Lustosa da Costa
Carta do poeta Paulo Elpídio Menezes
Neto
Segundo Milton Dias "Lustosa da Costa
se inscreve na lista dos melhores cronistas brasileiros. Nome
respeitado, estimado, admirado, freqüentador diário da imprensa e da
televisão, conseguiu um público numero e atento que acorre ao jornal
diariamente, fiel, à sua colaboração de todo dia.
É que Lustosa da Costa reúne todas as
qualidades de bom contista: o estilo simples, escorreito, a prosa
pura, enxuta, a que não falta um lirismo contido, o vocabulário
rico, sem afetação, a palavra fácil, a plasticidade, abordando os
temas mais variados, os mais graves e os mais leves com a mesma
vibrante espontaneidade. Em tudo põe sua forma pessoal de dizer o
jeito bom da conversa, o tom coloquial, de modo que, freqüentemente
, o leitor que o conhece tem a impressão de estar a ouvir-lhe a voz.
(Milton Dias.)
"Lustosa da Costa novamente em livro.
Festa para quem gosta de boa leitura. Lustosa é saboroso. Pelo
estilo suave, sem sinuosidades , dizendo com exatidão o que deseja
dizer. A palavra na sua essencialidade . Nem pra mais. Nem pra
menos. No lugar certo. No tempo preciso. Musical. Lustosa,
escrevendo, tem muito de Milton. Escreve como se estivesse num banco
da Praça do Ferreira, despreocupado, num papo descontraído. Simples,
sem afetação." ( Blanchard Girão ).
"Poucos dentre os de sua geração
demonstraram tão cedo os pendores que o jovem, quase adolescente,
Lustosa da Costa, revelava no trato com os livros, leitor
infatigável e voraz, dono de uma redação que já prenunciava o estilo
fluente do jornalista brilhante que se tornaria mais anos depois.
Um dos doze filhos de Dona Dolores e
de "seu" Costa, como ainda hoje o chamam carinhosamente os amigos da
família, o menino Francisco José passou, como era costume entre as
famílias de fé católica, pela disciplina do Seminário, sem ter,
entretanto, revelado as pias inclinações, que dele esperavam os
desvelados pais, para os sacrifícios da vida religiosa. Difícil será
julgar, tantos anos passados, sobre as possibilidades pastorais que
lhe poderia ter aberto o ministério de Deus. Perdemos o homem de fé,
o antístite virtuoso, quem sabe, um alto dignitário da hierarquia.
Ganhamos, porém, o jornalista arguto, misto de repórter e analista,
senhor e artífice da palavra, preciso e leve na expressão e elegante
na forma.
Seus começos pelas redações ocorreram
em Fortaleza como ele evoca em uma de suas crônicas: de iniciado por
mãos amigas, fez-se repórter, redator e editou, ainda nos anos de
província quando despontou o cronista, sob cuja sombra se escondia o
romancista que agora temos.
Estudante de Direito, sonhava com a
Procuradoria que lhe veio um dia às mãos; trocou-a , em boa hora,
pelo trabalho, que sempre o fascinara, o jornalismo. Foi no
quotidiano das redações, na Assembléia Legislativa do Ceará e,
depois, na Câmara dos Deputados, em Brasília, que se fez o
comentarista respeitado, ainda muito jovem, entre os que brilhavam
na constelação da grande imprensa.
Neste itinerário, desde a "Gazeta de
Notícias" de Fortaleza, a " O Estado de S. Paulo", passando pelo
"Unitário" e "Correio do Ceará", pela Tribuna da Imprensa , no Rio
de Janeiro, ao Correio Braziliense" e ao "Jornal de Brasília,"
amealhou amigos e impôs-se ao respeito dos colegas pela
imparcialidade e probidade na análise dos fatos e do papel de seus
atores.
Modelou um estilo atraente, direto e
límpido, guardando a espontaneidade na formulação do pensamento e a
propriedade da forma, sem perder, entretanto, a inclinação irônica
que não abusa do recurso ao gracejo, antes dá sentido ao humor,
tornando-o, não raro, instrumento vigoroso da postura combativa que
o acompanhou como comentarista político.
Chegada a idade madura, quando
lançamos os primeiros olhares para trás, reencontrou as raízes
familiares e um filão inesgotável de lembranças, fatos e personagens
na sua sempre amada Cidade de Sobral - e fez-se o cronista -
historiador admirado em dois dos seus livros mais festejados,
"Sobral do meu tempo," de 1982 e "Clero, Nobreza e Povo de Sobral ",
de 1987. Com Dorian Sampaio, fez do" Anuário do Ceará" a publicação
mais completa sobre o Estado. Em "Ideologia do Favor", de 1977, já
se mostrava o observador atento, seduzido pelo estudo da estrutura
do patriarcalismo do Ceará. Apoiado em Fernando de Azevedo, Raymundo
Faoro, Paulo Prado, Oliveira Viana, João Camilo de Oliveira Torres e
Nelson Werneck Sodré, para citar apenas os de sua mais íntima
eleição, desenvolveu a percepção crítica que muito o ajudaria nas
incursões ulteriores sobre a vida do povo de Sobral.
Paulo Elpídio Menezes Neto
|