José Molina
Entrevista com Claudio Daniel
1)
Geralmente, os livros de poetas “novos” estão fortemente
influenciados por certas estéticas identificáveis. Este não é o caso
de Sutra, que parece surgir com uma voz já madura. Foi uma
decisão pessoal essa espera para produzir um estilo próprio?
Publiquei o meu primeiro livro de poesia, Sutra, em 1992,
quando tinha 30 anos de idade. Nessa época, eu morava no Bexiga, um
antigo bairro boêmio de São Paulo, com minha mulher, Regina; ouvia
muito jazz, fumava como um louco e trabalhava à noite como
revisor, no jornal Diário Popular. Eu já tinha um repertório
de afinidades eletivas, formado por leituras que vinha fazendo desde
a adolescência; e imaginava aquilo que desejava escrever, os temas,
imagens, melodias, ainda que muita coisa que tenha escrito nesse
período, hoje, eu considere obra imatura, ou lírica inicial, na
melhor das hipóteses.
Creio que Sutra nasceu, em boa parte, de minhas leituras de
poesia simbolista, de Baudelaire, Rimbaud e Mallarmé; da poesia
japonesa, e em especial Bashô (Sendas de Oku, na versão de
Olga Savary, a partir da tradução de Octavio Paz, mas também as
recriações feitas por Leminski) e Hagoromo (a peça nô
traduzida por Haroldo de Campos); isto sem falar dos poetas russos,
como Khlébnikov; e de parte da herança modernista brasileira,
sobretudo Oswald de Andrade, Murilo Mendes, João Cabral de Melo Neto
e a Poesia Concreta. Esse foi o meu ponto de partida, a minha
primeira formação literária. Se consegui, nessa época, esboçar algo
parecido com uma voz pessoal, não sei dizer; isto é tarefa para a
crítica.
Com certeza, houve uma decisão de adiar a publicação do primeiro
livro, já que Sutra reúne peças escritas entre 1983 e 1992.
Não tive pressa naquela época, nem tenho hoje: o livro surge quando
está pronto. É como se ele se escrevesse sozinho, num processo meio
racional e meio inconsciente, algo muito curioso. Hoje, tenho
afinidade por alguns dos poemas de Sutra, como Akma,
Knaat e Invenção do riso branco), embora o livro me
pareça desigual. Com erros e acertos, é o meu ponto de partida, que
abriu caminho para tudo o que fiz depois em Yumê (1999), A
Sombra do Leopardo (2001) e Figuras Metálicas (2004).
Sobretudo, agrada-me a concepção do livro como um monólogo em
fragmentos, com montagens de cenas, como na linguagem do cinema;
essa idéia estrutural, onde o que conta são as imagens sonoras,
que criam uma realidade própria (uma realidade rítmica, cênica),
acho que é o meu rosebud, o meu talismã.
2) O tom oriental, que você diz que gostaria
de ultrapassar, produz em seus poemas um tipo de permanência
ancestral que singulariza seu trabalho dentro das formas praticadas
em Brasil. O que estou tentando assinalar na sua obra é uma
sabedoria que afirma, sem ter que sentenciar, uma poesia que se
aproxima com sutileza à vida, talvez como uma sombra (a de
leopardo). Você concordaria com esta interpretação?
O Oriente nasceu para mim como metáfora: de outras possibilidades de
sentimento estético, de visão filosófica, de experiência espiritual,
enfim, de vida. Sendas de Oku foi o meu livro de cabeceira;
mais tarde, veio o contato com o budismo. Visitei, aos 28 anos, o
mosteiro zen Morro da Vargem, no Espírito Santo, onde fiquei
hospedado por alguns dias, em meio a uma belíssima paisagem. Ao
longo dos anos, visitei também outros lugares sagrados, de
diferentes tradições, numa espécie de peregrinação. Creio que não
poderia resumir, em poucas linhas, o que isso trouxe para mim, em
termos de experiência pessoal. No que diz respeito à poesia, o
contato com o Oriente foi proveitoso em muitos aspectos: não apenas
pela assimilação de símbolos, metáforas, ritmos ou imagens (tão
comuns em Yumê, por exemplo, palavra que significa sonho em
japonês), mas também pelo aprendizado de forma e estrutura.
