Jornal de Poesia

 

 

 

 

 

 

José do Vale Pinheiro Feitosa


 

Duelo ao pôr do sol
Mais uma aventura de João de Barros
 

 

ARGUMENTO

PARTE 1

A Desfeita

Tomada 1

Kirk Douglas faz uma careta de dor.
Lento, caindo no chão poeirento.
Final da rua.
Currais.

No horizonte, também,
Vai se pondo
O sol.

Na tela a frase:

 

THE END

Tomada 2
 

I

As luzes se acendem e a platéia começa a sair.

O lanterninha do Cine Cassino fecha a grade de saída tão logo o último espectador sai e volta para apagar as luzes da sala de projeção.

II

Está lá.

Com o chapéu na cabeça, um cowboy fumando um cigarro.

III

O coração do lanterninha dispara com a visagem que saiu da tela para o mundo de fato.

De repente falta chão sob os pés da realidade do rapaz.

Volta correndo e se depara com a grade de saída que ele mesmo havia fechado. Se desespera de medo e não consegue reabrir o cadeado. Quase correndo retorna novamente para a sala de projeção.

IV

Mais uma vez.

O cowboy.

Permanece sentado de costas, na antepenúltima fila do cinema, com a fumaça do cigarro subindo lentamente.

V

O lanterninha desesperado de medo.

Nunca imaginaria que a ficção poderia se meter na sua rotina de autoridade da sala de projeção.

Ele que tem o poder de expulsar o espectador bagunceiro, se treme de medo, contrastando com o sangue frio do cowboy.

Impassível, ao espaço e ao tempo, ocupa tranqüilamente a cena que deveria ser protagonizada pelo empregado do cinema.
 

Tomada 3
 

I

O rapaz sobe as escadas que dão acesso à sala de projeção em lances de dois e três degraus.

Entra de sopetão na cabine e esbarra em seu Antônio, o projetista. Agachado, de cabeça baixa, guarda os rolos de filme nas suas respectivas latas.

II

Seu Antônio dá um grito de susto com a entrada intempestiva do rapaz que invade a cabine com a sutileza de um furacão do Caribe.

- Qui é qui é isto rapaz? Tu endoidou?

- É o homi seu Ton-im!

III

Seu Antônio, já de pé, bate com o pé direito no chão e esmurrando o ar com os dois braços, grita:

- Qui homi macho?

- O homi da tela!

- Qui homi?

- O cóboi do filme.

- Qui homi? Qui históra é esta?

- O artista... O qui morreu no final do filme...

IV

Fazendo uma careta de dor das besteiras do Lanterninha, pergunta com ar de incompreensão:

- Quem?

- O homi seu Ton-im! Este do filme.

- Explica dereito esta históra, macho!

- O cóboi do filme tá aí...
 

V

O projetista dá um passo para trás, esbarra nas latas de filme com o cenho franzido e expressão de raiva, pergunta:

- O quê?

- O do filme! Tá sentado lá nas cadeiras...

- Onde?

- Nas cadeiras.. Venha vê!

VI

O lanterninha chama o projetista até o buraco da cabine e aponta para o salão.

Seu Antônio fica um minuto parado, olhando o cowboy solitário que continua de costas, virado para a tela de projeção, fumando um cigarro atrás do outro. O projetista coça a cabeça, pensa mais um pouco e resolve tomar uma iniciativa.

Afinal os dois tinham que fechar o cinema e irem para casa dormir. Aquela era a última sessão e já eram quase 23 horas.
 

Tomada 4
 

I

O especialista em fitas de cinema e máquinas de projetar ilusões, pega uma trave de madeira da porta real, chama o lanterninha e, ambos, se dirigem para a sala de projeção.

O condutor da excursão de reconhecimento vai avançando no terreno devagar. Passo pós passo, os dois escondendo o barulho, seu Antônio na frente e o lanterninha colado às suas costas, procurando ocultar-se do perigo à frente.

II

O cowboy parece ter um corpo forte, fuma lentamente, não se mexe ou faz qualquer barulho.

Seu Antônio aumenta os cuidados, os Cowboys têm olhos nas costas. Tem medo que de repente, ele se vire com a arma cuspindo chumbo grosso.

Os minutos parecem eternidade. De vez em quando, seu Antônio, dá uma cotovelada no lanterninha que nervosamente se coça de medo, fazendo barulho.

III

Já estão a cinco filas do cowboy.

Eles redobram o silêncio, procurando inventar um estado de coisas além da ausência total de sons. Mas é impossível, a respiração nervosa do lanterninha, lhe parece um fole de ferreiro. Mais uma cotovelada e mais dois passos a frente.

Agora na quarta fila.

Logo mais vão encarar o cowboy.

