José Aloise Bahia
PEREGRINADOR,
CAMINHANTE COM PRAZER
Você já
peregrinou? Tudo começa com a simples pergunta. Envolvendo realidade
e ficção na vida de um dos mais fecundos escritores brasileiros. O
mais interessante: ele se reinventa a partir da entrevista, um
gênero direto da modernidade. E, do outro lado temos uma outra
palavra: peregrinação, jornada longa e exaustiva. Eis a
intertextualidade plena e genuína nas mãos de um peripatético.
O diálogo
criativo e imaginativo caminha com passos filosóficos. Realiza-se,
noutra fonte, na sua forma, ação e metafísica: Aristóteles. Pois o
colóquio dos dois Franciscos é uma aula daquilo que Aristóteles
ensinava caminhando. Na moral individual aristotélica todo ser tende
a realizar a sua natureza. E a sua natureza é a razão. A virtude
nasce do exercício desta razão do ser e tem como morada/passagem a
inteligência e a vontade, outras duas palavras que pululam no
bate-papo e encontro de um homem/ menino com a sua imagem: transpor
em livros uma fiel representação de si mesmo. Nisso, a razão
esclarecida se encontra com o ser, e o homem/menino realiza a sua
natureza humana e intrínseca: torna-se um escritor.
O inquilino das
letras peregrinador, caminhante com prazer, faz uma reflexão
incisiva sobre o início, o meio e o fim (até parece reverberar a
música de Raul Seixas). Transcendental. Não tem como escapar, o seu
texto é metafísico. De uma sabedoria tamanha. Grandioso como o sol,
frondoso como a mangueira carregada de mangas amarelinhas. As idas e
vindas de Nova-Russas, uma Maratona, desperta uma noção de tempo
muito lindo. Tempo vivido, memorial, não esquecido, aquecido,
relembrado e sagrado.
A devoção é a
jornada. E a jornada, um diálogo. O diálogo, o caminho. Não é
moralista. Pelo contrário. Parece fazer questão de nos chamar a
atenção, de uma maneira sutil, às iluminações/ sombras do mistério,
que muitos teimam em esquecer: as origens e raízes de uma árvore
verdejante. A origem como ponto de partida.
Vital no
envolvimento com suas histórias. Com suas leituras e viagens
aflitivas. Palavras de um poeta singular: “O gostar eliminava o
obrigatório”. Desta fonte brota uma juventude lúcida que dá um banho
em muitos marmanjos contemporâneos metidos a bestas.
Tudo isso para
dizer: - Vai, Francisco, vai escrever as suas memórias. Pois, o
homem tem muito para nos contar, e nos relata nesta entrevista
acontecimentos de uma maneira maravilhosa.
No sertão
existe uma voz. Galopante, engenhosa, magistral e simbólica. Pétala
nordestina e brasileira. Anima Mundi. Uma voz de só ares
feito rosas....
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José Aloise Bahia (Belo Horizonte/MG). Jornalista e escritor. Autor
de Pavios Curtos (anomelivros,
2004).
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