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Anderson Braga Horta


 

Poeta bom de prosa

 

Quando, em 1965, Manuel Bandeira incluiu Waldemar Lopes na segunda edição de sua Antologia de Poetas Brasileiros Bissextos Contemporâneos, recomendou a publicação integral dos Sonetos do Tempo Perdido, em que apontava “poesia da melhor escrita no Brasil”. O livro permaneceu na gaveta ainda sete anos, mas, ao sair, revelou esse poeta esplêndido que, daí por diante, numa célere recuperação do assinalado no título de sabor proustiano, se confirmaria com Inventário do Tempo, Os Pássaros da Noite e cinco outros, em curtos intervalos, até 1981, completados com os Sonetos de Portugal (1.ª ed. 1993) e, já recentemente, Cinza de Estrelas, de 2003.

Grande poeta, Waldemar é ainda muito bom de prosa, nos dois sentidos da expressão: conversador de irradiante simpatia, marcaram época as recepções que oferecia em sua residência, em Brasília, com a esposa, sua querida Iracy; prosador de mérito, como tal reconhecível pelo menos desde Austro-Costa, Poeta da Província, de 1970, oferece-nos, com os três tomos desta “prosa variada”, a inteira extensão de seu valor.

Com tranqüilo domínio da língua e do estilo, discorre, neste primeiro volume, sobre assuntos que, se não o forem por natureza, se tornam palpitantes mercê de sua pena. E o espectro que abarca é amplo e diferenciado: desde literatura, naturalmente, até história e, sobretudo, interpretação histórica; de economia e política a perfis psicológicos como o de Tancredo Neves; desde o comentário erudito sobre citações literárias até o elogio à idéia geradora de Goiânia, em ensaio de 1951, que preconiza e defende a interiorização da capital do País.

Merecem destaque a competência e a sensibilidade com que fala de poetas e de poesia, da essência desta, da validade ou demagogia do engajamento poético, da intransitividade de certa poesia contemporânea. São objeto de suas reflexões escritores de todas as regiões do Brasil e de países tão distanciados quanto o Chile e a Bulgária, a Alemanha e o México, a Nicarágua e a Espanha.

Mesmo quando escreve sobre assuntos técnicos, ligados a suas vivências profissionais, nunca se deixa tomar pelo frio tecnicismo; ao contrário, seu estilo é sempre irrigado de simpatia e calor humano. O que se disse de Ferreira de Castro, que foi grande “pela arte e pelo coração” (“que só assim se pode ser grande”, completa o nosso autor — citação e comentário extraídos da página 185), tem perfeita aplicação a Waldemar Lopes.

Terminando sua “Nota Prévia”, diz ele, modestamente: “O resto é com o leitor; isto é, se leitor houver.”

Haverá, decerto. Quem conhece a grandeza de sua personalidade e a magnificência de sua poesia —e isso, hoje, significa meio mundo— não deixará passar a oportunidade de completar-lhe o retrato humano e literário, através da amena e enriquecedora leitura destas prosas.
 

Brasília, 19 de fevereiro de 2006.

 

Apresentação do livro O Preço da Liberdade – Prosa Variada de Ontem e de Hoje, de Waldemar Lopes
 

Anderson Braga Horta
Sob o Signo da Poesia: Literatura em Brasília
Thesaurus, Brasília, 2003


 


Leia Waldemar Lopes
 

 

 

 

 

 

01.12.2006