IV

Temem que surja, como num filme de terror, o rosto enganador da morte. Seus corações se agitam num mesmo ritmo e o sangue do rosto ferve de emoção. As pernas de seu Antônio tremem tanto, que chega a balançar o lanterninha, logo ali de junto dele. Dão mais um sofrido passo.

V

Foi o desastre.

O mundo explodiu.

Os dois caíram berrando, pedindo clemência, gritando, histericamente, por socorro. Se arrastam para trás das cadeiras, procurando se esconder da fúria assassina do pistoleiro. Seu Antônio, de quatro, tinha dificuldade de se locomover, o reumatismo havia lhe atacado. Não teve jeito, o lanterninha passou por cima dele, lhe dando chutes, lhe atropelando e saindo feito a besta fera na direção da porta do cinema.
 

Tomada 5
 

I

Espere aí, volte a cena mais um pouquinho. Focalize o cowboy. Dê-lhe um close. Quem verás? João de Barros, fumando seu cigarro, profundamente impressionado com o que viu.

Duelo ao Pôr do Sol, o melhor cowboy que jamais assistira igual.

Se esquecera de ir prá casa, sair do cinema. Para ele, o filme continua ali na tela branca. Estava envolto na sua última fantasia. Voava o pensamento longe, sem perceber a coceira no nariz que lhe faz soltar um grande espirro, e desencadeia a cena dos dois funcionários do cinema que acabamos de ver.

II

Atrás de si, gritos e correria.

João dá um salto para frente e se volta para saber o que está acontecendo. Vê o projetista atropelado pelo lanterninha que sai correndo pedindo socorro. João presencia aquela cena de pastelão sem entender nada.

III

Para melhor se localizar, João grita para o projetista:

- Qui diacho tá haveno seu Ontoim?

- Pelo amor de Deus visagem, eu tenho família prá criar. - Responde, agoniado, o projetista.

- Deixe de bestêra homi, eu sô gente de carne e osso. - João de Barros põe as mãos na cintura e grita de volta para a súplica do projetista.

- Vai tirar minha pele e o osso? Pelo amor de Deus, respeite a vontade divina de ”Não Matarás”. - Seu Antônio de quatro, com ambos os braços protegendo a cabeça, se engana com as palavras do pistoleiro.

- Deixe de frescura e se alevante. - João de Barros falou.

- Eu estou de joelhos pedindo clemência. Sou um homem humilde aos seus pés. Num atire nim mim. - Seu Antônio parecia um muçulmano fazendo as orações das seis horas.
 

III

- Oxém, eu num tem-in neim revorver. - João abaixou-se um pouco para ver se encarava o homem por baixo das cadeiras de cinema.

- Como? Nem revólver? - João viu a região occipital da cabeça do projetista se levantando em sinal de mudança de humor.

- Eu sô João de Barro e toda vez qui tem filme bom eu tô aqui no Cassino e o sin-ô tá é véi de tanto mim vê.
 

Tomada 6
 

I

Seu Antônio, que já havia começado a perceber o ridículo da situação em que se encontrava, levanta-se furioso.

As pernas ainda um molambo, mas a raiva de ter passado tanto medo faz sua boca, que mais parece uma cratera de vulcão em atividade, soltar larvas incandescentes de palavrões. O mais social deles é : Fio de Rapariga dos Pentelhos Niquelado.

II

O homem sai fulo da vida e apanha a trave de madeira que havia caído no corredor formado entre as filas das cadeiras.

Ao pegar na arma, vem para cima de João de Barros, que dá um salto para trás e tenta acalmar a fúria assassina do medroso.

- Calma macho, eu num tive curpa de ispirrá não. Eu lá sabia qui o sin-ô tava perto d’eu?

- E que diabo tu tava fazendo aqui? O filme já se acabou e todo mundo já foi embora. - Seu Antônio brande a arma com vigor ameaçador para o aventureiro, que retruca:

III

- Eu tava só fumano meu cigarrim.

- Que cigarro que nada! Você tava era há munto do tempo aí parado...- Seu Antônio já conseguia manter-se mais calmo e João argumentando.

- Adescurpi seu Ontoin. Eu só fiquei maginano se o revorver de Quirqui Drôgra tivesse bala. Eu acho qui ele ganhava o duelo deste tal de Roqui Rudi. - Seu Antônio compreendia o delírio ficcional do rapaz e criticou:

- Deixe de ser abestado e num venha matar os outros de susto.
 

Tomada 7
 

I

Nisto umas vinte pessoas vão entrando, com cuidado, na sala de projeção. Alguns avançando em etapas atrás das colunas do prédio, outros se abaixando atrás das cadeiras. Eram noctívagos que ainda restavam na praça Siqueira Campos, que correram para acudir o lanterninha.

Quando um deles vê João e seu Antônio discutindo, interpreta a situação para todos, ouve-se uma tremenda gargalhada.
 

II

Antes que houvesse maior explicação, imediatamente começa a gozação em cima do lanterninha e seu Antônio.