A mandala, essa figura geométrica que concilia o círculo e o
quadrado, com todo um simbolismo de números, cores, linhas e
detalhes, num conjunto ao mesmo tempo estático e dinâmico, unitário
e múltiplo, é algo que persigo em meus poemas, sem a ilusão de
alcançar tamanha capacidade de síntese (curiosidade: só conheci há
pouco tempo o Blanco de Octavio Paz, que é também um exercício de
criação a partir da mandala. Esse poema foi traduzido ao português
por Haroldo de Campos, num volume chamado Transblanco).
Hoje, não digo que deseje “ultrapassar” essas influências, mas
apenas ressaltar o óbvio, ou seja, que sou um poeta ocidental,
escrevendo para ocidentais (já que não fui traduzido para o chinês
ou o coreano, até a presente data). Se amo pensadores como Lao Tzu,
Nagarjuna e Shankara, não é menor o interesse por Plotino, Montaigne
e sobretudo Schopenhauer (de todos os filósofos, aquele que diz mais
a meu coração). No final das contas, porém, creio que não há mais
Ocidente ou Oriente como mundos distantes, incomunicáveis; vivemos
na mesma esfera, onde o trânsito cultural tem reduzido as barreiras
de costumes, formas de pensamento e de expressão artística.
Orientais ou ocidentais, somos todos uns pobres coitados às voltas
com o nascimento, a doença, a velhice e a morte.
3) Que relação você mantêm com sua primeira
produção agora que está por sair à recopilação Figuras Metálicas?
Seria esta publicação o fechamento de um ciclo?
Sim. Figuras Metálicas é uma antologia de meus três livros
publicados, mais o inédito Livro de Imagens. Os poemas desse
livro estão organizados em seções ou séries, como se fossem pedras
de um quebra-cabeças ou verbetes de um dicionário ou enciclopédia
imaginária. Assim, há peças dedicadas a baratas, formigas, piolhos e
outros insetos, mas também às cores e aos objetos do cotidiano, como
guarda-chuvas, botas de borracha ou secadores de cabelos. Sem
dúvida, não se trata de retratar ou traduzir o mundo das coisas de
maneira ingênua, e sim de criar uma realidade própria e obsessiva,
pela desmontagem e recriação dos referentes como objetos verbais,
seres de linguagem. O crítico José Arnaldo Villar escreveu um texto
de apresentação a este livro, uma página bela e generosa, onde diz
que “cada poema é um organismo com sua própria concepção estrutural,
que se distancia da lógica linear discursiva por meio da elipse, da
analogia e da colagem semântica”. Villar notou que esses poemas,
bons ou ruins, foram pensados como organismos, estruturas,
realidades poéticas (o princípio do criacionismo de Huidobro sempre
foi, para mim, uma bússola, ao lado da afirmação de Edgar Allan Poe
de que a poesia é a “construção precisa do impreciso”). Voltando à
sua pergunta: acredito que, com este volume, eu tenha finalizado uma
fase de minha jornada poética. O que escreverei a partir de agora,
não tenho a menor idéia. Talvez trabalhe com a prosa poética, ou
escreva peças de teatro, ou fique em silêncio, não sei, nem tenho
pressa em saber. Gostaria apenas de acrescentar que esse livro será
publicado na coleção Signos, da editora Perspectiva, por um convite
pessoal de Haroldo de Campos, a quem conheci alguns meses antes de
sua morte. Ter conversado com ele, em alguns momentos, ouvir sua
voz, sua gargalhada, seus comentários sobre tantas coisas (da poesia
chinesa à guerra no Iraque), ver seus olhos brilhantes, foi uma
imensa alegria para mim. Este livro deve muito a Haroldo, que me
estimulou a concluí-lo telefonando para minha casa, do hospital,
durante seus últimos dias de vida. É algo que nunca irei esquecer.
