POEMAS DA PRIMEIRA PARTE
DÚVIDAS EXISTENCIAIS ...E PAIXÃO
DOS 19 AOS 24 ANOS
1890 A 1895
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A ETERNA ICÓGNITA
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Donde venho? Quem sou? Que faço aqui no mundo?
Por que vivo na Terra e não em Sírio ou Marte?
Talvez sou de algum deus a monstruosa parte?
Ou o Antropóide vil, filho do lodo imundo?
Sei tudo e nada sei; vazio o Céu profundo!
- Ama; - pede Jesus; - Pensa, manda Descarte
Do formidável X tentando ver o fundo,
Noite e dia a Ciência às descobertas parte!...
Interrogo ansioso à Natureza inteira
E indiferente e má, cala-se a Natureza...
Nem um raio de luz dentro desta caveira!...
Existência fatal que me abate e me eleva,
Não passar de uma torva e estúpida surpresa,
E da Treva sair para voltar à Treva!...
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1890
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HOMENAGEM
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Ao talento musical da jovem e eximia
pianista, a Exma Sra. Dona MARIA
ROMANA MONIZ DE ARAGÃO.
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IMPROVISO
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Tocas - vibra em o piano uma alma, fala e pensa!
Tocas - quanta expressão, meu Deus!...que sentimento
Palpita em cada nota !...o mágico instrumento
Soluça - voz de poeta a gaguejar imensa
Tocas - como um casal de garças que, fugindo,
Das plumas soltas a voar mil pérolas.....assim
Ruflam-te as alvas mãos no lago de marfim,
Peo teclado em fóra - acordes sacudindo.
Tocas - mochos revoam, espalham-se assustados,
Da harmonia ao açoite, os meus negros cuidados!...
Tocas - brilha o luar, desfaz-se a escuridão
Que a vida.........................
Oh!... toca mais !...ouvindo-te suave
Esqueço-me do mundo, ergo-me, torno-me ave,
Abro as asas e, vôo bem longe...na amplidão...
Bahia, 6 de julho de 1890
E.M.B.A (Pethion de Villar )
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UM LAÇO DE FITA
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Preso em negra madeixas perfumosa,
Provocante mimoso , ontem eu via,
Refreando do cacho a rebeldia
Um lacinho de fita cor de rosa
A lirial criança que o trazia
Valsando, cair deixa-o descuidadosa;
Apanhei-o veloz - Coisa espantosa ! -
Laçou-me o laço a alma ! ... quem o diria !
Laçou-me o coração e já o elo queima...
Em vão partí-lo tento; a minha teima
Mais aperta a laçada. Coitadinho !
Desde então, réu de amor, vivo amarrado
Sem vontade sem forças condenado
A ser galé perpétuo de um lacinho !
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18 de Julho de 1890
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ILUSÕES PERDIDAS
IMPROVISO
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Ao Dr. Cruz Abreu
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Eu sonhava ! eu sonhava ! Assim como falenas
Que o sopro da tormenta espanta em revoadas
As minhas ilusões tão puras, tão serenas.
Fugiram-me uma a uma, à toa dispersadas...
Eu sonhava ! eu sonhava ! Adeus risos doirados
Devaneios de amor, suaves pensamentos !...
Adeus ! no meu passado eu vejo-vos tombados,
Murchos como os rosais dos fortes ventos !..
Ilusões ! Ilusões ! oh ! borboletas da alma !
Voltai de novo ! Sim ! trazei-me a calma
De meus sonhos!...Tornai oh ! loucas peregrinas !...
Mas não ! É tarde ! Adeus...Na minha fonte pensa
Cai-me um crepe sombrio, essa tristeza imensa
De um amor que se esbroa em lúgubres ruínas !
1891
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BILHETE POSTAL
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( A ELA )
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Tudo trai a paixão quando se ama...
E tu não me amas, sim! Posso-o jurar !
Não, a santa loucura não te inflama.
Não, tu não sabes o que seja amar.
Tu não me tens amor, pra que o negar ?
Em vão teu lábio fala - não exclama ;
Falas-me, e não radia o teu olhar
O fogo interno que o amor derrama.
Por que me foges ? dize-me , não sentes
Pulsar-te um coração ? mas que receio
Assim te faz gestos indiferentes ?
És bela, vem eu morro de desejos,
Por que negar-me o ninho de teu seio ?
Por que fechar-me a porta de teus beijos ?
