Maria do Socorro Cardoso Xavier*
"A
Chave de Vidro", de Alice Spíndola
Nem fácil, ou seja, nem linear a
leitura de "A Chave de Vidro". Chave que abre vários mistérios da
mente humana; Vidro: quebrável, atritável, sensível, como o próprio
ser.
Complexa codificação, elementos
surreais predominam nos textos- ficção. Atesta uma diversificada
leitura da autora, numa intertextualidade, que a leva fazer sua
própria releitura.
Atmosfera surreal, conta o irreal
com sabor de real.Transgride o terra a terra para torná-lo
fantástico, atrativo e curioso. Como se uma febre delirante tivesse
arrebatado a autora, a abissais oceanos "nunca dantes navegados", -
mas aladamente sonhados. O inconsciente quer queiramos ou não exerce
um papel de grande monta na criação humana. Carrega consigo
milenarmente centenas de estórias pródigas em imaginação.
Até mesmo a fase infanto-juvenil
da escritora, usufruída em ambiente bucólico, a muniu sobremaneira
de singular afetividade com as pessoas e a natureza, dando-lhe
cumplicidade neste rico processo criativo.
Prosa densa, na qual o artesanato
da palavra não chateia o leitor, metáforas surpreendentes, leva-os a
refletir, num discurso transcendental, cosmicamente humano, com a
maciez da sensibilidade, que toca o intangível e o liga ao terreno.
Leva o leitor penetrar nas teias do incomum. Buscar nos códigos de
referências pouco usuais, explicações, sob metatexto bem trabalhado.
Livro não só para o deleite, mas
para refletir, obviamente não exclui o tecido do amor, enquanto
sentimento sublime do homem, emanado de Deus, - que está sempre
presente nas entrelinhas do seu discurso metalinguístico. Tal qual
uma deusa ressuscitada - desce a este plano, transmitindo mensagens
cósmicas a seu pares, tornando-a imparmente bela.
O afeto não está excluído no seu
discurso, brota amiúde, sem cair no piegas, que se basta a si mesmo.
Introspecção mescla-se ao palpável. Vem a superfície de águas
revoltas ou planas, -o pitoresco, o satírico, os absurdos da mente,
vêm á tona elevando ou baixando a temperatura, conforme intrínsecas
necessidades.
Exposição hiper criativa, este
livro: A chave de Vidro, a meu ver, consagra sem sombra de dúvida a
autora, com um lugar de destaque no Conto brasileiro!
Meu abraço terno de parabéns à
criativa, inteligente e nobre escritora!
Alice Spíndola: nome literário de
Alice Spíndola Cardoso. Escritora mineira, radicada em Goiânia-Go.
Graduada em Letras Anglo-Germânicas pela Universidade Católica de
Goiás. Autora do livro de poemas: Fio do Labirinto (1996), cortejado
pela crítica. Detentora de inúmeros prêmios e medalhas. Participante
de diversas antologias nacionais e internacionais. Pertence a
diversas entidades lítero-culturais.
A Chave de Vidro -Fundação Biblioteca Nacional -
Ministério da Cultura: Rio de Janeiro: Editora Kelps: 2001: 280p
(*)Já referenciada em outros trabalhos publicados
aqui no Jornal de Poesia.
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