Valéria Nogueira Eik
Tecendo a vida
Veio de algum espaço, passou por
outro, esbarrou em algum trecho, aportou por aqui e não sabe ainda
se fica ou se vai, se volta ou continua, nesse caminhar que não tem
fim.
Mas, por ora, permanece, se
estabelece, sem pensar no amanhã e no que será ou não será.
Somos todos assim, apenas turistas, ou
nômades, ou quem sabe, extra-terrestres!
Procedemos de algum lugar e agora
estamos juntos, reunidos num mesmo tempo, desenvolvendo um trabalho,
uma amizade, uma intriga, ódios, promessas e até mesmo um
desencontro absoluto e absurdo pelas ruas.
Cada um de nós tem uma estória, um
berço, lembranças próprias e, talvez, saudades.
Cada um de nós tem um desempenho, uma
luta, pensamentos próprios e, talvez, esperanças.
É mesmo uma grande teia, tecida pelo
acaso, produzindo bordados de dor ou enigmas de amor.
Gente colorida, quem sabe, idealista,
que sorri, que batalha e que nem sempre vence nesse período que
corre, ao invés de andar.
Gente desbotada, a cara cruzada, os
braços fechados, espectros desse tempo, indiferente tempo que
continua a correr, arrastando os indecisos e competindo com os
lutadores, talvez, gladiadores.
Uma belíssima teia, cheia de riscos e
traços, lucros e prejuízos, que com o passar da vida, se transforma
numa obra de arte que poucos entendem.
Um abstrato, uma miscelânea de gente,
uma confusão de valores.
Teia de vida, teia de gente, sempre
uma trama assustadora, atraente, inebriante, um desafio!
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