Com aquele povo todo, João escapou de sair com o quengo rachado com a acha de madeira que seu Antônio lhe apontava.

III

O lanterninha estava humilhado e ainda levou uma bronca de seu Antônio.

Foi para casa, no alto do seminário ainda abalado com o ridículo a que se sujeitara. Custou a dormir e acordou com sede de vingança. Procurou sua turma de bairro e prepararam a desfeita para o nosso aventureiro.
 

PARTE 2
 

A Vingança do Lanterninha e o Desafio de João
 

Tomada 1
 

I

No final de semana seguinte, no dia de sábado, João foi até o seminário levar uma encomenda para o Padre Rocha.

Entregou-a na portaria do seminário e ficou parado nos batentes da escadaria da frente, admirando a vista das cidades, todas iluminadas: Crato, Juazeiro do Norte e lá, no fundo, Barbalha e Caririaçu, no alto da serra de São Pedro.

II

João se absorvia na paisagem e, enquanto isso, um grupo de rapazes se aproxima dele. Um deles discute com outro.

- Você só tá com esta valentia toda porque tá com um pedaço de pau na mão.

- Eu sou macho e num preciso de pau para ti dar uma surra...

- Então entregue o pau para este rapaz aí...- Diz apontando para João.

III

João que gosta de vê uma boa briga logo se apressa a satisfazer os contendores.

Agarra bem no meio do pau e nem teve tempo de ver que ele carregava merda do começo ao fim. Foi só o rapaz puxar para que ele corresse pela sua mão fechada soltando o grosso do que possuía. Ficou com a mão toda cagada e ainda teve que agüentar a gaitada e a gozação generalizada dos rapazes.
 

Tomada 2
 

I

No meio deles, o lanterninha era o líder da mangofa.

Estava contente com a vingança e tão entusiasmado que resolveu insultar João de Barros.

- E agora seu Baitola, num quer bancar o cowboy pru lado de nós não?

- Eu só brigo cum homi de verdade. Num dô cartaz prá frouxo qui ina ortro dia se iscundia dibaixo das asa de seu Ontoin. Seu frangote! - Respondeu João, lentamente, enquanto limpava as mãos nas quinas da calçada. O lanterninha, escudado pelos pareceiros, provocou:

- Se tu é homi cai dentro!

- Diz isto pru modi de qui tá no mei dos teu pareceiro. Quero vê nós dois sozim. - João respondeu com firmeza.

- Sou homi em qualquer lugar e só não lhe dou uma pisa para não parecer que quero aproveitar dos meus companheiros. - O lanterninha, com uma nesga de covardia, respondia a João.

II

João, levantou a aba do chapéu, olhou desafiadoramente para o laterninha e convocou:
 

- Eu desafio você prum duelo, sexta fêra qui vem, dia 13 de agosto, às cinco horas e meia da tarde, lá no leito seco do rio batateira. Tudo na frente de todo mundo.

III

O lanterninha, inchado com a presença dos amigos e para não parecer tão covarde, sugeriu:

- Que seja ao Pôr do Sol, eu vou está lá, mas não acredito que você esteja, pois ainda vai tá cum a mão fedendo a bosta.

- E tu cum as perna bamba de medo, cuma acunteceu naquele dia no Cassino. - João não perdia a oportunidade de lembrar as agruras do lanterninha.

- Nunca tremi na minha vida. Nem cum febre eu tremo seu mentiroso - O lanterninha não queria ficar por baixo das provocações de João.

- Todo mundo na praça Siqueira Campo viu. Nun se isqueça disto seu caba frouxo. Tu chamô teus pareceiro pru modi de que só fartô se cagá de medo pru uma bestêra de nada. Foi pru modi de quê cagaram este pau e botarum na mim-a mão. - João falou calmamente, em voz de meio tom, pisando no orgulho do lanterninha que em seguida falou com raiva.

- Para você botar a mão na merda, num precisa da gente não. Você sempre tá lá cum ela atoladinha na merda.

- Quero ver tua valentia na sexta feira. Eu tou chamano prum duelo de vera. É matá ou morrê. - João falou pausadamente, deu um último cheiro na mão, fez uma careta de nojo e foi saindo, queria encontrar uma água e sabonete para tirar o fedor.

IV

Um duelo ao pôr do sol é o que iremos assistir.

No papel de desafiante: João de Barros. Aquele que nunca pára suas aventuras: sonhando ou acordado. Mais um para o seu gatilho rápido, na alça de sua decisiva pontaria. Assistiremos a cenas tensas? Cheia de vida e morte?

 

O SENSACIONAL DUELO AO PÔR DO SOL.
 

Parte 1
 

Como se cria um evento popular
 

Tomada 1
 

I

A notícia se espalhou feito rastilho de pólvora queimando.

