Mais de 3.000 poetas e críticos de lusofonia!

 

 

 

 

 

Maria do Socorro Cardoso Xavier*

 

 "A Chave de Vidro", de Alice Spíndola

 

Nem fácil, ou seja, nem linear a leitura de "A Chave de Vidro". Chave que abre vários mistérios da mente humana; Vidro: quebrável, atritável, sensível, como o próprio ser.

Complexa codificação, elementos surreais predominam nos textos- ficção. Atesta uma diversificada leitura da autora, numa intertextualidade, que a leva fazer sua própria releitura.

Atmosfera surreal, conta o irreal com sabor de real.Transgride o terra a terra para torná-lo fantástico, atrativo e curioso. Como se uma febre delirante tivesse arrebatado a autora, a abissais oceanos "nunca dantes navegados", - mas aladamente sonhados. O inconsciente quer queiramos ou não exerce um papel de grande monta na criação humana. Carrega consigo milenarmente centenas de estórias pródigas em imaginação.

Até mesmo a fase infanto-juvenil da escritora, usufruída em ambiente bucólico, a muniu sobremaneira de singular afetividade com as pessoas e a natureza, dando-lhe cumplicidade neste rico processo criativo.

Prosa densa, na qual o artesanato da palavra não chateia o leitor, metáforas surpreendentes, leva-os a refletir, num discurso transcendental, cosmicamente humano, com a maciez da sensibilidade, que toca o intangível e o liga ao terreno. Leva o leitor penetrar nas teias do incomum. Buscar nos códigos de referências pouco usuais, explicações, sob metatexto bem trabalhado.

Livro não só para o deleite, mas para refletir, obviamente não exclui o tecido do amor, enquanto sentimento sublime do homem, emanado de Deus, - que está sempre presente nas entrelinhas do seu discurso metalinguístico. Tal qual uma deusa ressuscitada - desce a este plano, transmitindo mensagens cósmicas a seu pares, tornando-a imparmente bela.

O afeto não está excluído no seu discurso, brota amiúde, sem cair no piegas, que se basta a si mesmo. Introspecção mescla-se ao palpável. Vem a superfície de águas revoltas ou planas, -o pitoresco, o satírico, os absurdos da mente, vêm á tona elevando ou baixando a temperatura, conforme intrínsecas necessidades.

Exposição hiper criativa, este livro: A chave de Vidro, a meu ver, consagra sem sombra de dúvida a autora, com um lugar de destaque no Conto brasileiro!

Meu abraço terno de parabéns à criativa, inteligente e nobre escritora!

 


Alice Spíndola: nome literário de Alice Spíndola Cardoso. Escritora mineira, radicada em Goiânia-Go. Graduada em Letras Anglo-Germânicas pela Universidade Católica de Goiás. Autora do livro de poemas: Fio do Labirinto (1996), cortejado pela crítica. Detentora de inúmeros prêmios e medalhas. Participante de diversas antologias nacionais e internacionais. Pertence a diversas entidades lítero-culturais.
 

A Chave de Vidro -Fundação Biblioteca Nacional - Ministério da Cultura: Rio de Janeiro: Editora Kelps: 2001: 280p
 

(*)Já referenciada em outros trabalhos publicados aqui no Jornal de Poesia.
 

 

 

Franz Xaver Winterhalter. Portrait of Mme. Rimsky-Korsakova. 1864.

Início desta página

Jomard Muniz