Nilto Maciel
Nilto Maciel, o mago do conto
Por Silvério da Costa
(Jornal Sul Brasil, Chapecó, SC, 2-6-2005)
Há tempos vinha dizendo para mim mesmo
que o Nilto Maciel era um dos maiores contistas brasileiros da
atualidade. Minha dúvida consistia em saber se existia no Brasil
alguém que o superasse na difícil arte de narrar histórias curtas.
Depois de ler o seu excepcional Pescoço de Girafa na Poeira, 1º
lugar na categoria conto, na Bolsa Brasília de Produção Literária,
1998, da Fundação Cultural do Distrito Federal, a dúvida foi
debelada.
Este livro, que reúne 58 contos quase que integralmente oníricos e
inspirados na história e na mitologia, transpõe para os dias de
hoje, de forma subvertida e alegórica, histórias longínquas que
arrebatam o leitor e que não só tirou minha dúvida, como também me
tirou do sério, por trazer tudo aquilo que há de mais encantatório,
para mim, na arte do conto, que é o mágico-fantástico de um Gabriel
Garcia Márquez, a absurdez kafkiana, a alusão a castelos, princesas,
fadas, anjos, monstros, enfim, heróis exóticos de todas as estirpes
e para todos os gostos, bem como a evocação de figuras das artes, da
história, da ciência e da mitologia, como, entre outros, Ícaro,
Átila, Jesus, Napoleão, Pilatos, Santos Dumont, Carlos Magno,
Descartes, Malthus, Sophia Loren, Joana d'Arc e Lampião.
Uma salada excêntrica, cujos personagens brotam de um passado mais
ou menos remoto, e que, associadas a ingredientes como vida, morte,
velhice, desilusão, fanatismo, repressão, dinheiro e prazeres da
carne, se atualizam e nos levam à complexidade e aos desajustes do
ser humano moderno, e à inter-relação de seus mundos, interior e
exterior, em situações esdrúxulas, só concebíveis na ficção, das
quais as personagens se libertam graças à caneta do autor, à
intervenção do deus Morfeu, aliás, a grande recorrência de que se
vale o Nilto para livrá-las das suas encrencas. Tal sortilégio
concorre para que finais previsíveis, na aparência, se transformem
em epílogos inesperados, a partir do despertar, de acordo com a
imaginação de cada leitor. Aí está a grandeza do contista...
Nilto Maciel é um mestre! Um artesão do texto enxuto, das imagens
instigadoras, da linguagem precisa e reflexiva, e da diversidade
temática, qualidades que dão a dimensão de quem entende do riscado e
sabe mensurar e conciliar a inteligência com a sensibilidade, para
nos brindar, sem sonegar absolutamente nada, com uma obra que tem a
exata medida do seu talento, o talento do grande ficcionista que é,
dentro do panorama da Literatura Brasileira.
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