinal, quem é?
Uma vez mais, parabéns pelo site, privilegiados somos os que
já o descobrimos. Estou esperando a resposta ansiosamente.
Muitíssimo obrigada,
Márcia Tunholi
Elizabeth Lorenzotti <elorenzo@estado.com.br>
Para:
jpoesia@secrel.com.br
Desvendado o enigma. Esta
matéria saiu no jornal espanhol El Pais, de
10/5/99. A autora da poesia
é uma senhora americana, Nadine Stair.
Quem está brava é
a Maria Kodama, mas acho que brava demasiado.
Afinal, essa poesia rodou
o mundo, de repente. Eu fiquei procurando nas
obras completas de Borges
e nunca encontrei.
Se ela rodou o mundo, é
porque alguma função há de ter. E a poesia, como diz
Anónio Scarmeta (O carteiro e o poeta) é para quem precisa
dela.
Um abraço
Elizabeth
"El poema que Borges nunca
escribió
Una poetisa norteamericana
es la autora de unos versos
falsamente atribuidos al
insigne argentino
FRANCISCO PEREGIL, Madrid
El siguiente poema ha sido
inscrito hasta en camisetas y tazas de
porcelana; algunos lectores
de Jorge Luis Borges, como Alfonso Guerra, ex vicepresidente del Gobierno,
lo han reproducido en su última felicitación navideña,
aunque se cubrió las espaldas sobre la autoría del mismo
atribuyéndoselo a un "anónimo borgiano". E incluso un anuncio
de una compañía de seguros que se ve estos días en
televisión parafrasea su comienzo:
"Si pudiera vivir nuevamente
mi vida,
en la próxima trataría
de cometer más errores.
No intentaría ser
tan perfecto, me relajaría más.
Sería más
tonto de lo que he sido;
de hecho tomaría
muy pocas cosas con seriedad.
Correría más
riesgos, haría más viajes,
contemplaría más
atardeceres,
subiría más
montañas,
nadaría más
ríos.
Iría a más
lugares a donde nunca he ido,
comería más
helados y más habas,
tendría más
problemas reales y menos imaginarios
(...)".
Pero también el anuncio
en cuestión omite referirse al autor, que, según
la creencia de la calle,
sería Borges. Craso error, porque la verdadera
autora del apócrifo
es una desconocida poetisa norteamericana llamada
Nadine Stair, que lo publicó
en 1978, ocho años antes de que Borges muriera, en Ginebra, a los
86 años.
La bola de nieve había
comenzado a rodar en 1983. Aquel año, el escritor
de best sellers Leo Buscaglia
reproduce el citado poema en su libro Living,
loving & learning. Se
lo atribuía a un hombre que sabía que iba a morir.
En 1986, el estadounidense
Harold Kushner, autor de libros como ¿Quién
necesita a Dios?, publica
Cuando nada te basta, cómo dar sentido a tu
vida, libro de la editorial
Emecé en cuya página 162 se lee: "Recuerdo
haber leído un reportaje
sobre una mujer de los montes de Kentucky, en
el cual se le pedía
que pasara revista a su vida y reflexionara sobre
todo lo que había
aprendido. Con el típico toque de nostalgia que tiñe
toda evolución del
pasado, la anciana respondió: 'Si pudiera vivir
nuevamente mi vida (...)
He sido de esas que nunca iban a ninguna parte
sin un termómetro,
una bolsa de agua caliente, un paraguas y un
paracaídas".
Después de muerto
Borges, la revista argentina Uno Mismo, especializada
en psicología, publicó
el poema bajo el título Instantes y se lo atribuyó
al poeta argentino. María
Kodama, viuda del escritor, consiguió que Uno
Mismo rectificara y que
el Ministerio de Cultura y Educación publicara
una gacetilla donde se aclarase
quién fue la autora del poema. Pero en eso tardó ocho años.
Nadie sabía al principio
de dónde procedían aquellas palabras. "Tardé
demasiado tiempo en descubrir
que ese poema fue publicado
originariamente en inglés",
afirma Kodama. Cuando consiguió reparar el
entuerto, el poema se había
expandido a base de fotocopias por los
institutos y universidades
de medio mundo.
El año pasado, en
la librería de Alfonso Guerra en Sevilla, una mujer
próxima al ex vicepresidente
le confesó a María Kodama su admiración por
esos versos, su identificación
con el contenido. A lo cual, Kodama
contestó: "Si Borges
hubiera escrito eso yo habría dejado de estar
enamorada de él en
ese momento".
"El poema, sin ningún
valor literario", ha escrito Kodama, "desvirtúa el
mensaje de la obra de Borges.
Amparándose en una firma famosa, se
intenta transmitir un sentido
de la vida completamente materialista, sin
ninguna busca de perfección
espiritual ni inquietud intelectual".
Mais poemas de Borges
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