Jornal de Poesia

 

 

 

 

 

 

 

Rodrigo de Souza Leão


 

Rodrigo de Souza Leão entrevista o poeta
José Lino Grunewald
 

 

JLG: bacharel em Ciências Jurídicas, em 1953; Fundação Getúlio Vargas, 1955-57 (técnico e redator); inicia colaboração no JB, em 1956, no Suplemento Dominical (cinema, arte e literatura); Correio da Manhã: 1958: mesmos temas do JB; em 1962, torna-se também editorialista político e também, em 1965, a série de MPPERGUNTA (Prelúdio ao IV Centenário); em 1961, toma posse como procurador da SUNAMAM (Min. Transportes), aposentando-se em 1993; colaborou em todos os jornais do Rio + 4 de SP; fica no CM até seu fechamento, em 1975; técnico do MOBRAL (cultura, alfabetização e imprensa), entre 1973 e 1981; LBA: assessor décadas de 70 e 80; assessor Avancini TV Globo lá pelos 80; Obras: além de artigos e ensaios em jornal, livros de poesia, traduções e antologias (Nomeá-los, não cabe no espaço de 10 linhas já ultrapassado).


Balacobaco - O que os concretistas deixam de legado às novas gerações?

JLG - Os concretistas deixam um aprofundamento & alongamento ao ato de encarar a poesia como estrutura, projeção de funções em termos linguìsticos e semióticos. Afinal, arte é forma.


Balacobaco - Existe uma linguagem concretista?

JLG - A linguagem do concretismo é aquela que inverte os termos saussurianos
(Ferdinand de Saussure), ou seja, o significante torna-se significado & vice-versa. Ou seja, o primado da linguagem e, não, o da língua (idiomas). O distanciamento com relação à vivência a fim de que se viva a essência do fazer poético (poiesis = fazer). Procura ser o mínimo múltiplo comum.


Balacobaco - Por que o concretismo vem sido tão combatido, apedrejado?

JLG - Tem sido combatido por causa disso tudo dito acima, embora não impeça que, desde 1957, nossos poemas sejam publicados em países como Suíça, Japão, Alemanha, EUA, Inglaterra, França, Portugal, Dinamarca, Escócia, Peru, enfim, por todos os lados. Só no meu caso (que não sou dado a muitos contatos internacionais), possuo inúmeras dessa publicações. Ainda no meu caso, meu poema vaievem foi motivo de análises do Prof. De Estética e Filosofia, Max Bense, da Escola Superior de Stuttgart; meu poema, cinco, foi tese de uma aluna da UFRJ. Nossos contatos internacionais com escritores são vários e enormes.


PERGUNTA- Ferreira Goulart é traidor do movimento?

JLG - Gullar não foi bem traidor. Ele apenas possuía uma concepção diferente da vanguarda naqueles tempos - daí a ruptura. Mas deixou alguns bons poemas
concretos; os neo não prestam (a meu ver). Seu 1º e único grande livro é A luta corporal.


PERGUNTA- O Alexei Bueno disse, com muito humor, a poesia é um "problema" na vidada pessoa.

JLG - Alexei foi impulsionado em grande parte por mim, no início da vida literária. Suas idéias de poesia são de outra faixa, mas eu tento ser um ente dialético...


PERGUNTA- O poeta é um sofredor ou um fingidor?

JLG - O poeta pode ser tudo; mas o ideal é o Nada.


PERGUNTA- Quantos livros têm publicado?

JLG - Publiquei 18 livros.


PERGUNTA- Qual o critério de escolha para a antologia "Pérolas da poesia"?

JLG - O critério de escolha das pedras de toque é estético, histórico e pelo uso do povo ("o inventa-línguas" - Maiakóvski). Mas, o primordial é o 1º.


PERGUNTA- Como anda a poesia brasileira?

JLG - A poesia nossa vai como sempre: altos & baixos.


PERGUNTA- Qual o lugar da critica? Nas universidades?

JLG - As universidades, muitas vezes, atrapalham a crítica. Prefiro, em geral, os autodidatas. Como dizia Noel, "samba não se aprende no colégio".


PERGUNTA- Quais são os grandes poetas brasileiros na atualidade?

JLG - Os principais (vivos) são João Cabral, Décio Pignatari, Augusto de Campos, Haroldo de Campos, Manoel de Barros, Ferreira Gullar.


PERGUNTA- Como vê a internet como meio de difundir a poesia? Há futuro para o livro?

JLG - É claro que a internet é importante para a difusão de poesia, graças ao poder do meio. Qto ao livro - "hélas"- pelo menos existe o inatingível passado que é mais concreto do que o presente (riocorrente) e o futuro ("incerto & não sabido").


PERGUNTA- Você é especialista em tango. Letra de música é poema, poesia?

JLG - Sim, letra de tango pode ser poesia - tanto no tango, quanto no samba, ou a valsa, o bolero etc.


PERGUNTA- Joyce é realmente o maior escritor do século vinte? Quais os dez livros mais importantes, de poesia e prosa, deste século?

JLG - Joyce fez o Finnegans wake - o maior roamnce do século. É dfícil escalar os 10 mais. Entretanto, vá lá: além do citado FW, temos o Ulysses do mesmo JJ, "Em busca do tempo perdido", as obras poéticas de Pound, Eliot, o "Grande sertão: veredas", do G. Rosa, o "Luz de agosto", do Faulkner, a obra poética do Valéry, a obra poética do Joaõ Cabral e "O processo", do Kafka.


PERGUNTA- O que faz no momento?

JLG - No momento, terminei uma antologia da poesia brasileira até o JCMN, pedras de toque da poesia francesa e preparo uma coletânea de poemas meus.


PERGUNTA- Qual o papel do escritor na sociedade?

JLG - O papel do escritor na sociedade é escrever.


 

 

 

 

 

28.09.2005