Mais de 3.000 poetas e críticos de lusofonia!

 

 

 

 

 

 

André de Castro

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André de Castro

 

 

Versos a uma muçulmana, Versos versus Versos...

Eu desenhei teu profeta
Para poder confrontá-lo
Mas sei que ele não me escuta
Com teu silêncio, então, falo

Eu coloquei o desenho
Ao lado do nosso leito
Só para que ele te visse
Sempre em prece no meu peito

Eu ofendi teu profeta
Depois, roguei-lhe perdão...
Mas voz que fala em silêncio
Não consola o coração

Desfaço, então, teu profeta
Raiva e prece não resgatam
Nunca os amores malditos
Que os cegos do mundo matam

Só criam remorsos n’alma
Horrendos ódios a Deus
E aos Versos que te arrancaram
Destes meus braços ateus.

 




O Rio Redondo


Circularmente corre o Rio Redondo
Singularmente escorre com estrondo
Concretamente espanta todo o olvido
Solenemente escreve seu sentido

Criançamente acena ao sol se pondo
Singelamente vai... Sempre compondo...
Seguramente beija, extrovertido,
Sua Margem, que inda o chama de marido

E corre o Rio Redondo em alegria,
E chama a bela Margem de Maria,
E beija com molhada língua a amada...

E percorre seu mundo, loucamente,
E jura que amará, eternamente,
Sua Margem, que o protege contra o nada.


 





Não partas gentilmente para o fim

Do not go gentle into that good night
Rage, rage against the dying of the light
─ Dylan Thomas ─


Não partas gentilmente para o fim!
Ao menos uma vez, grita, querida!
Eu ficarei sem ti... E tu, sem mim...

Não te cales qual mero manequim!
Acorda tua fúria adormecida!
Não partas gentilmente para o fim!

Nós ficaremos separados, sim
Não te envergonhes de ofender a vida!
Eu ficarei sem ti... E tu, sem mim...

Vai, grita antes que a boca carmesim
Se torne enrijecida e emudecida!
Não partas gentilmente para o fim!

Perdoa-me se fico no jardim,
Perdoa-me se falto à despedida...
Eu ficarei sem ti... E tu, sem mim...

Grita, querida! Isso! Grita assim!
Não saias em silêncio e esquecida,
Não partas gentilmente para o fim!
Eu ficarei sem ti... E tu, sem mim...