4) Três publicações, outras duas em preparação
e a revista eletrônica Zunái abalam sua presença na poesia
brasileira atual. Qual é sua relação com os poetas de sua geração?
Qual é o panorama que você percebe?
A poesia brasileira, até meados da década de 80, gravitava em torno
do concretismo e da tropicália, dois movimentos importantes, de
repercussão internacional, que estimularam o início do trabalho
criativo de autores como Paulo Leminski, Duda Machado, Antonio
Risério e Júlio Castañon Guimarães, por exemplo. Esse caminho,
porém, começou a apresentar sinais de esgotamento. Era preciso
investigar outras possibilidades de escritura, sob o risco de
cairmos num círculo vicioso. Os poetas de minha geração tentaram
sair do beco sem saída de diferentes formas. Alguns recuaram a uma
poesia mais convencional, conformista, repetindo o poema coloquial e
cotidiano, no estilo de Bandeira e Drummond (é o caso dos poetas que
dirigem a revista Inimigo Rumor). Outros recuaram mais para
trás, em busca do soneto, com sua métrica e chave de ouro,
condenando ao limbo a herança do século XX.
No campo dos que acreditam na poesia como invenção de linguagem,
alguns buscaram o diálogo com a Language Poetry
norte-americana (movimento que tem autores expressivos, como Palmer
e Bernstein, mas que é uma continuação do modernismo dos anos 20, de
Gertrude Stein, Williams, Zukofsky e seus amigos). Esse grupo edita
a revista Sibila, em São Paulo, e tem publicado livros de
poesia minimalista de boa qualidade, ainda que por vezes repetitivos
(pelo uso excessivo das mesmas fórmulas, como a concisão, o espaço
duplo e as letras em caixa baixa). Há também os poetas reunidos em
torno da revista Coyote, que dialogam com o repertório das
vanguardas, a etnopoesia, mas também com outras mídias, como as
histórias em quadrinhos, cinema, publicidade, rock and roll. Há
autores interessantes nesse campo, como Rodrigo Garcia Lopes, Marcos
Losnak e Ademir Assunção, que têm inclusive produzido CDs de música
e poesia.
Uma outra vertente é a dos poetas “excêntricos”, que escolheram o
diálogo consciente com o neobarroco, com o imaginário de outras
culturas, ocidentais e orientais, e até com influxos da poesia oral
africana ou indígena, sem excluir a herança de alguns princípios e
procedimentos do modernismo mais radical e da poesia concreta. São
poetas que praticam algo como um jazz fusion, enamorados pela
estranheza, pela capacidade encantatória, sensorial, da linguagem.
Contador Borges, Horácio Costa, Claudia Roquette-Pinto, Wilson
Bueno, Ricardo Aleixo e Jorge Lúcio de Campos são alguns dos poetas
que eu incluiria nessa linha de criação (que nunca formou um grupo:
são poetas que atuam distantes uns dos outros, até do ponto de vista
geográfico). Este breve panorama é apressado, superficial e, com
certeza, injusto, mas é o que posso dizer, em poucas palavras. É
claro que sinto mais afinidade com os poetas que buscam revitalizar
a linguagem, em vez de mumificá-la. Make it new, como ensinou
o mestre Ezra Pound.
5) Na Virada do Século é uma antologia
importante e coerente com o critério de seleção que você e Frederico
Barbosa estabeleceram. Você pode falar um pouco da origem e
necessidade deste projeto? Como ligar a postura crítica com a poesia
de invenção?
