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Hélio Pólvora


 

A assinatura perdida

 

Aleluia.

Ainda se escrevem contos que são contos. O conto que narra, a partir de um núcleo ficcional definido, mesmo que limitado, sem a preocupação de trama. O conto que se exprime pela linguagem e pelos significados humanos recolhidos. O conto na tradição dos clássicos, mas tocado pelo espírito de modernidade.

Aramis Ribeiro Costa é um contista empenhado em criar realidades ficcionais contíguas à realidade da vida e da natureza humana. Observador atento e sagaz, já viveu e já leu o suficiente para saber das coisas. Não doura a pílula, mas nem por isso sonega a solidariedade. Há notas dolorosas, pungentes, nas suas histórias curtas. "Mãe", por exemplo, "Dez Anos Depois", "A Mágoa Eterna de Dona Cizinha" e "Miolo de Pão" são contos exemplares no levantamento de personagens, de conflitos, de situações. Linguagem transparente de quem, precisamente por ter o que dizer, não precisa turvar as águas para parecer profundo.

Ele trabalha com os dramas, as tragédias e comédias da personalidade. Tem uma ironia sutil, implícita: afinal, Eça de Queiroz é uma de suas admirações. Vez por outra o seu ficcionismo extravasa do modelo de realidade tomado e entra pelo fantástico, como acontece em "A Assinatura Perdida", "O Morto Rogaciano" e, de certa forma, em "Dez Anos Depois". Mas sem perder o contato com o chão, com a sua época, e sem abdicar de uma leve mas certeira crítica social.

A meu ver, a americana Marianne Moore deu a melhor definição de literatura: "Um jardim fictício habitado por sapos de verdade". Os de Aramis Ribeiro Costa não nos agridem nos olhos com a sua baba. Mas coaxam. E exigem atenção. Querem que os decifremos. Logo nós, que criamos sem atentar direito para as conseqüências. Mas esta é outra história. É a loucura da arte, como diria Henry James.

Vamos ouvir Aramis Ribeiro Costa — um baiano sábio e discreto que não atropela ninguém. Um contista exato, denso, desses que marcam a sensibilidade do leitor.
 

 

Leia Aramis Ribeiro da Costa