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Mário Hélio


 

Pinto do Monteiro — Cantador

 

Ninguém sabe ao certo em que ano Pinto do Monteiro nasceu, ou em que dia exato. Alguns autores dão o 2 de novembro de 1895 (ou 96), e outros o dia 22 de 1895 (ou 96). Outros informam datas ainda mais recuadas. A confusão aumenta ainda mais porque o próprio poeta afirmou em verso uma coisa e em prosa outra, ou seja, datas distintas do seu nascimento. Ninguém porém discorda do canto superlativo dele, um dos nomes legendários do repente no Brasil. Cantor, que, como os poetas e filósofos de antigamente da Grécia ganhavam como sobrenome o da cidade em que nasciam, e de muitos também não se sabia ao certo a data em que vieram ao mundo. E às vezes nem o nome direito. Ou se sequer teriam existido (o caso do maior de todos, Homero).

Severino Lourenço da Silva Pinto nasceu em Monteiro, na Paraíba, mas passou boa parte dos seus últimos anos de vida em Sertânia (a 315 km do Recife), Pernambuco, e voltou à sua cidade, parece que para morrer. O Suplemento Cultural que, há alguns anos, publicou matéria sobre ele, quando de sua morte, em circunstâncias de pobreza também superlativa, volta a homenageá-lo. No seu centenário que, neste ou noutro ano qualquer, existe. De certo modo também homenageia um dos seus parceiros em duelos imaginários ou reais, o poeta Severino Milanês da Silva, que morreu há exatos 40 anos, reproduzindo a sua peleja que publicou em folheto. Uma cópia nos foi cedida gentilmente pelo pintor e escritor José Cláudio. A data do folheto é 2 de janeiro de 1982.

"Pinto tem setenta anos, / Talvez não chegue aos oitenta", cantou Expedito Sobrinho ao seu colega, que respondeu: "Eu vivo é cento e quarenta, / Achando a vida moderna, / Escorado na bengala, / Coxeando duma perna, / Quem me domina é Jesus, / Como nenhum me governa." Não chegou aos 140 anos, mas superou os 90, saudado por muitos como o maior de todos os repentistas. Se não o foi (são tantos bons e o julgamento depende mais do admirador do que do admirado), ninguém negará o seu extraordinário humor, a verve, a malícia que dão aos seus versos um sabor além do convencional.
 

 

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11.05.2006