Miriam Panighel Carvalho
Miriam Panighel
Carvalho entrevista Paulo Bomfim para
Tribuna de Letras
Tribuna das Letras: Como surgiu a sua paixão pelas Letras?
Paulo Bomfim: No seio da família. Recebi influência
dos meus pais, avós especialmente de um tio, Carlos Magalhães Lebeis,
retratado por Cândido Portinari. O ambiente familiar foi fundamental
na minha inclinação para as Letras. Meu pai, médico, era homem
bastante culto e minha mãe, além de tocar violão também cantava.
Pode-se dizer que desde que nasci já comecei a conviver com saraus a
que compareciam escritores e artistas conceituados como: Vicente de
Carvalho, Guilherme de Almeida, Mario de Andrade. No âmbito da
pintura, Tarsila do Amaral era uma das presenças constantes e, no da
música, as pianistas Guiomar Novaes e Magadalena Tagliaferro, entre
outros.
Tribuna das Letras:
Onde foi a sua estréia como
jornalista?
Paulo Bomfim: Comecei no Correio Paulistano em 1945
e a seguir fui para o Diário de São Paulo a convite de Assis
Chateaubriand. Lá, passei dez anos escrevendo Luz e Sombra, enquanto
redigia Notas Paulistas para o Diário de Notícias do Rio.
Tribuna das Letras:
Sendo jornalista, o senhor chegou a
apresentar-se no Radio e/ou na Televisão?
Paulo Bomfim: Fui diretor de Relações Públicas da
Fundação Casper Líbero e fundador, com Clóvis Graciano, da Galeria
Atrium. Na televisão produzi Universidade na TV, ao lado de Heraldo
Barbuy e Oswald de Andrade Filho. Fui jornalista do canal 4, no
Mappin Movietone e no canal 2, no Crônica da Cidade. Na Rádio Gazeta
apresentei o Hora do Livro e Gazeta de Notícia.
Tribuna das Letras:
O livro com que o senhor estreou foi
Antonio Triste publicado em 1947. Como foi essa estréia?
Paulo Bomfim: Em minha apresentação fui saudado por
Guilherme de Almeida como “o novo poeta mais profundamente
significativo da nova cidade de São Paulo”. Antonio Triste tem
prefácio de Guilherme de Almeida e ilustração de Tarsila do Amaral.
Tribuna das Letras:
O brasileiro lê muito pouco. Por que?
Paulo Bomfim: Não existe apenas uma causa que
explique a falta de interesse que o nosso povo tem no tocante às
Letras. No meu modo de ver, há uma série de fatores que conduzem a
isso. Sem dúvida trata-se de um problema de cunho
sócio-econômico-cultural.
Tribuna das Letras: Dentre os gêneros literários de sua
preferência, o senhor inclui os de auto-ajuda?
Paulo Bomfim:
Não tenho gêneros literários
preferidos. Gosto da boa literatura. E se encontrar livros de
auto-ajuda que tenham qualidade e conteúdo satisfatório, aceito-os.
Ainda que com restrições.
Tribuna das Letras:
Transfiguração, Sonetos, Tempo
Reverso, Sonetos da Vida e da Morte são alguns dos seus livros de
sonetos .Por que essa predileção?
Paulo Bomfim: Considero o soneto o traje a rigor do
pensamento. Sinto-me perfeitamente à vontade escrevendo-os e
lendo-os.
Tribuna das Letras:
Quais seus escritores preferidos?
Paulo Bomfim: Guilherme de Almeida (Acalanto de
Bartira, Meu, Raça, Messidor, como algumas obras de que mais gosto);
Cecília Meirelles; Manuel Bandeira; Vinícius de Moraes (meu
particular amigo e excelente sonetista); Florbela Espanca (de quem
sou devoto); Jorge de Lima (cito A Invenção de Orfeu); Raul de Leoni;
Gerardo Mello Mourão, notável escritor brasileiro que,
incompreensível e lamentavelmente, é pouco conhecido pelos
brasileiros. Autor de A Invenção do Mar é a mais bela celebração do
Vº centenário da descoberta do Brasil e uma verdadeira epopéia da
nacionalidade brasileira. Dentre os estrangeiros, gosto de Jorge
Luiz Borges, Thomas Mann e Herman Hesse (aliás, vale dizer que um
dos meus poemas preferidos - A Casa - foi vertido para o alemão e
enviado à Suiça para Hesse, que agradeceu com uma carta e o mandou
com seu retrato autografado).