21 de agosto 1892
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NO REVERSO DE UM CROMO
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A UMA SENHORA
Em dia de aniversário
Fosse meu verso aroma e a frase fosse flor,
Tivesse o verso meu mil formas peregrinas,
E a minha tosca rima o brilho, a tinta, o odor
Das rosas, dos jasmins dos cravos, das boninas;
Então Senhora, então formosa, um ramo cheio
De essências tropicais, de um gosto transcendente,.
Com a devida vênia e sem nenhum receio,
Eu vos daria hoje, ufano e alegremente.
Mas como do poeta as vozes langorosas,
Não podem transforma-se em flores, em perfumes
E a rima não possui o trescalar das rosas,
E a estrofe não contém da natureza os lumes;
Aceitai entretanto estas linhas sem cor,
Tal como esse buquê de violetas...Cai-me
Do lábio um riso - é pobre o mimo e sem valor, -
Mas é de coração, Senhora ! Desculpai-me
Janeiro de 1893
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LEBEWOHL
Noct. Fis. Moll . Opus 48
CHOPIN
Riu-me, e no entanto a dor me abrolha a alma
Pulsa-me o coração e sinto o corpo exangue :
Há gritos de agonia em minha voz tão calma ;
Em meu olhar tão puro há lágrimas de sangue.
Venho dizer-te adeus ! Como me olhas serena !...
Sempre a mesma ! Tranqüila, indiferente e fria !...
Vai findar-se a comédia , é a última cena ...
Mas antes de partir , ouve bem ! Se algum dia,
Domar-te enfim o amor num veemente anseio
Quebrando aos pés de um homem o teu busto heril de aço
Pede a Deus que ele te ame e também de abra o seio .
Tu que fostes pra mim, tão cruel, pede a Deus
Que nunca junto a ele , apoiada a seu braço,
Sofras o que sofro ao dizer-te este adeus !
1 de fevereiro de 1893
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FEITIÇO
Dizem que há rezas pras feitiçarias,
Que em roda viva põem os corações
Raminhos dalecrim, cruzes, figões,
E outras e outras muitas bruxarias...
Ensinou-me uma velha que deitado,
Alta noite, na estrada, eu me benzesse
Treze vezes, remédio estúpido esse
Que me expõe por maluco a ser pegado !
O Mal existe, existe o tal feitiço,
Porque bem claro em mim o sinto vivo;
O que não acho é quem me livre disso,
Toda ciência pra salvar-me é pouca...
Só conheço um remédio decisivo :
Um beijo ! um beijo só de sua boca !
18 de Novembro de 1893
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LIRA MODERNA - Diário de Notícias
COVAS
Morreu meu coração !... Dobram finados
As Rimas e a Quimera e a Poesia,
Lenços batem nos olhos ensopados,
De uma enorme saudade na Agonia...
Coitado ! era tão bom, tão meigo !...e o pranto
Dos Versos cresce, o Poema se debruça
Sobre o leve caixão e abraça-o, enquanto
A Musa ajoelhada ora e soluça.
Lá sai o enterro... a um canto do teu rosto,
Naquela cova desce ; foi seu gosto
Repousar onde achara a perdição.
Ri agora baixinho ! o riso acorda
Os mortos e o teu riso me recorda
Que ali dorme meu pobre coração...
Fevereiro de 1894
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LIRA MODERNA 2 - Diário de Notícias
RESPOSTA
Não te conheço, sim, mas, no entretanto,
Há um pressentimento que me diz
Que és aquela Mulher por quem eu tanto
Chamei outrora para ser feliz...
Feliz ...Ah ! que ironia ! Se soubesses
Toda a história fatal de minha vida :
É tarde ! a soluçar talvez dissesses,
Minha doce e gentil desconhecida !
Vê se me esqueces pois ! As infernais,
Mágoas que vela a custo o meu segredo
Quando as souberes hão de te afastar.
Oh ! eu já amei e já sofri demais !
De sofrer ainda mais não tenho medo,
Mas tenho medo de outra vez amar
7 de Julho de 1894
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LIRA MODERNA 3 - Diário de Notícias
CEMITÉRIOS
Mulher ! meu coração é como um cemitério...
Luiz Murat
Meu coração é como um cemitério
Cheio de cruzes, cheio de chorões
Onde se quebra o funeral mistério,
A voz do pranto e das recordações;
Goulos vorazes, pálidas visões
Á noite fazem dele o seu império,
Fossando as minhas mortas ilusões,
Mal assombrando esse lugar tão sério !...
Quantas venturas, quantos ideais,
Neste meu coração dantes risonho,
Não enterrei silenciosamente!...
Hoje, porém, se o desespero traz
Inda um cadáver dalgum velho sonho
Badala um verso lúgubre dolente...
1895 |