Andou nas quebradas do alto do seminário, desceu a ladeira e chegou até a margem esquerda do rio granjeiro. Subiu o alto da matança e seguiu pelo recreio abaixo na direção da batateira. No acampamento passou por todas as casas e foi pelo São Gonçalo a dentro no rumo das guaribas.

II

Veio de Raimundinho para Dedé, deste para Biô que contou para Fan que falou com Macarrão que encontrou Antônio da Bibia e este passou para seu Fernando, que no agarra-agarra com Lia de Biluca disse para as duas e desta para Chico Preto que daí foi a Pinga que pulou para Xenxén e dele para Coisa Ruim que notificou Placa Branca, andando direto para Antônio da Mãosinha e daí para Carga Torta que alardeou Caga Pregata junto com Rosinha do Peru e com ela Maria Júlia que foi a Lampião e depois para Zé e deste para Benedito Preto que juntou-se a Mário Bento, em seguida para Raimunda de Vó e foi se alastrando de tal maneira que os que já sabiam passaram a ter notícia novamente.
 

Tomada 2
 

I

O velho Zé de Barros chamou o filho e quis saber que história era aquela.

- Seu caba safado! Qui históra é esta de duelo?

- Né nada não pai - Respondeu João de Barros enrolando, pensativo, um cigarro com palha de milho.

- E cuma todo mundo tá falando no assunto?

- Este povo é assim mermo, se nóis fô aquerditá nelis, fica doidim.

- Ói aqui, num me arrume confusão. Tô cansado de suas trapaiadas, ainda ti mando de vorta pru Iguatu. - O velho Zé de Barros ameaçou o filho, já aceitando o argumento deste modo, uma vez que mais nada de verdade arrancaria do filho.

II

Mas João, fingido como ele mesmo, provocou o pai:

- Eu vô pai. Eu gostu munto de lá.

- Mintiroso, eu num se alembro do ano passado, quando tu vei mi pedir pru mode vortá prá casa?

- É não pai, é qui eu já gosto de lá de novo. - João manteve a provocação pois sabia que o pai precisava dele na colheita do algodão. O velho, não teve outro jeito do que regatear.

- Pois num vorte prá casa cum nenhum ferimento não, viu. Eu preciso do sin-ô bem cedim pru modi trabaiá.

- Oxém pai, eu num dixe que num tin-a duelo aigum.

III

Mas era impossível esconder a evidência. A notícia se espalhara além dos limites. Apostas eram feita e compromissos só eram marcados para noite da sexta feira, 13 de agosto, após o pôr do sol. Foi o evento mais esperado por todos. Havia torcida para os dois contendores: a da Batateira e pé da Serra com João de Barros e a do seminário ovacionando o Lanterninha.

 

Parte 2
 

Chega a Platéia.

 

Tomada 1
 

I

Pela manhã, bem cedo, começaram os preparativos.

Ambas as margens do rio foram limpas. Cortaram os pés de mamona, arrancaram a salsa e as ramas de carrapicho. Mataram as cobras que encontraram e queimaram com álcool as aranhas caranguejeiras. Até mesmo os embuás foram esmagados. Podaram algumas árvores para que pudessem assistir ao duelo de cima dos seus galhos.

Ficou uma verdadeira arquibancada para a assistência privilegiada.

II

Do leito seco do rio batateiras retiraram as pedras, os restos de latas e os cacos de vidros.

Em seguida passaram um ciscador para que a arena ficasse aplainada. Ficou uma beleza, aquele leito seco, muito branco, como um gigante tapete de renda. Era o ambiente ideal para a disputa anunciada.

III

Restavam ainda muitas opções panorâmicas para os assistentes.

O duelo se daria no meio de duas pontes, distantes, aproximadamente, uns 300 metros entre si, das quais se teria uma vista aérea do tão esperado duelo. Os aterros das duas estradas também dariam uma linda vista, sem contar duas árvores frondosas, daquelas cujas sementes descem girando lentamente, como se fossem milhares de helicópteros.
 

Tomada 2
 

I

Logo após o almoço, por volta de 11:30 horas, a meninada começou a encostar no lugar.

Foram tomando seus lugares, ocupando as margens e logo apareceram os vendedores de picolé, cavaco chinês e os baleiros. Os carros que passavam na estrada paravam para tentar entender o que acontecia naquele rio seco para ter tanta gente.

II

E tome gente.

A estrada do Crato estava cheia, todo o povo do alto do seminário e do recreio vinha na direção da batateira. Andavam em magote, outros sozinhos e alguns em pequenos grupos familiares. A banda cabaçal dos Irmãos Anicete veio tocando pela estrada, procurando animar a festa. Os malabaristas do circo poeira que se apresentava no Acampamento, vieram entreter a platéia.

