Sebastião César Aguiar Vale
Sobre Réquiem Tem Sol da Tarde
Estimado poeta Soares Feitosa:
Assim como uma bênção, caiu em minhas mãos sua obra magnífica - Réquiem Tem Sol da Tarde.
Chegou-me pela Selma do meu parente Antônio Bezerra, lá de N. Russas. Sabia-o poeta de alta
patente; ignorava o profeta e, muito mais o gênio. Se não configurar redundância, coloquemos
o sábio nesse meio.
Em seu livro não há um só poema que não mereça destaque. Livro forte, livro verdade,
libelo - obra universal. Diz do homem, da torra e da luta, da desigualdade social e das
injustiças. Ao expor o quadro da nossa realidade vai escandindo a miséria do nosso povo ao tempo
em que responsabiliza governantes. Diz com coragem, valentia e eficácia. No silêncio da leitura
escuta-se a voz tronitroante e vê-se a espada ameaçadora reagindo em defesa dos humilhados e
desvalidos que se debatem e esperneiam como a comadre raposa ou como a jagunçada de Antônio
Conselheiro, o Santo curtido na peia no sofrimento.
E assim cantando esse canto forte e vingador, exalta-se e eleva-se, agiganta-se, troveja,
ribomba e faísca. Depois, canta o amor e a inocência e canta os heróis da terra, os bichos
da terra nos seus versos feitos do barro da terra. Cantando o amor, conta-nos de si, do
menino Francisco de Mons. Tabosa, de N. Russas, do Ceará de sertão e praia e da cidade
grande, apegado à terra, às nossas coisas, aos rios e aos animais.
E lá está apontando outro Francisco carregando um balde vazio dágua, que emborca
e sobe nele pra limpar os parabrisas... 12 anos, tamanho de 8 e coragem de 20.
Outro Francisco no arraial de Canudos, 1897, 5 de outubro, 5000 soldados. Caldeirão,
Candelária, Favela do Pantanal... Castro Alves e Dragão do Mar, e lá vem Francisco
trajado de Liberdade... Versos heroicos, épicos, verdadeiros, acompanham Homero,
Virgílio, Camões, sem imitar, sem plagiar... assemelham-se em valor e conteúdo e repartem
a mesma grandeza.
Obrigado, poeta. Obrigado, muitas vezes, digam-lhe o Ceará e o Brasil.
Um "dizerzim” final: Depois de ler em seu livro tantos comentários de tantas figuras
importantes do meio lítero-cultural, sem querer, como o sapateiro, além das sandálias,
estou anexando meu humilde comentário à sua obra valorosa - nova para mim, apesar de 5
anos de editada. A única pretensão mostrar o apreço que tenho pelo conterrâneo e pelo nosso
poeta-mor.
Abraço-lhe desejando-lhe todas as felicidades nesta nova era que iremos viver e muitos
sucessos literários.
Leia a obra de Soares
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