André de Castro
Versos a uma muçulmana, Versos versus Versos...
Eu desenhei teu profeta
Para poder confrontá-lo
Mas sei que ele não me escuta
Com teu silêncio, então, falo
Eu coloquei o desenho
Ao lado do nosso leito
Só para que ele te visse
Sempre em prece no meu peito
Eu ofendi teu profeta
Depois, roguei-lhe perdão...
Mas voz que fala em silêncio
Não consola o coração
Desfaço, então, teu profeta
Raiva e prece não resgatam
Nunca os amores malditos
Que os cegos do mundo matam
Só criam remorsos n’alma
Horrendos ódios a Deus
E aos Versos que te arrancaram
Destes meus braços ateus.
O Rio Redondo
Circularmente corre o Rio Redondo
Singularmente escorre com estrondo
Concretamente espanta todo o olvido
Solenemente escreve seu sentido
Criançamente acena ao sol se pondo
Singelamente vai... Sempre compondo...
Seguramente beija, extrovertido,
Sua Margem, que inda o chama de marido
E corre o Rio Redondo em alegria,
E chama a bela Margem de Maria,
E beija com molhada língua a amada...
E percorre seu mundo, loucamente,
E jura que amará, eternamente,
Sua Margem, que o protege contra o nada.
Não partas gentilmente para o fim
Do not go gentle into that good night
Rage, rage against the dying of the light
─ Dylan Thomas ─
Não partas gentilmente para o fim!
Ao menos uma vez, grita, querida!
Eu ficarei sem ti... E tu, sem mim...
Não te cales qual mero manequim!
Acorda tua fúria adormecida!
Não partas gentilmente para o fim!
Nós ficaremos separados, sim
Não te envergonhes de ofender a vida!
Eu ficarei sem ti... E tu, sem mim...
Vai, grita antes que a boca carmesim
Se torne enrijecida e emudecida!
Não partas gentilmente para o fim!
Perdoa-me se fico no jardim,
Perdoa-me se falto à despedida...
Eu ficarei sem ti... E tu, sem mim...
Grita, querida! Isso! Grita assim!
Não saias em silêncio e esquecida,
Não partas gentilmente para o fim!
Eu ficarei sem ti... E tu, sem mim...
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