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Pethion de Villar
SEGUNDA PARTE 
“ALMA BRASILEIRA” 
AOS 28 ANOS 
    A ALMA VERDE 
    O PARAGUAÇU 
      MANHÃ NO RIO 
    MOAGEM 
    NA CASA DA CALDEIRA

 remetido por
Antônio Paulo Góes de Araújo
A ALMA VERDE
 

Às vezes, alta noite, à boca da floresta 
Cheia de uivos de amor e de berros ferozes, 
Como a voz do oceano aterradora e mesta, 
Levanta-se uma voz feita de cem mil vozes; 

E essa voz que amedronta o coração mais forte 
E como harpas de ouro ao mesmo tempo enleva, 
De galho em galho vai, como um grito de morte, 
Espalhando o terror atávico da Terra !... 

Desembesta o tapir que o pânico escorraça; 
Enrosca-se a jibóia, o jaguar sente medo, 
Na escuridão da loca o Índio acuado espia... 

Tudo se encolhe, treme, espera, silencia, 
 Da pluma dos bambus à aresta do rochedo... 
É a alma da floresta - a Alma Verde que passa ! 

1898.  ( Alma Brasileira ) 


O PARAGUAÇU
 
Ao Pacheco de Miranda Filho
Depois de ínvios sertões, broncos atravessar, 
Refletindo , fugaz, paisagens encantadas, 
Duas pérolas, vem, murmurando, beijar, 
Perto de sua foz face a face cravadas. 

Ora deixa cobrir as costas alentadas 
Com púrpuras  de sol e caminhos de luar; 
Negro como o ciúme, ora à voz das lufadas, 
Assanha vagalhões como se fosse um mar... 

Faz lembrar este rio, entre verdes fileiras 
De bambuais sem fim, de altíssimos palmares 
Solenes farfalhando os trêmulos cocares, 

Cacique triunfal das tribos brasileiras, 
Que entre caboclos vai com as mãos de troféus plenas, 
Rojando um manto real de conchas e de penas. 
 

1898, Rio Paraguaçu. – “Alma Brasileira”

MANHÃ NO RIO 

Vejo-lhe dentro do céu, nuvens, á casa, o outeiro; 
O rio amanheceu hoje imóvel e mudo; 
Debruço-me no cais, vejo-me todo inteiro 
A bordo ! o rio está fotografando tudo. 

A leve embarcação desamarro ligeiro, 
O remos abandono, absorto o quadro estudo ; 
Da correnteza ao fio escorrega o saveiro, 
Parece que navega  em águas de veludo, 

Da neblina através rompe um sol cor de sangue ; 
De repente uma garça alvíssima do mangue 
Onde encosta meu barco ao sabor da caudal, 

Foge medrosamente, as asas tatalando, 
Enquanto dentro d’agua , o vôo arremedando 
De costa e veloz, foge uma garça igual. 
 
 

1898 Rio Paraguaçu - “Alma Brasileira”

MOAGEM
 
 

Na vasta casaria escura e fresca, 
Sustentada por trinta e dois pilares 
Cachoeirando, a roda gigantesca 
Gira do negro aos bárbaros cantares 

Um cheiro agraste e bom paira nos ares; 
No picadeiro a cena é pitoresca; 
Verdes feixes de canas aos milhares 
Chupa a moenda pantagruelesca. 

Como fanhosas, doidas clarinetas, 
Guincham carros de bois numa algazarra 
A encher de gozo aquelas almas pretas... 

E durante os seis meses da moagem 
A vida corre festival, bizarra, 
Numa alegria tônica e selvagem 
 

1898 - Engenho Vitoria do Paraguaçu -“Alma Brasileira”.

NA CASA DA CALDEIRA

Alvos bulcões de fumo odumbram tudo em frente; 
Ensurdece o clangor da lenha que se racha; 
Desta névoa embebeda o aroma incandescente... 
Dum pandemônio , logo este lugar se taxa. 

Borbulha sem parar, tumultuosamente, 
O açúcar, e a ferver corre de tacha em tacha... 
De bruços no gradil observo;  de repente 
Dum quadrilongo a porta alguém destarracha ; 

E o caldo, em borbotões, que fumegando passa 
Num jorro colossal de bronze derretido, 
Pesadamente, cai com um surdo rugido 

Enquanto seminus, dentro dessa fumaça, 
Os negros, do feitor ao retumbante berro 
Ágeis fazem lembrar salamandras de ferro 
 

1898 - Engenho Vitoria do Paraguaçu -“Alma Brasileira
TERCEIRA  PARTE 
“SUPREMA EPOPÉIA” 
1900 A 1902 
OS CONQUISTADORES 
A FLORESTA 
O AUTÓCTONE 
NA MATA 
DIES IRÆ 
OS CONQUISTADORES 
(EM VERSOS BRASILEIROS) 
 

Sobre o dorso indomável dos vagalhões titânicos, 
Ao rugir das borrascas que o vendaval assanha, 
As velhas naus bojudas vão, de quilhas sonâmbulas, 
Arrastadas na treva por uma força estranha 

Ao glauco reverbero do vasto mar dos trópicos 
Homens vestidos de aço que a vitoria acompanha, 
Se debruçam na amura, serenos e nostálgicos, 
Do horizonte, sem medo, sondando a verde entranha. 

