Jornal de Poesia

 

 

 

 

 

 

 

Barros Alves


 


Uma biografia de Adolfo Caminha




 

Há cem anos, mais precisamente no dia 1º. de janeiro de 1897, falecia no Rio de Janeiro um dos mais festejados nomes da literatura brasileira. Adolfo Caminha, um cearense de Aracati, nem completara ainda trinta anos de idade e já se despedia deste vale de lágrimas, depois de ter vivido uma existência atribulada, própria das personalidades polêmicas. Fora laureado com uma certa fama nos poucos anos de vida, mercê de seu talento como romancista que abraçou o naturalismo como expressão estética para sua escritura de prosador ficcionista. Como poeta não era lá essas coisas, mas andou cometendo alguns versos que mereceram referências esparsas da crítica  daquém e dalém. Foi como romancista que o polêmico escritor tornou-se conhecido em nível nacional. Principalmente após sua morte, como parece ocorrer costumeiramente com as figuras geniais.

Produziu Adolfo Caminha, entre outros livros de feição naturalista, o muito lido A Normalista e o quase desconhecido Bom Crioulo. Este, desde sua publicação, em 1895, vergastado pela hipocrisia e mesmo a ira inquisitorial de uma crítica atrasada e preconceituosa, que chegou a taxá-lo de "livro comunista". Ora, vejam só a que ponto chega a ignorância! E com respeito às análises do Bom Crioulo essa situação parece persistir, esquecendo-se os críticos que lhes ateiam fogo, ser necessário abstrair-se
qualquer visão contrária ao tema abordado por um autor, pois o que está sob análise são as qualidades e/ou defeitos da literatura a ser avaliada, consoante ensina o mestre Tristão de Athayde, um crítico literário que jamais deixou-se dominar por sua visão religiosa do mundo.

Tudo o que acima foi dito e muito mais, o caro leitor saberá ao ler o livro ADOLFO CAMINHA (Vida e Obra), escrito pelo Professor Sânzio de Azevedo, poeta, crítico literário e historiador da literatura. Membro da Academia Cearense de Letras, Sânzio de Azevedo ocupa a cadeira de nº. 1, cujo patrono é Adolfo Caminha. Com dezenas de livros publicados, é considerado com justiça um dos mais preeminentes nomes no cenário da intelectualidade cearense e brasileira. A leitura de mais esse importante trabalho de pesquisa realizado por Sânzio de Azevedo vai colocar o leitor em frente do historiador e analista da nossa literatura, fazendo-o deparar-se não apenas com fatos até aqui desconhecidos da vida do irrequieto romancista aracatiense que finou-se na pujança da juventude, mas também apreciar a análise arguta e a crítica abalizada, da obra do autor d'A Normalista. A propósito: Sânzio de Azevedo observa com propriedade ser o Bom Crioulo a obra prima da produção naturalista do seu biografado. O mui lido A Normalista é, portanto, o mais conhecido do grande público. Porém, não o esteticamente melhor.

Pois bem, meu caro leitor, não é justo que eu lhe usurpe o prazer de beber na fonte a história desse tão talentoso quanto angustiado romancista que foi Adolfo Caminha, um dos que fundaram a famosa Padaria Espiritual, o movimento literário encabeçado por Antônio Sales e que causou pruridos moralistas no Ceará da última década do passado século. Aliás, para não fugir à regra, Caminha veio a romper com os seus colegas padeiros anos depois. É ler ADOLFO CAMINHA (Vida e Obra) e ter o prazer de saber muito sobre a curta trajetória desse homem que foi um dos mais dignos literatos cearenses, cujas narrativas têm empolgado tantos quantos deleitam-se com a leitura de um bom romance. A obra magistral de Adolfo Caminha atravessou os anos e confirma, centenária, a vocação para ser imorredoura. Com o aval de Sânzio de Azevedo que lhe presta esta significativa homenagem no ano em que rememoramos o centenário da morte do romancista. Em tempo: a Editora Artium, do Rio de Janeiro, publica neste ano uma edição do "maldito" Bom Crioulo, o romance que fala do amor homossexual de um marinheiro gay. Daí a ojeriza da crítica.

 

 

 

 

 

15/07/2005