Wilson Martins
Terra dos Poetas
(in JORNAL DO BRASIL, 16/01/93)
Há quatro séculos, Amadeu Amaral
condenava a semântica, se não insultuosa, pelo menos pejorativa, em
que a palavra poeta era geralmente empregada no seu tempo. Poeta era
o tipo, o pobre-diabo, o desclassificado social, encarado com
suspeita, ou, na melhor hipótese, com sorridente ironia. Ao lado da
imbecilidade política que, na Primeira República, atrasou o nosso
desenvolvimento por 100 anos e segundo a qual o Brasil era um "país
essencialmente agrícola", corria o desalentado apotegma de sabedoria
coletiva que exprimia o nosso contraditório anti-ufanismo o Brasil
era uma "terra de poetas", isto É, de irrealistas incompetentes.
Ora, escrevia Amadeu Amaral com deliberado sofisma polêmico, a
verdade era justamente o contrário não poderia ser uma terra de
poetas um país de reduzida atividade intelectual e onde o número de
analfabetos era assustador; faltava-nos, antes de mais nada, o
ambiente cultural que nos permitisse ser uma terra de poetas.
…ramos, sim, uma terra de versejadores, que ele, poeta afinal de
contas menor e epigônico, descartava com sobranceria.
(...)
Em duas claves diferentes os melhores
livros de poesia no ano passado foram o de José Paulo Paes (Prosas
seguidas de Odes mínimas. São Paulo: Companhia das Letras), e o de
Álvaro Pacheco (A Geometria dos ventos, Rio, Record), dois
temperamentos diferentes, se não opostos, conciliados na criação
poética de alta qualidade. O primeiro É, como se sabe, um espírito
intimista e irônico lutando por disciplinar uma sensibilidade
incomum, o segundo, É o cosmopolita intelectual, escrevendo uma
poesia de cultura. Na terceira parte do livro, ele se equipara aos
grandes líricos, com "Tirésias", "não estarei mais aqui" e "Fim de
siécle", na segunda, a inspiração Épica coloca-o sem dificuldade na
companhia dos grandes poetas universais, entre outros poemas com o
extraordinário "Concerto das Walkyrias para o aniversário de Eva
Braun".
Leia a obra de Álvaro
Pacheco
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