III

Do Acampamento, do São Gonçalo, do Carrapato, da Baixa Dantas, das Almécegas e das Guaribas veio gente. Até mesmo o povo do Fundão de seu Jefresco e os que moram próximo do poço do Jatobá vieram. De todo o brejo tinha pessoa, do engenho do velho Filemon, de Joaquim e Jairo Monteiro, dos canaviais de Luiz de Borba, das moendas de Aldegundes e do alambique de Dona Maria Muniz.
 

Tomada 3
 

I

Tocava a banda dos irmãos Anicete, os artistas do circo distraiam a multidão.

Foram improvisadas lutas marciais com Mizalmir e Cu de Apito, Chico da Batida e Juarez; Zé Bate Fôfo e Mané Lobó, Jacaré e Cobra, Morcego Doido - míope feito a peste - e o Homem de Borracha. Aliás este último recebeu o apelido quando passou mais de uma semana entupido, sem poder se aliviar, porque apostou com o irmão para ver quem engolia, com um copo de água, a maior borracha de baladeira.

 

Parte 3
 

A platéia vive sua própria festa.
 

Tomada 1
 

I

A aposta come solta e as torcidas se organizam.

O povo do seminário encarava o da batateira que havia pegado os melhores lugares. Perto do leito do rio teve gente que pagou cinco picolés por um assento numa confortável pedra. O menino que vendeu o lugar teve uma puta de uma caganeira de tanto mastigar coisa gelada.

II

Não custou nada e teve gente se estranhando.

Rosinha deu um beliscão tão grande num menino enxerido que no lugar nasceu um peito roxo, com bico e tudo. Júlia Jacó ficou doida de tanto beber cachaça e dançou no meio do povo que a aplaudia. Num rodopio musical, caiu no colo de uma velha gorda do recreio que soltou um traque tão alto que a cachorrada saiu grunhindo. De rabo entre as pernas, feito a gota, procurando um lugar mais seguro.

III

Carminda piscou um olho para um bonitão do alto do seminário e causou muitos ciúmes em Assis que há muito tempo gostava dela.

O rapaz desafiou o Cu Doce que roubava sua donzela, pru pau, mas ele, estrategicamente, foi se refugiar junto aos amigos. Logo voltou com mais dez para pegar Assis, que ficou em apuros. Mas foi salvo por Edmar que puxou uma peixeira, destas tinindeiras, cuja a ponta brilha e o fio é de navalha. Os valentões se espalharam correndo, causando a maior confusão na platéia que os vaiava.
 

Tomada 2
 

I

O ambiente era de uma verdadeira feira.

Como se fosse a festa de Nossa Senhora da Penha, padroeira do Crato. Ouviam-se gritos, vaias, palavrões e assovios tão agudos que zunia nos ouvidos. Não faltou diversão durante toda aquela longa tarde. Todos esperavam o duelo, mas se aproveitavam da enorme presença para se divertirem coletivamente.

II

Tinha menino para menino, menina para menina, moça para rapaz, mulher para homem, valentão para valentão. Existiam alguns brincalhões para vários abestados. Tinha homem sério, moleque atrevido, mãe de família e rapariga do gesso.
 

Tomada 3
 

I

Por volta das quatro e meia da tarde, a torcida do alto do seminário e do recreio entrou com o seu ídolo carregado nos ombros. Foram vaias da turma da Batateira e vivas da torcida do Lanterninha, que entrava no cenário da luta em verdadeira apoteose.

II

A banda dos Irmãos Anicete, em honra, tocou um dobrado, o Cisne Branco. Fogos foram soltos, chapéus jogados para o ar, cambalhotas foram dadas e cantigas da torcida procuraram insultar João de Barros:

Ai, Ai, Ai, Ai, tá chegando a hora,
O João tá se borrando, meu bem,
E só peida e chora.

(Bis)

III

A turma do seminário, com cantigas e tudo, estava mais organizada e a partir daí tomou conta do local.

O povo da Batateira, nem esboçava a mais remota resposta. A presença de Lanterninha, estimulou um dos lados e do outro, ninguém jamais vira João.

Há mais de dois dias que ele sumira. Nem o pai tinha notícia dele. Corria a suspeita de que fugira para o Iguatu. A situação da torcida local era de fato constrangedora.
 

Parte 4
 

O sol começa a morrer por trás da chapada do Araripe.
 

Tomada 1
 

I

O Lanteninha seguido por uma corte, se dirigiu para a areia branca do leito do rio, que mais uma vez foi aplainada pelo ciscador.

Uma grande pedra foi colocada a sua disposição e lá ele apoiou a perna esquerda a espera que João aparecesse. Com o cotovelo na coxa e a mão apoiando o queixo, ele mantinha o chapéu cobrindo os olhos.
 

Vestia uma camisa vermelha, toda quadriculada, calças do tipo Far-West, botas de vaqueiro e na cintura, numa cartucheira improvisada, um revólver calibre 38.

III

Todo mundo ficou em silêncio, admirando-se da figura solitária no meio da areia branca.

