Andréa Santos
Na literatura da contramão: a escrita negra e Gwendolyn Brooks
"I like the concentration, the crush;
I like working with language, as others like working with paints and
clay, or note" - Gwendolyn Brooks
Estamos nos tempos em que se nota uma
rejeição a classificação das ciências, em geral, e dos estudos
literários em particular. Esta qualificação leva ao uso excessivo de
rótulo, resultando numa fragmentação inoperante dos fatos
literários. Então de um lado observo, um querer desligar-se da
asfixia que mostra as circunstâncias de serem rotulados, pois há
quem considere a criação literária transcendente às limitações
impostas pela nacionalidade, sexo, cor e religião.
Conceituar a literatura negra [esta
literatura é tida como de contramão] é, em primeira visão, remeter o
conceito a uma questão etnocêntrica e reacionária – está claro que a
sensibilidade artística vai além da etnia. Ao contrário, acredito
que o fato dos escritores negros assumirem essa classificação
consciente; pode ser interpretada como um sinal deles desejarem
criar. Pois, há uma articulação entre os textos com um modo
particular de expressão, de fala, de visão e sentimento do mundo.
Existe, ainda, utilização de uma linguagem marcada no vocabulário e
na simbologia, empenhada em resgatar a memória esquecida. Desta
forma legitimam uma escrita própria, vocacionada a descontrução do
mundo denominado pelo branco, primeiramente, e logo depois por
negros; e ainda a erigir a sua própria cosmogonia. Logo, a intenção
é de uma literatura cujos valores fundadores repousam sobre a
ruptura com contratos da fala e da escritura, ditados pelos homens e
a respeito da busca de novas formas de expressão dentro do contexto
literário.
Entretanto no interior desta contramão,
encontra-se outra: a literatura escrita por mulheres negras onde
muitas vezes é posta à marginalização nesta produção literária
feminina, uma vez que podemos observar facilmente em antologias
clássicas de letras, raras, são as escritoras inclusas.
Em 1890, alguns intelectuais
afro-americanos decidiram formar uma academia para estudarem autores
e artistas, a fim de melhorar o padrão literário black. A
demonstração do ‘Não’ as mulheres veio no discurso dos sócios
em declarar-se contra a admissão delas na sociedade, porque os
assuntos literários e assuntos sociais não se misturam. A esta idéia
da America Negro Academy [ANA] tinha-se como
defensores os mais ilustres representantes: W.E.B. Du Bois,
Alexander Crummel e outros. Ora, observamos, aqui, um discurso
contra o gênero feminino negro e não devemos esquecer - quando a
questão é preconceito, recaem em ambos os gêneros.
O sexismo na comunidade intelectual
negra era e ainda é mais igualitário que as contrapartes brancas as
quais ajudaram e ajudam a perpetuar a tradição e crítica
predominantemente masculina. Elas trabalharam, continuamente nesta
tarefa de criar, editar, mas também, às vezes, como críticas e ainda
nos estudos da narrativa afro-americana. A antologia tradicional
afro-americana estabeleceu-se como modelo paternalista da literatura
onde compete aos escritores nomear os predecessores dos mesmos para
que sua autenticidade continue em seu controle cumprindo assim com a
tradição. Deste modo, a escrita é considerada singular, sem muitas
representações e por algumas razões desconhecidas, escrever sobre as
negras não é considerado como racialmente em relação a escrever
sobre homens negros; assim foi definido segundo os escritores blacks
que seguiam a direção e forma do cânone literário.
Neste momento, a escritora Zora N.
Hurston e seu o romance Their Eyes Where Watching God, para
Jane- a protagonista do livro- trabalho nem sempre é uma questão de
necessidade e a maternidade, jamais estará nas suas considerações.
Portanto, para Hurston pode-se especular sobre a mulher negra
trabalhando sem pressões: da pobreza e de suas crianças, embora ela
nunca possa estar livre do sexismo e racismo. Este romance recebeu
crítica de Benjamim Brawley porque o interesse da escritora não
estava resolvendo nada. Nesta hora, percebe-se que os críticos
americanos não perdiam muito tempo em avaliar as obras masculinas,
porém para as femininas criticavam severamente pelo mesmo tipo de
negligência cometida pelo um homem. O crítico Richard Wright fez
algumas objeções ao romance de Jane porque o caráter de Hurston [ao
contrário do dele] vive em uma "órbita segura e estreita...entre
risos e lágrimas". Esperava-se que a protagonista de Zora,
primeiramente, fosse casada, dedicada aos serviços domésticos e dos
campos; e ela não fora escrita assim.
