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Ruy Espinheira Filho


 

LIVRO
Profeta modernista

Em Forma & Alumbramento, Ruy Espinheira Filho analisa o pensamento de Manuel Bandeira

FEDERICO MENGOZZI

Ag. O Globo

RUPTURA E TRADIÇÃO
Bandeira escrevia em versos livres, mas não desprezava os sonetos

Se a pintora Anita Malfatti foi a primeira mártir do modernismo brasileiro - a artista levada à fogueira em nome da boa-nova -, Manuel Bandeira pode ser chamado de o 'São João Batista', o 'profeta' do movimento - para usar uma idéia de Mário de Andrade. Uma e outro inseriram seu nome na cultura brasileira em 1917. Nesse ano, Anita fez sua polêmica exposição e Bandeira lançou seu primeiro livro de poesia (A Cinza das Horas). Profeta modernista, Manuel Bandeira (1886-1968) superou, há muito, o período de esquecimento que se segue à morte de um escritor. Hoje, o escritor é lido e gera novos estudos. Um deles é Forma & Alumbramento, do poeta e ensaísta baiano Ruy Espinheira Filho.

Para Espinheira, não dúvida: Bandeira vive. 'É o mais amado dos poetas brasileiros. Tem gente que não consegue ler Drummond nem João Cabral, mas Manuel Bandeira, que, aliás, influenciou os dois, como influenciou todos os poetas importantes do século passado.' Forma & Alumbramento, com seu jeito fluido, límpido como a poesia de Bandeira, ocupa um lugar na bibliografia bandeiriana. Em seis capítulos, o autor se propõe a acompanhar o pensamento do poeta pernambucano sobre arte, destacando o diálogo de 22 anos, tempo que durou a correspondência entre ambos, com Mário de Andrade. 'Escrevi o livro por admiração, pelo amor que tenho ao poeta, com quem aprendi muito, desde a adolescência. Mesmo motivo me fez escrever Tumulto de Amor e Outros Tumultos, sobre Mário, outra grande admiração.' Segundo Espinheira, há também uma função didática em ambos os livros, que iriam direto aos mestres, momentos luminosos na poética brasileira, sem perder tempo com 'bobagens modernosas'.

A atualidade de Manuel Bandeira, explica Espinheira, deve-se a algumas razões. 'A voz lírica de Bandeira não se limita a uma época, a características, digamos, geracionais; por isso continua ouvida pelos jovens. Os sentimentos expressos pela sua poesia são também nossos, do ser humano. Ele pensou, no início, que sua poesia era tão pessoal, falando de coisas apenas particulares, que não teria significado para outras pessoas. Logo descobriu que sua 'musa da confidência', como dizia José Guilherme Merquior, falava à sensibilidade de todos, como continua falando.' Moderno, sim, mas sem desprezar a tradição. O soneto, por exemplo, atravessou toda a sua obra. 'Nunca fui', disse quando assumiu sua cadeira na ABL, 'dos que moveram campanha contra o soneto (...) que se adapta em sua essência a todas as escolas, a todos os tempos...' O poeta, nota Espinheira, 'embora tenha começado como uma espécie de parnaso-simbolista, com influências do romantismo português, foi quem primeiro dominou o coloquialismo e o verso livre'.

E não por que culpá-lo pelo verso livre que assolou - e assola - o país. 'O verso livre de Manuel Bandeira', diz Espinheira, 'nada tem das facilidades dos que pensam que escrever verso livre é apenas traçar linhas irregulares.' Feliz ou infelizmente, não houve um Manuel Bandeira em quem Manuel Bandeira pudesse ter se inspirado. Assim, o verso livre bandeiriano também poderia ser considerado um verso livre bandeirista, sem temer pelo trocadilho, por explorar espaços desconhecidos. Em quase 350 poemas, Bandeira cantou sobretudo a tristeza, mas moldou a alma brasileira. Enquanto houver leitor de poesia no Brasil, arrisca Espinheira, Bandeira viverá.
 

 

TÍTULO
Forma & Alumbramento
AUTOR
Ruy
Espinheira Filho
EDITORA
José Olympio/ABL
PREÇO E PÁGINAS
R$ 33/238

 


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