Rogério Salgado
As Imagens Poéticas nos Pavios Curtos
de José Aloise Bahia
Sempre me recusei a continuar uma
leitura de alguma obra poética totalmente técnica, por achar que um
poema para ser perfeito deve ser uma mistura de técnica e emoção.
Por isso acredito que existam os poetas e os fazedores de poesia,
sendo esses últimos àqueles que traçam um poema como quem traça uma
obra projetada à régua e compasso. A princípio “Pavios Curtos” (anomelivros,
2004) nos parece um livro muito mais técnico, mas ao adentrarmos em
suas páginas, vamos percebendo que por trás daquela suposta frieza,
sua poesia passa-nos uma forte carga emotiva.
Influenciado por imagens que povoam
sua vida, o autor nos mostra uma poesia eclética, dessas que
passeiam em várias vertentes, mas sempre voltada para suas próprias
perspectivas de vivência, sendo o passado, o presente e o que lhe
espera no porvir de sua futura poesia. Na primeira parte sentimos
uma poesia mais lírica, sem perder a modernidade. São poemas
escritos de forma mais direta, formalmente enxutos. Na segunda parte
observamos uma poesia mais prosaica, com um diálogo com poetas,
escritores e artistas plásticos que (possivelmente) o autor admire,
em treze quintetos muito bem desenvolvidos. Na terceira parte vemos
os poemas concretos, num trabalho feito de muita reflexão. Já a
quarta parte é feita de imagens, num trabalho burilado mais para a
técnica reflexiva, sem perder a sensibilidade do ato de poetar. A
quinta e última parte é feita de variantes, ou seja, não muito
definido, porém feita de poemas bem estruturados entre si.
A pesar de iniciante no campo
literário, José Aloise Bahia surge, aos 43 anos de idade, como um
poeta que veio para – com a paciência do tempo – se firmar entre os
grandes que aí estão. Com insistência e perseverança traçará seu
caminho e sua história, dessas feitas com o suor de sua própria
poesia.
José Aloise Bahia é natural de Bambuí,
Minas Gerais. Reside em Belo Horizonte. Tem ensaios artigos,
crônicas, resenhas e poemas publicados em diversos jornais, revistas
e internet. Pesquisador no campo da comunicação social e interfaces
com a literatura, política, estética, imagem e cultura de massa.
Estudioso em História das Artes e colecionador de artes plásticas.
Sócio fundador da ALIPOL (Associação Internacional de Literaturas de
Língua Portuguesa e Outras Linguagens). Graduado em comunicação
social e pós-graduado em jornalismo contemporâneo.
Leia abaixo um poema do livro “Pavios
Curtos”, José Aloise Bahia, anomelivros, 2004, Belo Horizonte, Minas
Gerais:
NO ÁLBUM
imagino algumas fotografias a mais
impregnadas de rostos e paisagens
grandes personagens
pequenas histórias
em cada uma delas uma
presença uma ausência
quanta luz se passou no
tempo do desejo em relembrar:
as narrações do Zé Quinta-Feira
os discursos da Maria Doida
as expressões do Vitalino Tadeu
os causos contados por Gatinho
sua mulher e 13 filhos
as delongas do Morta Égua
as recepções da Cordolina
os esmolares do Galo Capão
as comilanças do Juquinha Gordo
os conhecimentos naifs do João Jia
a matriz antiga no alto do morro
as idas e vindas do Grande Circo Berlim
os murais sagrados do Santuário São Sebastião
infelizmente – nenhum destes encontros
tenho registrado
só disponho de lembranças e imagens
que sementeiam milagres
elas moram na memória assombrosa
guardadas a sete chaves de ouro
nesta rebeldia efêmera
NOTA: No Álbum – Todas as personagens e os
locais citados fazem parte da infância e adolescência do autor nas
décadas de 1960/70 em Bambuí, Minas Gerais, Brasil.
* Rogério Salgado (Belo Horizonte/MG).
Jornalista e Poeta. Autor, entre outros, de “Ainda Menino” (Belô
Poético, 2002) e “Tipo Exportação” (em parceria com Virgilene
Araújo, Belô Poético, 2004). Critico Literário do jornal “Correio do
Sul”, Varginha, Minas Gerais.
Leia a obra de José Aloise Bahia
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