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Paulo de Tarso de Castro Peixoto

 

CARTOGRAFIAS POÉTICAS:

DAS MULTIPLICIDADES DO si À POLIFONIA NASCENTE DE RITA BRENNAND.

 

 

Numa primeira leitura, sobre as enunciações poéticas de Rita Brennand, podemos encaminharmo-nos a equívocos interpretativos: lançar nosso olhar, a um só tempo, na direção do modelo representativo de inconsciente, com uma flecha dirigida a desencavar os mistérios produzidos pelas tessituras sonoras e blocos de imagens que Rita expressa; lançar nosso olhar ao modelo analógico de existência, levando-nos a acreditar na imitação dos seres propostos, ou seja, que Rita tentaria produzir sua expressão imitando a natureza; lançar nosso olhar às linhas de subjetivação, as quais, encaminhando-se, tão-somente, aos ventos do passado.

Rita não quer representar nada, isto é, não deseja fazer jorrar as intensidades de sua vida como uma reprodução poética: não deseja reapresentar suas experimentações passadas pelo véu de imagens da poesia. Deseja sim, fazer escorrer em palavras, em sonoridades, em blocos de imagens, em perceptos, uma constelação de forças que, com efeito, transbordam em si, nascidas do encontro com outras forças, na relação com o plano do Fora. Plano de coexistência.

Por este prisma, Rita produz um pensamento múltiplo, lançado aos ventos que assopram na direção dos pensadores do Fora: Rita se conecta com todas as forças que possam lhe tocar num dado instante, para num relance, já estar tomada num devir, num corpo intenso, completamente desterritorializado de suas funções psicossociais orgânicas e molares.

Rita quer produzir-se a cada encontro, deixando-se escapar de si, de sorte, a transbordar numa relação de movimento-repouso-velocidade e lentidão de suas partes, tornando-se parte de um agenciamento complexo: Rita-Barro; Rita-Bosta; Rita-Ovo; Rita-Pássaro; Rita-Tantos...

Rita exercita o poder de afetar e de ser afetada por intensidades despercebidas para muitos: Plano Molecular. Universo de ínfimas intensidades, partículas de sensações que, por seu turno, jorram a cada encontro, suscitadas pelo diálogo com as forças múltiplas do Fora.

Rita é tomada numa conexão rizomática, nos termos deleuzianos: campo fecundo de variações de trajetos experienciados, sobre o qual produzir-se-á uma coexistência entre passado, presente e futuro. Produção de intensidades, de afetos que, a um só tempo, lançam-na na direção da composição de uma existência plástica, afetada por suas partes e pelas partes a que se permite conectar. Produz com sua fala um cristal temporal.

Rita lança-nos numa “vertigem do espaçamento”, conceito de Blanchot, espaço sobre o qual germina a pululação dos gérmens potentes, gérmens de forças que, por conseguinte, estonteiam qualquer intervenção lógica racional. Rita quer fazer gemer uma lógica sensível, na qual torna-se inteligível, mais por suas conexões intensivas de afetos e menos por uma compreensão intelectivo-interpretativo-racional.

Rita não quer imitar um bicho, a terra, a bosta etc.: deseja, tão-somente, deixar transbordar em si as intensidades produzidas da relação com os objetos do Fora. Rita afeta-nos com uma outra lógica: a lógica dos seres de sensação. Neste campo, seu pensamento entra em conexão e cruzamento com as linhas de Fernando Pessoa: produção dos seres de sensação, dos blocos de sensação puros. Rita escreve por puras sensações, ou como diria Daniel Stern: por afetos de vitalidade.

Neste território, Rita entra num agenciamento com outros corpos, externos a si, deixando escorrer em si um grau a mais de singularidade: não imita o barro, mas entra numa zona de vizinhança em que já não consegue se distinguir daquilo que transbordou no que era o seu Si. Torna-se Rita-Barro. Rita é pura passagem de afetos que derramam-se em enunciações poéticas, narrativas: o encontro advindo com as forças de um dado acontecimento. Rita-criadora de nomes próprios.

Rita é pura multiplicidade e afeta-nos com um grau a mais de potência, ao afirmar-se parte de cada agenciamento, de cada conexão inaugurada por seus encontros.

Rita não quer falar do passado, pois, as intensidades passadas explodem em seus presentes, deixando-as explodirem nos múltiplos platôs experimentados no instante vivido. Se o passado surge em Rita, surge mais para deixar retornar os afetos, as intensidades, as velocidades, os blocos de sensações que matizam, tão-somente, numa intervenção de contágio com outras intensidades do presente nascente.

Rita deseja fazer correr em nossa carne o sangue quente de vida: deseja fazer escorrer em nós o desejo pela vida. Rita-Alegria. Rita transborda a alegria Nieszcheana, encontrando-se com a potência da criança existente em cada um de nós.

Essa dimim que não se vê flutua... ela não se vê flutua, ela se desfaz da poeira, ela se desfaz através do som, se desmancha na curva da estrada, ou no som do sino que da igreja se desfaz...  Rita pulveriza o ego... desterritorializa o ego... desmancha as fronteiras personalísticas e individuais da Rita Brennand, para ser outras de si... ser pré-individual, ser pré-personalística: ser em estado nascente, para escorrer nos ventos sem ser conhecida, identificada... Rita desmanchou o nome próprio... tornou-se pura vibração...

As curvas sonoras expressas por Rita entram num trajeto barroco de dobras que se desdobram: feito as melodias bachianas encontrando-se com suas linhas de fuga, entrecortando de passagem outras constelações sonoras, outras possibilidades de novos horizontes. Contacto vibrátil. Rita dobra a própria  linguagem. Desdobramento das peles existenciais, desdobrando-se através dos acontecimentos em que é parte. Mutação existencial. Ser filha dos seus acontecimentos: produzir as muitas de si como estado nascente.


Paulo de Tarso de Castro Peixoto – Musicoterapeuta – Gestalt – Terapeuta – Psicopedagogo – Pós graduado em Currículo e Prática Educativa – Mestrando em Psicologia – Esquizoanalista. 

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