Sem
exceção, as mulheres afro-americanas estiveram ignoradas pelos
críticos negros por muito tempo, até quando elas foram redescobertas
e reavaliadas por feministas. Surge, então, a valorização das obras
femininas com a análise feminista, alguns deles foram
reclassificados como a narrativa de Linda Brent, Incidents in the
of a Slave Girl (1860). Esta narrativa havia sido desconsiderada
pelos críticos como melodramática e sem representação. Entretanto
para as redescobridoras, a obra não só retrata a vida de Linda, como
é representativa na vida de muitas escravas.
Quando Gwendolyn Brooks venceu o Prêmio
Pulitzer por seu segundo livro de poemas, a crítica feita referia-se
a qualquer assunto doméstico, menos a qualidade da poeta e seus
poemas. O crítico resolveu escrever uma breve história familiar
dela. Iniciando o artigo com uma lista de pessoas que não
acreditavam no prêmio concedido Sra. Brooks; e também, catalogando
tudo de negativo que a poeta fez depois do prêmio em relação aos
cuidados à família que havia sido interrompido, seu marido que
lançou mão de ser poeta para ser apenas homem- pois, em uma casa não
cabem dois poetas. O artigo não passou de um ato de sabotagem ao
papel de Gwendolyn, na literatura afro-americana, pois a visão a ser
afetada era a de mulher, esposa e artista, porém seus poemas estão
aqui para afirmar a genialidade dela.
Nascida
em Topeka, Kansas (1917-2000), ela está longe de somente interpretar
e escrever sobre a situação do negro na América. Gwendolyn Elizabeth
Brooks celebra a vida negra ianque quando esta vida não dava a
chance de ter a personalidade negra exaltada; especialmente, das
mulheres que não deveriam desejar o ato da escrita. Primeiramente,
não era apreciada por nenhum dos membros de sua raça - os quais eram
denominados de "os de sua cor"; hoje, tem o reconhecimento, chegando
até ser chamada a irmã mais velha da nova geração de escritoras.
Com a morte de ilustres negros como
Malcom X, Martin Luther King e a integração das escolas, Gwendolyn
Brooks1 passou a escrever poemas políticos, mas
estes poemas não eram, necessariamente, radicais. Essas poesias
antes de ’67 seguiam as normas padrão, logo depois ela começa a
experimentar novas formas de criação.
O trabalho de Brooks é verdadeiramente
sobre sua raça, apresentado-a como sendo intelligently visible
não como uma curiosidade para outros, sua obra faz com que o leitor
acabe se identificando.
Trabalhava com jovens escritores negros
e participava da comunidade. Trocou o "ambiente unívoco" para uma
editora exclusivamente negra antes de sua morte em 3 de dezembro de
2000.
The preacher: ruminates behind the
sermon
Gwendolyn Brooks
I think it must be lonely to be God.
Nobody loves a master. No. Despite
The bright hosannas, bright dear-lords, and bright
Determined reverence of Sunday eyes.
Picture Jehovah striding through the hall
Of His importance, creatures running out
From servant-corners to acclaim to shout
Appreciation of His merit’s glare.
But who walks with Him? –dares to take His arm,
To slap Him on the shoulder, tweak His ear,
Buy Him a Coca-Cola or a beer.
Pooh-pooh His politics, call Him a fool?
Perhaps – who knows? – He tires of looking down.
Those eyes are never lifted. Never straight.
Perhaps sometimes He tires of being great
In solitude. Without a hand to hold.
WE REAL COOL
Gwendolyn Brooks
The Pool Players. Seven at the Golden Shovel.
We are coll. We
Left school. We
Lurk sin. We
Strike straight. We
Sing sin. We
Thin gin. We
Jazz June. We
Die Soon.
Nota:
1- Gwendolyn
Elizabeth Brooks também publicou uma narrativa intitulada Maud
Martha. Esta narrativa foi reconhecida por muitos críticos, inovando
a comparação da protagonista Maud Martha com outra escola literária,
porém não houve total reconhecimento ao cânone. Ele, o romance, faz
parte de qualquer tradição da escrita afro-americana ou americana
popular. Para os estudiosos foi surpreendente imaginar a personagem
de voz articulada e poderosa na tradição como uma dona de casa negra
que mora numa Kitchenette ao lado sul de Chicago.
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