Ag. O
Globo |
|
RUPTURA
E
TRADIÇÃO
Bandeira
escrevia
em
versos
livres,
mas
não
desprezava os
sonetos |
Se a pintora Anita
Malfatti foi a
primeira
mártir
do
modernismo
brasileiro
- a
artista
levada
à
fogueira
em
nome
da boa-nova -, Manuel
Bandeira
pode
ser
chamado de o 'São
João
Batista',
o 'profeta'
do
movimento
-
para
usar
uma
idéia
de Mário de Andrade. Uma e
outro
inseriram
seu
nome
na
cultura
brasileira
em
1917. Nesse
ano,
Anita fez
sua
polêmica
exposição
e
Bandeira
lançou
seu
primeiro
livro
de
poesia
(A
Cinza
das
Horas).
Profeta
modernista, Manuel
Bandeira
(1886-1968) superou, há
muito,
o
período
de
esquecimento
que
se segue à
morte
de
um
escritor.
Hoje,
o
escritor
é lido e gera
novos
estudos.
Um
deles é
Forma
& Alumbramento,
do
poeta
e
ensaísta
baiano
Ruy
Espinheira
Filho.
Para
Espinheira,
não
há
dúvida:
Bandeira
vive. 'É o
mais
amado
dos
poetas
brasileiros.
Tem
gente
que
não
consegue
ler
Drummond
nem
João Cabral,
mas
lê
Manuel
Bandeira,
que,
aliás,
influenciou os
dois,
como
influenciou
todos
os
poetas
importantes
do
século
passado.'
Forma
& Alumbramento,
com
seu
jeito
fluido,
límpido
como
a
poesia
de
Bandeira,
já
ocupa
um
lugar
na
bibliografia
bandeiriana.
Em
seis
capítulos,
o
autor
se propõe a
acompanhar
o
pensamento
do
poeta
pernambucano
sobre
arte,
destacando o
diálogo
de 22
anos,
tempo
que
durou a
correspondência
entre
ambos,
com
Mário de Andrade. 'Escrevi o
livro
por
admiração,
pelo
amor
que
tenho ao
poeta,
com
quem
aprendi
muito,
desde
a
adolescência.
Mesmo
motivo
me
fez
escrever
Tumulto
de
Amor
e
Outros
Tumultos,
sobre
Mário,
outra
grande
admiração.'
Segundo
Espinheira,
há
também
uma
função
didática
em
ambos
os
livros,
que
iriam
direto
aos
mestres,
momentos
luminosos
na
poética
brasileira,
sem
perder
tempo
com
'bobagens
modernosas'.
A
atualidade
de Manuel
Bandeira,
explica
Espinheira,
deve-se a algumas
razões.
'A
voz
lírica
de
Bandeira
não
se limita a uma
época,
a
características,
digamos, geracionais;
por
isso
continua
ouvida
pelos
jovens.
Os
sentimentos
expressos
pela
sua
poesia
são
também
nossos,
do
ser
humano.
Ele
pensou, no
início,
que
sua
poesia
era
tão
pessoal,
falando de
coisas
apenas
particulares,
que
não
teria
significado
para
outras
pessoas.
Logo
descobriu
que
sua
'musa
da confidência',
como
dizia José Guilherme Merquior, falava à
sensibilidade
de
todos,
como
continua falando.'
Moderno,
sim,
mas
sem
desprezar
a
tradição.
O
soneto,
por
exemplo,
atravessou
toda
a
sua
obra.
'Nunca
fui', disse
quando
assumiu
sua
cadeira
na ABL, 'dos
que
moveram
campanha
contra
o
soneto
(...)
que
se adapta
em
sua
essência
a todas as
escolas,
a
todos
os
tempos...'
O
poeta,
nota
Espinheira,
'embora
tenha começado
como
uma
espécie
de parnaso-simbolista,
com
influências
do
romantismo
português,
foi
quem
primeiro
dominou o coloquialismo e o
verso
livre'.
E
não
há
por
que
culpá-lo
pelo
verso
livre
que
assolou - e assola - o
país.
'O
verso
livre
de Manuel
Bandeira',
diz
Espinheira,
'nada
tem das
facilidades
dos
que
pensam
que
escrever
verso
livre
é
apenas
traçar
linhas
irregulares.'
Feliz
ou
infelizmente,
não
houve
um
Manuel
Bandeira
em
quem
Manuel
Bandeira
pudesse
ter
se inspirado.
Assim,
o
verso
livre
bandeiriano
também
poderia
ser
considerado
um
verso
livre
bandeirista,
sem
temer
pelo
trocadilho,
por
explorar
espaços
desconhecidos.
Em
quase
350
poemas,
Bandeira
cantou
sobretudo
a
tristeza,
mas
moldou a
alma
brasileira.
Enquanto
houver
leitor
de
poesia
no Brasil, arrisca
Espinheira,
Bandeira
viverá.
|
TÍTULO
Forma
& Alumbramento
AUTOR
Ruy
Espinheira
Filho
EDITORA
José Olympio/ABL
PREÇO
E
PÁGINAS
R$ 33/238 |
|