O sol andou mais para o poente e nada de João de Barros aparecer.

IV

Do meio do silêncio começou um burburinho de vozes contidas, especulando sobre a fuga covarde de João. O povo da Batateira e redondezas, a torcida do nosso aventureiro, estava humilhada com aquele papel de seu herói. Já era para ter sido visto por alguém, alguma notícia teria que haver e ninguém sabia.

V

O Lanterninha se cansou e sentou-se na pedra.

Seus amigos davam risadas para todos ouvirem. Voltaram a cantar o insulto a João e ficavam cada vez mais desafiadores, já que os moradores da região emudeceram.
 

Tomada 2

I

Um gaiato leu um testamento do João Fujão. Um vereador do alto do Seminário fez um discurso para os partidários de João, tentando angariar alguns votos:

Povo da Batateira cu de Guariba. Nós tem o nosso heroi e o de vocês num pode ser este rato que rói a corda. Sujeito safado que ripa o pé na estrada pru modi num cumprir um desafio em nome dos seus conterrâneos. Aqui vocês tem munta gente de valor e num é porque um filho fraco foge feito faguia de fogo cum medo da água, que vão se humiá perante o mundo. Não, eu tô aqui pru modi proteger todo mundo e declarar que o povo da Batateira cu de Guariba e redondezas, é um povo que orguia os políticos.

II

Recebeu mais palmas da gente do Seminário do que da Batateira.

Estes de algum modo desconfiavam que por trás das palavras daquele vereador, havia uma compaixão que doía no orgulho de cada um.

O que interessava era João de Barros aparecer ali, enfrentar aquele homem que, sozinho domava a todos. O sol ficava alaranjado e todos olhavam para as estradas e caminhos procurando a salvadora presença de João de Barros.

III

Do lado da casa grande ele não vinha, do Acampamento também não e nem do lado do Crato.

Por detrás da casa de Dona Leonarda e nem do lado do sítio de seu César, João de Barros aparecia. Uns foram correndo até a casa dele e logo voltaram com a notícia de não tê-lo encontrado. Do lado das mangueiras e nem de dentro do pomar, perto da bagaceira do engenho, o desafiante da Batateira se dignou aparecer. Era a humilhação final: A humilhação ao pôr do sol.

 

Parte 5
 

Explode a Platéia
 

Tomada 1
 

I

Só compreende bem o silêncio, quem sentiu o barulho.

Só entende uma explosão aquele que esteve no silêncio. É como o fogo e a água, o dia e a noite, o branco e o preto, o herói e o covarde. O grito do vencedor e o silêncio do vencido.

II

Começou com a multidão que estava em cima da ponte nova e no aterro da estrada.

Os vivas ecoaram no final da tarde, fogos foram soltos e a banda cabaçal entoou o Hino do Crato. Logo a platéia sentada às margens do leito levantou-se e começou a pular de alegria.

O pessoal da ponte velha, em seguida como uma seqüência de fogos de artifício, explodiu também. Só ficou calada a torcida do Alto do Seminário.
 

Tomada 2
 

I

Lá vinha João de Barros para enfrentar o intruso que desafiara.

De onde ninguém esperava. Descendo o leito seco do rio, dobrou sua curva e apareceu em primeiro lugar para o pessoal que estava na ponte nova. Veio descendo como um verdadeiro herói. A suspeita de que fugira, aumentava a força da sua valentia, era um tônico para a sua imagem.

II

O Lanterninha mostrou preocupação, coçando nervosamente as bochechas da bunda.

Estava visivelmente decepcionado, já acreditava que havia passado por aquela prova sem nenhum sacrifício. E agora o João aparecia, fazendo a festa da torcida e calando, perigosamente, a sua.

III

João foi se aproximando da ponte e passando sob o seu vão.

Apareceu para todos os presentes, que, literalmente, endoidaram de alegria. Alguns que se encontravam nos galhos de uma árvore escorregaram e caíram feitos jacas podres. Teve gente pulando da ponte no meio da areia do rio, alguns se abraçando e os meninos ficaram perto, para ver melhor. Mais fogos, mais música na banda, mais canto da torcida que agora se vingava no Lanterninha:

Lanterninha sem vergonha,
Vou te quebrar a pilha,
Acerto teu foquito
E vais se apagar.

 

Tomada 3
 

I

Close em João de Barros.

Vestido a caráter.

Todo de preto, chapéu, camisa de mangas compridas, calças e botas. Até mesmo o lenço amarrado no pescoço é preto. Uma cartucheira com ilhoses de metal dourado, nos coldres duas baladeiras balançando. Na cintura, aonde deveriam existir balas, pedras de corisco se adaptavam perfeitamente.

II

As mãos cobertas por luvas pretas puxavam as rédeas do animal, e a corda do focinho, de baixo até em cima, estava trançada com flores de cravo de defunto.