Desce a noite funérea : longínquas vozes épicas 
Ouvem eles, cantando, seguindo na ardentia 
Das treze caravelas perdidas e fantásticas... 

Dentro do grande sonho dos loucos e dos místicos, 
Que lhes importa a Morte; de rota noite e dia 
Para o Desconhecido que além dorme nas tênebras ?! 

1900  “Suprema Epopéia” 



 
A FLORESTA 
 

Paira em roda, o terror, do abismo de folhagem, 
Que do monte ultrapassa a majestosa espalda. 
Onde ronca o tapir como um trovão selvagem 
E dorme o beija-flor lhamado de esmeralda; 

As verdes catedrais das espargem 
Um cheiro agreste e bom, que os corações  escalda, 
Canta-lhe dentro à orquestra invisível d’aragem, 
Anda-lhe dentro a luz que assombros mil sofralda. 

Falenas douro e ônix, catadupas de flores, 
Serpentes colossais, asas versicolores... 
Que mistérios sem conta a mata não encobre ! 

Homens rudes e nus, de pele cor de cobre, 
De olhar mal assombrado e de pemas na testa, 
Lento, saindo vão da boca da floresta. 
 

1900  “Suprema Epopéia” 

 
O AUTÓCTONE 
“Pa xé tan tan ajuca atupave !” 
( Língua tupi ) 
 

Mata virgem. O sol, teimoso e ardente, em balde, 
Como um gavião de fogo, as ramagens belisca; 
Num pau d’arco por entre as flores cor de jalde 
O caboclo vislumbra alva araponga arisca. 

Como um topázio vivo um beija-flor corisca, 
Muito embora a “cauã” bravia asas desfralde ; 
E um casal de “sofrês” beijos num falho arrisca, 
Sem que dest’almo idílio o bom selvagem malde... 

Súbito o Índio bem perto ouve espantosa bulha ; 
Da capoeira , a rugir, salta enorme onça negra, 
De pelo de cetim, com manchas d’ouro  fosco. 

Do brasileiro o sangue indômito borbulha : 
Encara a fera, e a rir, - tão bela presa o alegra - 
Rapidamente verga o arco emplumado e tosco 
 

1900  “Suprema Epopéia” 


 
NA MATA 
 

Quatro horas da manhã : já da bruma o fresí 
Se vai rasgando, pouco a pouco, à luz do dia; 
Leve, o polvilho azul dos astros, a granel, 
Espalha-se, desmaia, á brisa que esfuzia. 

Boceja a mata escura. Ao longe, no cairel 
Do abismo de folhage’ uma jibóia pia ! 
Inflama-se o oriente, e um mágico pincel 
De linda cor de rosa o céu todo irradia. 

Fantástico, porém, das aves todo o bando 
Principia a cantar, fugas contraponto, 
Que um meigo sabiá reger calmo parece; 

Do sol surge, afinal a imensa face loura... 
Mas eis que a orquestra pára...um tiro bruto estoira... 
Silencio... tudo foge...; é  o Homem que aparece ! 

1902 -“ Alma Brasileira” 


O ÚLTIMO PAJÉ 
 

Cheio de angústia e de rancor, calado, 
Solene só, a fronte carrancuda, 
Morre o velho Pajé crucificado 
Na sua dor tragicamente muda. 

Vê-se-lhe aos pés, disperso e profanado, 
O troféu dos avós : a flecha aguda, 
O terrível tacape ensangüentado, 
Que outrora erguia aquela mão sanhuda. 

Vencida a sua raça tão valente, 
Errante, perseguida cruelmente, 
Ao estertor das matas derrubadas ! 

“Tupã mentiu” e erguendo as mãos sagradas, 
Dobra o joelho e a calva sobranceira 
Para beijar a terra brasileira. 

1900  “Suprema Epopéia” 


DIES IRÆ 
 
 

A civilização foi um terrível drama 
Fez o Homem mais bruto e a Mulher mais abjeta; 
Quis a morte de Deus e a morte do Poeta 
Que expirou como um cisne enviscado na lama 

A alma pagã do Grego, a alma triste do Asceta 
Não os pôde salvar o sangue que derrama 
Há séculos na Índia o coração de Brama... 
Vamos singrando um caos, sem bússola e sem meta. 

Que fazer ? Envergar a blusa de Tolstoi ? 
Do niilista acender a formidável bomba ? 
Beijar de Cristo a cruz que carcomida tomba ? 

Erguer hoje um troféu, que outro destrói ? 
Que lúgubre futuro espera, traiçoeiro, 
O homem - esse animal - místico e carniceiro ? 
 

1900  “Suprema Epopéia” 
 
 
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