Segundo o Dicionário Houaiss, Poesia "é uma
composição em versos (livres e/ou providos de rima) cujo conteúdo apresenta uma
visão emocional e/ou conceitual na abordagem de idéias, estados de alma,
sentimentos, impressões subjetivas, etc., quase sempre expressos por associações
imagéticas", mas, com o devido reconhecimento ao ilustre filólogo, depois da
vírgula do verbete eu acrescentaria: substância eterizada, vital para o
espírito, como o alimento o é para o corpo.
Difícil falar da emoção de descobrir no Quatro
Nomes o amor táctil que os livros despertam, como sugere Caetano Veloso, depois
de ter acompanhado as suas primeiras rimas do Aldo, a quem ofereci uma
consciente mas discreta cumplicidade.
Quando fiquei a sós com o seu livro, me vi
dividida entre a volúpia de lê-lo de um só fôlego e a parcimônia do
mastiga-me-devagarinho. Optei pela segunda, porque seria uma
injustiça-quase-uma-grosseria ler sem desfrutá-lo, como é deselegante e injusto
o degustar apressado de um prato delicado, obra de cozinheira competente e
amorosa.
A única "saída honrosa" que encontrei foi ler um
poema por vez, como comer a sobremesa com a colherinha virada para fazer com que
dure mais, e assim prolongar o doce deleite. Esse mergulho reserva ao leitor
paciente, pseudo frugal, uma torrente sem fim de descobertas...
Não sei julgar o valor de nenhuma obra de arte, só
sei sentir. E senti uma sutileza que nos abre caminhos interiores para o
encontro com nossas emoções e sentimentos mais secretos e preciosos, porque o
autor manuseia com a mesma destreza palavras e emoções, ou antes,
palavras-emoções, onde as usuais estão encaixadas de forma tão exata que parecem
magistralmente óbvias (e poesia não é essencialmente isto?), e as nem tanto,
estão num merecido podium.
O Aldo constrói uma poesia inequivocadamente
masculina, que conhece profundamente a intimidade feminina, e por ela transita
com igual naturalidade, transformando cada mulher na aspirante à musa e cada
homem, desejoso de poeta ser. Em outras vezes, as palavras o dominam e o
conduzem a revelar escaninhos íntimos, num incontido transbordamento de maré.
Por um lado, percorre caminhos endógenos de
horizontalização, da busca do humano, no seu mais delicado significado; e por
outro, de refinamento, abrindo caminhos exógenos para o mais, o acima, o sonho,
a verticalização da busca do divino, em mais ambiciosa caminhada.
Lembrando Exupery, a sua poesia, "é útil porque é bonita", ou, como nas palavras
do próprio Aldo, “quem sabe, só para proclamar o triunfo da forma sobre a
função".
Tudo o que é bem feito não se torna menos
meritório porque prazeroso. Isto aprendi com o Barreto, outro amigo poeta, que
costumava dizer "não ter culpa por seu trabalho ser agradável". Deste livro, por
condizente com todo o esforço (árduo ainda que fluído), sonho e coragem que
representa, só posso dizer: Parabéns!