III

João sentava-se em cima de um jumento velho de Antônio de Júlia, uma cangalha e nela estavam pendurados um penico, uma bomba de encher pneu, uma palmatória e uma corda trançada imitando um rabo de vaca. No cabeçote vinha uma calcinha de mulher e soutiens.
 

Parte 6
 

João de Barros faz encenação
 

Tomada 1
 

I

Antônio de Júlia ao ver seu jumento desaparecido gritou de raiva:

- Seu fio duma iégua, eu tô percurano meu jumento derna de ontonte de tarde e hoje levei água prá casa em riba da mim-a cabeça pru modi de que este corno roubô meu animá.

O dono do jumento que estava em cima da ponte nova, quis descer, mas foi agarrado por Bacurim, seu filho mais velho que disse:

- Caima pai, se o sin-ô agarrá aquele jumento, o povo engole o sin-ô vivim da silva.

II

João de Barros acenava para o povo, soltava beijos para as mulheres, passeava em seu “ginete”, pela arena de luta, como se fosse um cavalheiro medieval. Deu voltas em torno da pedra em que o Lanterninha se apoiava e a cada fanfarice, mais a platéia gostava.
 

III

Foi trotando até onde se encontrava Maria Rita, a mais bonita menina do alto do Seminário e pediu o lenço dela para marcar suas armas.

A moça, um tanto encabulada, teve de atendê-lo diante da enorme algazarra que a platéia fazia para que entregasse a prenda. João, orgulhosamente, amarrou o lenço dela no cabo da baladeira.
 

Tomada 2
 

I

A trapezista do circo, trazendo um buquê de flores, foi até João, entregou-lhe o mimo e deu-lhe um beijo estalado na face. Os assistentes deliravam, sorriam, gritavam e estimulavam o herói.

II

Até mesmo o pessoal do alto do Seminário se divertia e acompanhava as evoluções do nosso aventureiro com palmas e gritos de estímulo.

O Lanterninha, embora destacado no meio da arena, sumira, ninguém notava sua presença.

O foco centrífugo, era João de Barros, só ele era visto, só ele tinha azougue, era o imã da festa que deveria ser de dois desafiantes.

III

O imprevisto era a maior festa do povo.

Pois não é que João se esborrachou no chão. Foi dar uma cutucada no jumento preguiçoso e o bicho não gostou. Também queria ser herói. Soltou três peidos, deu coices e danou-se a pular.

IV

João não esperava a reação e foi direto de cara na areia do rio.

O jumento começou a relinchar porque viu uma fêmea no barranco da margem do rio.

João levantou-se, limpando a cara, enquanto a massa quase morria de tanto rir.

O jumento andou em volta relinchando, soltou outros peidos, levantou a pata dianteira e quando João percebeu, lá vinha o bicho com o fumo esticado para a banda dele.

V

João gritou:

- Vai prá lá seu fi duma iégua! A tua jumenta tá du outro lado. Bota teu rolo prá lá!

VI

Limpou a cara rapidamente e num salto ágil, montou-se na garupa do animal e trançou as pernas nas ilhargas do animal.

Teve o cuidado de não trazer junto o rolo de fumo, com chapuleta maior do que um compacto de disco.

O jumento danou-se a saltar, mas não teve jeito, João era um bom montador.

Logo ele voltou a ser ovacionado, com passagem direta do ridículo para o sucesso. Mais uma façanha do nosso cowboy.

 

FINALMENTE O DUELO.
 

Tomada 1
 

I

O sol começou a se pôr.

O céu ficou vermelho e, lá no nascente, uma estrela começou a brilhar. O silêncio se fez no ambiente. A quietação reforçada pela barulheira que a antecipara, dava um ar de expectativa no ambiente. Se uma abelha passasse voando, por certo seria ouvida.

II

João ficou ao lado do poente, com as pernas afastadas, chapéu sobre a testa e as mãos abertas, com os braços arriados ao longo do corpo, em posição de duelar.

III

O Lanterninha, procurando disfarçar o nervosismo, veio mais para o meio da cena, ficando bem em frente a João que o olhava com cara de mal.

O olhar gelado do pistoleiro, desbancaria qualquer bandido de hollywood. A tensão dominara o ambiente.

IV

João dar dois passos na direção do Lanterninha, que agita nervosamente suas mãos próximas ao coldre.

V

João, com voz pausada e cavernosa, fala:

- Se aprepare pru modi visitá Son Pedro.

- Cum qui arma? Cum baladeira? - Disse o Lanterninha quase chorando de tanta tensão.

- Daqui cum pouco, neim teu rastro ficará na terra. Ninguém ouvirá mais falá do covarde que tu foi in vida...

João disse esta frase e deu mais dois passos.

VI

O Lanterninha e sua agitação dos nervos simpáticos, lhe fez soltar um peido roncador. Todo mundo pensou que ele houvesse atirado em João.

