Barros Alves
Cidade íntima
A leitura de um
livro em que está contido um manancial poético de boa qualidade
ultrapassa os limites da sensibilidade para invadir os esconsos
lugares onde se agitam os mais profundos sentimentos do espírito
humano. É, indubitavelmente, esta a sensação que prende o leitor
quando mergulha na vastidão mágica da poesia elaborada por R.
Leontino Filho, cuja pequena mostra, reluzente e adamantina, surge
agora reeditada sob o título Cidade Íntima. Neste maiúsculo livro o
poeta desfralda seu imaginário com maestria de estilo em verbo/verso
de ritmo perene, revelando-se, destarte, um vigilante da alta Poesia
e demonstrando à sociedade a força do seu talento e a profundidade
de sua inspiração.
A ambição da poesia
de R. Leontino Filho liquida com possíveis olhares esquivos e/ou
gestos pessimistas, desmorona qualquer sentimento de impaciência
para com uma arquitetura poética ímpar, que surge qual fênix e se
alteia em um mundo infaustamente pós-moderno, neoliberal e de certa
forma – talvez por isto mesmo – mergulhado em esterilismos que
adoentam a pessoa e a sociedade que a gesta enquanto ser social.
Cidade Íntima
contribui com sua retórica poética para converter as cicatrizes do
mundo contemporâneo em perspectivas luminosas e impulsos
existenciais assemelhados a canções de amor e de contentamento.
Poemas são sementes;
sementes de paixão, de sonhos, de utopias, de alumbramentos. R.
Leontino Filho planta estas sementes purificadoras em sal Cidade
Íntima, tão diferente desta outra, a real e maldita em que vivemos e
penamos e onde as pessoas têm tão pouco tempo para deleitar-se com a
poesia, linguagem do belo e do maravilhoso que Deus legou aos
mortais, transformando-os em semideuses, os poetas. Gente assim,
bafejada pela divindade como o autor do livro objeto deste
comentário, que escreve sua poesia mostrando a face de Deus (‘Somos
o Poema IV’) , mas com a consciência de ser um apátrida (‘Cidade
Íntima V’) neste vasto mundo onde um dos poucos bens da humanidade
ainda é a Poesia.
Cidade Íntima é
bênção poética urbi et orbe, um mundo de falas abrangentes, de
imagens estimulantes que encadeiam sons e signos poéticos a
despejarem marés de significantes na mensagem que o leitor recolhe
na placidez de sua emoção. Eis aqui um livro sereno e emotivo,
porque combina belamente a lucidez com emoção.
(*) Barros Alves – Presidente da Sociedade dos
Poetas e Escritores de Maracanaú/CE – SOPOEMA e membro da Academia
Cearense de Retórica
Leia a obra de Leontino Filho
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