Tiago Coutinho
Memórias perenes
Águas correntes, palavras fluentes.
Qual seria o destino da poesia caso não existisse a natureza?
Retratos rimados do rio Jaguaribe. Da nascente à foz, de passagem
pelas margens férteis, os versos do livro "Jaguaribe - memória das
águas", de Luciano Maia, ganham nova edição (a sétima) com
belíssimas imagens do parceiro, já conhecido, Audifax Rios. A
novidade, além das ilustrações, é o apêndice com novos poemas,
retratando o drama dos habitantes de Nova Jaguaribara. No lançamento
do livro, hoje, no Centro Cultural Oboé, Luciano apresenta ainda uma
homenagem a Pablo Neruda, em "Neruda - Canto Memorial"
O cenário é o Ceará, com cerca de 90%
do seu território entregue ao semi-árido. Cortando as terras, um dos
maiores reservatórios de água do Estado, com mil e uma utilidades: a
bacia do rio Jaguaribe, correspondente a 55% do território cearense.
O olhar do poeta a transforma em arte, versos, imagens verbais,
sentimentos.
As sensações de contemplação da
imensidão de água natural, além das relações de dependência e de
necessidade do povo com o rio que rega suas terras, são retratadas
por Luciano Maia, poeta nascido em Limoeiro do Norte, na Ilha de
Parapuã, região banhada pelas águas do Jaguaribe.
"Meu objetivo com este livro é de
tentar perenizar a memória de pessoas, de objetos, de bichos e todo
o universo cultural da pequena região", explica o poeta. E vem
conseguindo contar bem a história. "Jaguaribe - memória das águas"
já se encontra na sétima edição e conseguiu alcançar dimensão
internacional, com traduções para a Argentina, Estados Unidos e
Romênia. Nos próximos meses, o livro estará sendo apresentado como
espetáculo teatral.
Mas os méritos não são em vão. O livro
é muito bem construído. Dividido em seis partes, Luciano Maia sugere
um universo fluvial muito delicado, inserindo a sensação de quem
vive na região e vai até a situação dos moradores que, por causa do
açude Castanhão, tiveram as casas perdidas e foram obrigados a
transferir-se do local.
A primeira parte do livro, chamada de
"Dedicatória", traz poemas de oitava rima - poemas curtos de um
único estrofe, com oito versos cada, compostos por rimas alternadas
- nos quais agradece aos cantadores, aos retirantes, aos bichos, às
nuvens e aos rios-irmãos, aos outros rios, ao mar.
Já no "Canto dos elementos", Luciano
apresenta cinco sonetos, correspondendo cada um aos cinco elementos
da natureza: terra, água, mar, fogo, sol e vento.
A partir de "Canto das nascentes", há
uma maior liberdade na construção dos poemas. Aparentemente, eles
não seguem nenhum estilo, mas, com um olhar mais apurado, percebe-se
que, a cada poema, as sílabas dos versos vão crescendo. No primeiro,
todos os versos possuem apenas uma sílaba. No segundo, duas. Assim
segue sucessivamente até chegar aos poemas de dez sílabas.
Representa assim, o percurso do rio, da pequena nascente, ao
montante de água.
Leia Luciano Maia
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