VII

- É pelo cu qui a valentia dos covarde foge. - João gritou e a platéia caiu em delírio de bom humor.

- Este é um peido de macho, o ronco da raiva qui estou sentindo pela lorota de um sujeito fujão. - O Lanterninha respondeu vermelho de ira e já um tanto com as emoções descontroladas.

VIII

João balançou para um lado e para outro.

O Lanterninha ficou pálido.

João deu mais um passo.

Apareceram gotas de suor na testa do seu adversário.

IX

O vermelho do céu começou a esmaecer.

O duelo se precipitou por que João soltou o grito de guerra de Billy the Kid: - Aiô!

X

O Lanterninha, transtornado, levou a mão, nervosamente, ao coldre.

O revolver enganchou-se e quando ele puxou, escapuliu e caiu no chão.

Imediatamente agachou-se para apanhá-lo e finalmente acertar João.

XI

Foi apenas uma tentativa.

Um corisco veloz saiu da baladeira de João e esfolou o dedo indicador do Lanterninha que berrou de dor e largou o revólver na areia.

João correu na direção do jumento e pegou o pinico que se pendurava na cangalha.

XII

O Lanterninha pegou uma peixeira com um amigo e avançou para cima de João.

Na primeira tentativa o golpe tiniu no pinico que servia de escudo para João. O Lanterninha se virou e contra atacou com mais ódio ainda.

Mais uma vez o golpe foi barrado no ágate branco da proteção do nosso aventureiro.

O Lanterninha espumando de raiva veio com faca por baixo, procurando a barriga de João e outra vez o pinico parou a faca.

XIII

Insistir no mesmo golpe, foi o erro do Lanterninha.

Quando atacou novamente por baixo, João deu um pinicada de cima para baixo que a faca saltou longe. O Lanterninha se virou procurando a faca.

João sentou-lhe o pinico no rabo.

Ele dobrou as pernas e voltou-se de braço em punho para rebentar João.
 

XIV

Deu o primeiro soco que passou rente à cara do seu adversário. Levou a pior porque com a força que imprimira ao golpe, se desequilibrou e João, aproveitou para enfiar a boca do pinico na cabeça dele.

XV

Pronto, o pinico ficou entalado na cabeça do Lanterninha.

A torcida caiu na gaitada.

Ele com aquele indesejado elmo na cabeça, agarrou um pedaço longo de cano de aço que um amigo lhe passara.

Parecia Dom Quixote de La Mancha de Bosta, com aquele simulacro de armadura.

XVI

João pegou a bomba de encher pneu rapidamente, na cangalha do jumento, e se aproximou do Lanterninha.

O bicho vinha feito a peste, cego de raiva, com aquele cano prontinho para rachar a cabeça de João. Levantou o cano o mais alto que pode, mas não teve visão para orientar o golpe.

 

XVII

João apertou o cabo da bomba e um jato de diarréia podre, acertou em cheio bem na cara do Lanterninha.

XVIII

O rapaz berrou de raiva e recepcionou outra lavada fedorenta bem na altura da cintura. Caiu de joelhos no chão, chorando e João aproveitou para esvaziar o conteúdo da bomba, na cabeça do desgraçado. E olha que a titica fedia era muito.

João havia roubado uns laxantes do Dr. Mewdo e dera para os dois irmãos. Com isto arrumara a pólvora da sua arma final. A que deu o golpe de misericórdia no Lanterninha.

XIX

A festa seguiu até mais de oito horas da noite.

O povo do alto do Seminário voltou para casa, amparando seu soldado ferido de morte.

O da Batateira, carregou João pelos braços.

Até Antônio de Júlia veio abraçar o vencedor e sentia-se orgulhoso do show do seu jumento. Foi a glória.

XX

Quando João já ía saindo para dormir, Bacurim perguntou:

- João que diabo é isto?

- Era um rabo que eu fiz para botá no disgraçado e uma calça de muié cum sotian pru modi ele num vortá prá casa cum a rôpa melada de merda.

Os dois caíram na risada e foram dormir.

 

-DUELO AO PÔR DO SOL –
THE END.

O Artista – João de Barros
A Mocinha – Qualquer uma
O Pai da Mocinha – O que for, desde que distante
A Mãe da Mocinha – Junto do Pai da Mocinha
O Bandido – O Lanterninha
A Turma do Bandido – O pessoal do Seminário
A turma do Mocinho – O da batateira
O Dono do Bar – Seu Antônio
A Cantora do Bar – Só veio a calcinha no cabeçote da cangalha
O Pastor – Isto não é ambiente para ele
O Xerife – Estava bêbado
O Prefeito Demagogo – O Vereador
O Fazendeiro Criador de Cavalos – Antônio de Júlia e seu jumento.


 

 

 

 

 

22.09.2005