Tribuna das Letras:
E dentre os de sua autoria?
Paulo Bomfim:
Armorial é o meu preferido. Foi
ilustrado por Clovis Graciano. Nele, como escreveu Cassiano Ricardo,
faço uma “volta proustiana ao passado paulista”. Um passado que
remonta a meus ancestrais, os bandeirantes.
Tribuna das Letras: Em qual país a poesia é mais
valorizada?
Paulo Bomfim:
Portugal que, além de valorizar a
própria poesia, também o faz com a poética brasileira. Cecília
Meirelles, cuja ascendência é açoriana, é mais lembrada e cultuada
nos Açores do que no próprio Brasil. A tal ponto que, na Ilha de São
Miguel há uma avenida que leva o seu nome.
Tribuna das Letras:
Há uma corrente de esquerda que
divulga a história pátria de maneira distorcida denegrindo os
bandeirantes paulistas, taxando-os de bandidos. Qual a sua opinião a
respeito?
Paulo Bomfim: Lamentável. A distorção é um
verdadeiro crime de lesa tradição. Os que aviltam a memória dos
nossos antepassados, fazem com que as novas gerações desconheçam os
feitos e as bravuras dos bandeirantes. E um país sem memória é como
uma árvore sem raízes: qualquer vento derruba.
Tribuna das Letras:
Poeta, qual a importância de Guilherme
de Almeida em sua vida?
Paulo Bomfim:
Ele foi meu mestre, meu guru
intelectual, meu grande amigo. Tudo o que sei de poesia é a ele que
devo.
Tribuna das Letras:
Foi de Guilherme de Almeida que o
senhor herdou o título de Príncipe dos Poetas?
Paulo Bomfim:
O primeiro a ser conhecido com esse
título depois de Guilherme de Almeida, foi Menotti Del Picchia. Em
seguida, eu. Mas considero meu maior título o de ser poeta de São
Paulo.
Tribuna das Letras:
Qual é a origem desse imenso amor que
o senhor sente por São Paulo?
Paulo Bomfim:
È algo que defino como uma espécie de
consciência genética. São Paulo está em minhas raízes e em toda a
minha vida. Aliás, São Paulo é a minha vida. Aqui os meus pais se
conheceram, aqui viveram, aqui nasci e cresci. Enfim, é uma cidade
cósmica, universal. Uma demonstração fiel do que a terra tem de
melhor, de fascinante e de contraditório.
Tribuna das Letras:
Qual é a sua ligação com o Tribunal de
Justiça?
Paulo Bomfim: Durante a infância meu pai tinha o
hábito de ir comigo visitar o Palácio da Justiça ainda em obras, em
fase de acabamento. Foi aqui que tive o meu primeiro emprego
público. Era assistente de Aldo de Assis Dias que me convidou para
participar do Juizado de Menores.
Tribuna das Letras:
O senhor recebeu muitas homenagens
durante sua vida profissional.Existe alguma que deixou lembrança
especial?
Paulo Bomfim: A da Academia Paulista de Magistrados
foi a mais bela das homenagens que recebi: o livro Tributo a Paulo
Bonfim, no ano de 2002. Foi prefaciado pelo poeta José Rodrigues de
Carvalho Netto. Naquela noite, no Pátio do Colégio, o Desembargador
Sérgio Augusto Nigro Conceição, à época presidente do Tribunal,
entregou-me o Colar Acadêmico.
Tribuna das Letras:
Na sua opinião, o que deve fazer uma
pessoa para ter sucesso como escritor?
Paulo Bomfim:
O segredo do bom escritor está na
leitura. Ler, ler e ler para saber como e o que escrever.
Tribuna das Letras: O senhor poderia descrever as
semelhanças e diferenças entre a São Paulo da sua infância e
adolescência e a São Paulo atual?
Paulo Bomfim: Era uma cidade completamente diferente
da de hoje. Pacata, quase não havia prédios e existiam muitos
bondes. Embora já houvesse luz elétrica, a cidade era romanticamente
iluminada com lampiões a gás. Tanto é que trago bem vívida na
lembrança, a imagem dos lampiões furados à bala, durante a Revolução
de 32.
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