José Pedreira da Cruz
Inesquecível carrossel
Era grande o
movimento de gente que chegava para a festa da padroeira . A cidade
já estava muito alegre e até o do sino da igreja parecia musicado e
mais festivo. As crianças corriam pra cima e pra baixo; pra lá e pra
cá, alegrando a todos.
Um velho
caminhão pára no centro da praça e dele desce um homem gorducho,
carregando algumas ferramentas. A criançada, cheia de curiosidades,
cerca o caminhão e tão logo se vai embora. Apenas uma ficou de
plantão: o Chiquinho.
- Moço! O que
está fazendo?
O homem de
joelhos no chão, parou de cavar. Enxugou o suor da testa com a costa
da mão, encostou a cabeça no cabo da cavadeira e olhando para o
menino calmamente lhe respondeu:
- Estou cavando
um buraco.
- Pra que? Pra
que você quer esse buraco? - Insistiu o garoto.
- Para plantar
um brinquedo. - Respondeu-lhe com um largo sorriso e voltou a cavar.
- O que é que
tem em cima desse caminhão, moço?
- Um brinquedo!
Um lindo carrossel!
O menino ficou a
se perguntar: - como será um carrossel? - E com um olhar inquieto
começou a vistoriar aquele caminhão, enorme, coberto com uma lona
amarela; parado na praça; bem na frente de sua casa. Ele via aquele
caminhão como se fosse um brinquedo gigante e não parava de alisá-lo
e de se olhar refletido na pintura da boléia. Tudo lhe era novidade.
E enquanto o homem cavava buracos na praça para erguer o carrossel,
o menino fazia-lhe companhia e embaraçosas perguntas.
Suas
curiosidades e a vontade de brincar no carrossel, eram tantas, que
Chiquinho passou a desobedecer a sua própria mãe.
- Chiquinho! Oou
Chiquinho. Eu vou te bater, entra! - Ela gritava a todo instante,
para que o menino parasse de amolar ao homem e voltasse para casa.
Mas ele dava pouca importância as ameaças de uma surra, pois o que
mais lhe preocupava era ver o carrossel e nele poder brincar.
- Moço! Como é o
carrossel?
- É grande! Tem
luzes, cavalos, leões e elefantes. Você vai brincar nele? -
Questionou-lhe o gorducho, enquanto furiosamente arremessava a
cavadeira no buraco.
O menino fez
cara de tristeza e aquietou-se. Ficou olhando para os cabelos
esbranquiçados da barba do gorducho. Por pouco não lhe veio uma
lágrima.
- Não! Não tenho
dinheiro. Mamãe não tem dinheiro. Lá em casa, ninguém tem dinheiro.
- Disse e depois calou-se. Após um curto silencio o gorducho lhe
consolou: - dinheiro você arranja. É fácil! Muito fácil. É só pedir.
A noite não
demorou e as luzes do carrossel piscavam dentro de seus olhos como
se fossem estrelas. Muitas fantasias corriam em sua mente, mas sua
felicidade era nula: todas as crianças do lugar brincavam nos
cavalos, leões e elefantes, menos ele, que apenas a tudo assistia
correndo em volta do carrossel.
- Moço me dê uma
moeda! Por favor, moço, me dê um dinheiro!
A resposta
era-lhe sempre a mesma: - não.
- Moço deixa-me
entrar! - E o bilheteiro dizia-lhe categórico: - não.
Aquele “não”, o
deixava triste e magoado. Chiquinho percebia claramente que o
caminhão iria embora e nunca brincaria num carrossel.
A festa acabou e
todos se foram.
O homem
desmontou o brinquedo e o cobriu com a mesma lona sobre o velho
caminhão. Depois sumiu na curva da estrada, deixando para Chiquinho
apenas o som de sua buzina como única recordação.
O menino voltou
para casa e chorou.
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