Hugo Pontes
Mais que os nomes do nada
Aricy Curvello é
poeta. Conheço o seu trabalho por publicações em Suplementos
Literários e por livros já editados, sobretudo pela antologia “Vozes
da Poesia”, da Editora do Escritor do Escritor, de São Paulo. “Mais
que os Nomes do Nada” é o mais recente livro desse autor que, dentro
da poética das palavras, tem o domínio da poesia que é inerente ao
artista e o da palavra que é o instrumento do autor.
O livro tem onze
partes curtas e distintas. Nelas o autor agrupa poemas plenamente
realizados tanto no conteúdo quanto na forma.
O conteúdo traz
temas relacionados com um cotidiano bastante rico em experiências
vividas pelo autor, por onde quer que tenha passado, seja no Brasil
ou Europa, berço da civilização e da intelectualidade.
Sua poesia é plena
de metáforas bem construídas e de marcante expressividade (p.11) :
começar
outro recomeçar
floria o espaço de uma manhã
não pétalas : - : floria
o que dura a paisagem
o que dura uma fímbria
o que dura uma frase
recomeçar outro recomeçar
que seria o jardim a-manhã
sem todo âmago adiantar-se?
No que se refere à
forma, o poeta procura experimentar. Vai do poema linear ao
concretismo e ao neo-concreto e, com isso, torna o livro dotado de
atração gráfica e com um aspecto visual interessante como, por
exemplo, o poema “Ulisses no Mar dos Nomes” (p.43).
Podemos destacar, do
conjunto da obra, a parte e o poema “Eles nos Mostram Grandes
Grandes Números” (p.57), que tem um cunho político, social e
econômico muito acentuado, trazendo o retrato escrito e, por
conseqüência pulsante, de um Brasil autofágico, cujos filhos têm o
prazer de destruir a si e a seus bens materiais e morais:
adiante,
acontecimentos em curso,
esperança turva e olhos sangrando
aços comuns planos
aços comuns não-planos
aços de alta liga
aços-ferramenta
aços finos especiais
O poema em questão
tem validade por ser atemporal. Retrata um passado recente de
conflitos e lutas, denuncia o presente de incertezas e projeta um
futuro de dúvidas. Ler Aricy Curvello é estar em contato com poemas
da atualidade, escritos em linguagem do hoje e com o espírito do
sempre .
[Jornal da Cidade, Poços de Caldas(MG), 18 de
Março de 1997]
Leia Aricy Curvello
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