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Aldo Votto

 

aldovotto@yahoo.com.br

 

Alessandro Allori, 1535-1607, Vênus e Cupido
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poesia:


 

Crítica, ensaio e comentário:


 

Fortuna:


Uma notícia do poeta: 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Riviere Briton, 1840-1920, UK, Una e o leão

 

Culpa

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

The Gates of Dawn, Herbert Draper, UK, 1863-1920

 

 

 

 

 

Aldo Votto

 


 

BIOGRAFIA

 

O autor já publicou os poemas “Estatuária”, em 1999, na coletânea do 3º concurso “Conto e Poesia” –SINERGIA, os poemas “Chuva” e “12 trabalhos e um poema”, em 2002, na 4ª edição do mesmo evento, e “Amor Total”, em 2004, no livro do Habitasul Revelação Literária na Feira. Nasceu à beira-mar, na cidade de Rio Grande-RS. Decorridos nove lustros e percorridos cinco graus de latitude para o norte, junto com a mulher Beatriz, vive, trabalha, cria os filhos ilhéus Victória e Lourenço, e traça versos inspirados pelas belezas de Florianópolis-SC. Foi em Porto Alegre-RS, no entanto, que cresceu, estudou e começou sua vida profissional. O gosto pela poesia foi estimulado, quem sabe, pelo nome da primeira escola - Gabriela Mistral - onde fez as primeiras tentativas de escrever e compôs, aos onze anos de idade, o acróstico BRASIL sobre o sesquicentenário da independência. Desde então, até o final do século passado, a poesia aguardou uma nova oportunidade de reaparecer no seu currículo e voltou, ele espera, para ficar por muito tempo.


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Riviere Briton, 1840-1920, UK, Una e o leão

 

 

 

 

 

Aldo Votto


 

DOZE TRABALHOS

 

I

Percorri todos os mundos
para colher a erva gridelim
e te dar

Mergulhei em todas as águas
Para encontrar o peixe cúpreo
E te oferecer

Desapareci em cavernas e desfiladeiros
Para cavar a pedra carmesim
E te entregar

II

Li todos os livros
Que minhas mãos alcançaram,
Para te ensinar o que aprendi

Ouvi todos as canções
Que meus ouvidos perceberam,
Para repeti-las e te encantar

Mirei todas as telas e aquarelas
Que meus olhos permitiram,
Para imitá-las e te retratar

Carreguei todas as madeiras e rochas brutas
Que meus braços suportaram,
Para extrair delas teu busto perfeito

III

Arrastei todo o barro e cerâmicas
Que as minhas pernas sustentaram,
Para erguer teu abrigo perene

Plantei muitas florestas de musgos e heras,
Mais do que meu corpo supôs lograr,
Para te amparar à sombra do dia

IV

Enfrentei tantos batalhões e leões
Quanto minha coragem consentiu,
Para proteger-te da fúria das feras e dos homens

Negociei incontáveis tratados com os poderosos,
Tantos quantos minha resignação admitiu,
Para brindar-te com a paz improvável

E depois de tudo,
Só me sobraram a caneta e o papel
Para escrever-te
Um poema de despedida.
 


 

MAR

 

O mar é muito.
Por isso a praia é linha;
A onda é arco,
O barco é ponto
E o horizonte é reta.

O mar é tanto,
Que mesmo o céu é pouco,
As nuvens são manchas
E a chuva é acréscimo.

O mar é tamanho
Que o sonho é remanso,
As ânsias são capricho
E o grito é suspiro.

 

 

A COR DA SAUDADE

 

Um triste peito feminino
Pergunta com singeleza de criança
De que cor é a saudade,
Se branca é a paz, e verde a esperança.

Quem dera saber desse mistério
Terei, quiçá, um ou outro palpite.
Deve ter a saudade algum tom cinéreo
Entre o da neve e o do grafite

Pois como a cinza verdadeira
Guarda um tanto do que queimou,
A cinza cor não deixa por inteira
Ir embora a luz que chegou

A saudade é meio nuvem de tempestade,
Por isso, plúmbea, pesada, alta e ancha
Tem o matiz da montanha de madrugada,
É um pouco cor do tecido, outro tanto cor da mancha.

A saudade, estou quase convencido,
É uma emoção meio gris,
Mas pelo que tenho entendido
Só a sente quem já foi feliz.

Que coloração teria este sentimento
Que chora sobre o pouco que resta
Senão o esgotado brilho cinzento
De um salão de baile depois da festa?

 

 

CHUVA

 

Chove a chuva
que há muito tempo chove;
que choveu sobre meu pai,
e que sobre o pai dele choveu.
Chove, chove, chove
a chuva que se procura
para voltar a chover, chover, chover.
Chove a chuva
perene e indiferente
à secura que dentro de mim possa haver.
Chove a chuva
que choveu sempre
e que daqui a tempos
sobre o meu filho choverá,
Constante e alheia
às estiagens da alma dele,
chovendo tanta e tanto,
quanto choveu sobre
meu avô,
sobre meu pai
e sobre mim.

 

 

 

ESQUELETO

 

Esqueleto
Mais triste
Que o prédio abandonado
É o que foi deixado
em construção
Em que o musgo
Tomou o lugar da cal
E a sombra,
O lugar do reflexo.
Desfaz-se a obra
Que ainda não se fizera
E os tijolos viram tigelas
Para algum pombo citadino
A altura, em vez de imponência,
É ameaça de acidente.
Mas mais que tudo,
O prédio inacabado
é oco de gente;
Espaço semi-construído,
Sequer meio vivido.
 

 

 

MIGRANTE

 

Na minha terra eu era mais um,
Agora sou menos.
Menos passante,
mais observador.

Levou-me a década
Para outro tempo e lugar,
Lá sou mais.
Mais transeunte,
menos vedor.

E onde quer que, por ventura, esteja,
Lá ou cá,
Busco a dimensão
Que me rejunte.

Que componha meus tempos,
Que reunifique meus hemisférios.
 

 

 

 

 

 

 

 

 

23.11.2007