| 
			
			Rodrigo Marques 
   
            Cheiro de pano molhado
 
 
  29/07/2006
 
              
            Quisera toda estréia literária fosse como "Fazendinha", de 
			Rodrigo Marques. Cheia de referências poéticas, passeando pelos 
			versos do cearense Horácio Dídimo e pelas rosas do mineiro Carlos 
			Drummond de Andrade, esta obra já nasceu definitiva. De leitura 
			agradável e divertida, o livro traz uma história de pano e linha. 
			Recomendado para crianças de todas as idades. Uma aventura singela 
			acontecida numa fazendinha com um bordado delicado e comovente
 
 Tiago Coutinho
 Especial para o Caderno 3
 
 
            Maria segue no rumo do Pato da Vila, 
			para consertar o pote que recolhe a água da chuva e salvar sua vida. 
			Como fica agora a fazendinha, toda molhada, encolhida e ensimesmada, 
			por causa do Pato que quebrou o pote e ficou todo quebrado? E cadê o 
			danado desse bicho? Bicho não falta. O cachorro Toti late "au au ua 
			ua" e ajuda Maria na procura do Pato - de chita. Corre ligeiro, 
			menina. As goteiras tão encharcando o pano, as veredas da fazenda. 
            Segue Maria na saga para consertar o 
			pote. Mas tá difícil. Quando ela encontra o Pato, ele atrapalha mais 
			ainda. Uma dica vem do Mestre Jabuti, poeta de pseudônimo Horácio 
			Dídimo. Procure fulano, ele pode te ajudar. Na busca de uma solução, 
			Maria, Toti e o Pato encontram o caranguejo gigante, o pavão 
			misterioso e a solução. Só o arco-íris, o Sol poderá ajudar a secar 
			a fazendinha. Como chegar ao Sol, se ele passa o dia andando de 
			leste a oeste. E quando chega o começo da noite desaparece, dorme e 
			só acorda no dia seguinte. 
            Eita que não termina essa saga, a cada 
			página um problema, um atalho desvirtuoso para consertar esse pote e 
			deixar todo mundo sossegado. Aflição para o leitor. E quando se 
			pensa ser impossível acontecer algo mais extraordinário na história, 
			vem Rodrigo Marques, com a escrita e a imaginação de um menino 
			devagador nesse universo costurado de "Fazendinha", dando um rumo 
			novo para estrada, uma linha de uma nova cor para compor o bordado. 
			Previsibilidade passou foi longe. 
            Continua caminhando, Maria, você chega 
			lá. Não está sozinha não, querida. Teus amigos Toti e Pato vão te 
			ajudar. Uma ruma de gente importante aparece para contribuir nessa 
			aventura com fim - um precioso tesouro bom de se guardar em segredo. 
			E aparece a Emília - sim, a boneca filha do Monteiro. Ela foge do 
			sítio onde mora para poder responder o impossível e apontar soluções 
			rápidas. De repente chega Carlos - o Drummond - montado no Boitempo 
			e disposto a dar uma carreira, em busca desse Sol. Até o Cego 
			Aderaldo dá uma mãozinha. E vai... É melhor dar um ponto no texto, 
			porque daqui a pouco acaba a linha da história. 
            "Fazendinha" é da delicadeza de um 
			bordado, daqueles feito pela vó, sentada e concentrada na cadeira de 
			balanço com os óculos por cair no nariz. A genialidade de Rodrigo 
			Marques transparece no enredo e na sua construção. Os versos, 
			seguido de prosa, com rima num canto e desenho do outro compõem uma 
			história só, para ler de uma vez só. 
            São poucos, nas terras cearenses, que, 
			como Rodrigues Marques, conseguem acertar no ponto logo na primeira 
			tentativa de se tecer a literatura. Cheio de estréias, "Fazendinha" 
			marca também a primeira publicação da editora cearense Cavalo 
			Marinho. Tudo made in Ceara. Como Rodrigo Marques costuma brincar, a 
			publicação é 98% cearense. "Tirando o papel que é importado, o resto 
			foi todo feito por aqui mesmo". 
            E se o texto e a história são belas, 
			beleza também está no projeto gráfico do livro, assinado por Geraldo 
			Jesuino. As ilustrações são feitas em família, pelas Maria Vitória e 
			Vó Maria, respectivamente, mãe e avó de Rodrigo. 
            O livro ficou no prelo durante dois 
			anos. Só foi publicado em abril de 2006. Burilando e enfeitando 
			ainda mais a escrita, a finalização só foi possível graças ao prêmio 
			do II Edital de Incentivo às Artes no Ceará, em 2005. Antes de 
			"Fazendinha", ele já havia produzido o livro artesanal "A Hora do 
			Cururu". Agora é só esperar e reler "Fazendinha" e torcer para que 
			ela dê muitos frutos: manga, pitanga, oiti, uva nos cachos... 
 
 SERVIÇO: "Fazendinha", livro de 
			estréia de Rodrigo Marques. Editora Cavalo Marinho. 92p. R$ 22,00.
 
 
 |