Há alguns anos, era comum lermos na imprensa brasileira, em matérias
de certos críticos, que não havia nada de novo acontecendo na
poesia. Ao mesmo tempo, na universidade, os estudos giravam, como
sempre, em torno de autores consagrados, como Machado de Assis, José
Alencar, Castro Alves ou Carlos Drummond de Andrade. Quando uma
professora do Rio de Janeiro resolveu publicar uma antologia dos
poetas jovens (adotando critérios da teoria dos gêneros), o
resultado não poderia deixar de ser desastroso, pelo seu profundo
desconhecimento da produção dos autores mais novos. Apenas as
revistas literárias, de pequena tiragem e circulação restrita,
estavam mais receptivas e bem-informadas, justamente por serem
editadas por poetas, que sabiam o que estava acontecendo de mais
consistente, mais criativo, mais vivo, no período. Essa produção era
(e de certo modo continua sendo) marginal, com dificuldade de
inserção na mídia e no mercado editorial. Por todas essas razões, eu
e Frederico Barbosa (ele próprio um poeta notável, autor de livros
como Rarefato e Nada Feito Nada) resolvemos organizar
uma antologia que centralizasse o foco nos autores que não se
conformavam à repetição do mesmo, buscando outros caminhos para a
poesia. O resultado foi uma seleção de 46 nomes, de diferentes
tendências e estilos, num mapeamento em profundidade da poesia
inventiva produzida no Brasil nas décadas de 80 e 90. Como sempre
acontece em antologias, é claro que há algumas (poucas) ausências, e
não houve consenso na recepção a este livro, que agradou a gregos e
desagradou a troianos. Porém, creio que Na Virada cumpriu a
sua missão de assumir uma postura crítica em relação à poesia do
presente, fazendo uma intervenção até certo modo polêmica, mas
embasada nas idéias em que acreditamos.
6) O seu interesse na poesia de América Latina
está manifesto nas suas traduções, como a antologia do neobarroco, e
diálogos com poetas uruguaios, peruanos, cubanos, mexicanos etc. Em
que forma estas relações tem influenciado seu trabalho? Qual é a
relação da poesia brasileira com os vizinhos de língua espanhola?
O meu interesse pela poesia neobarroca e por outras linhas
experimentais vem desde meados dos anos 80. Por conta desse
fascínio, publiquei coletâneas com traduções do cubano José Kozer,
do uruguaio Eduardo Milán e do dominicano León Félix Batista, e devo
lançar, ainda em 2004, um volume dedicado ao uruguaio Victor Sosa e
a antologia Jardim de Camaleões, a Poesia Neobarroca na América
Latina, a sair pela Iluminuras, a convite de seu editor, Samuel
León. O convívio com esses autores (e sobretudo com Lezama Lima) sem
dúvida influencia e estimula o meu trabalho poético. Sempre senti
mais afinidade com as poéticas marginais, excêntricas, excessivas,
apaixonadas pela loucura da linguagem, do que por modos tradicionais
de escrita. Nesse sentido, vejo muito mais vitalidade e força
expressiva no que acontece na América Latina do que nos EUA, por
exemplo. Fico feliz com a maior aproximação que existe hoje entre os
poetas brasileiros e os latino-americanos, que durante muito tempo
ignoravam a produção uns dos outros (já que estavam enamorados por
Paris ou Nova York). Com a Internet, sem dúvida, ficou mais fácil o
diálogo, que tem estimulado inclusive o trabalho de tradução, a
colaboração em revistas e até a edição de livros. Usando o correio
eletrônico, por exemplo, mantive (e mantenho) intenso diálogo com
José Kozer, o que foi fundamental para levasse a cabo a publicação
de antologias de seus poemas, que organizei e traduzi em parceria
com Luiz Roberto Guedes. Vale a pena citar também a antologia de
poetas brasileiros organizada por Reynaldo Jiménez para a revista
Tsé Tse (Pindorama, 30 Poetas de Brasil), que seria quase
impossível sem a Internet. No campo universitário e ensaístico,
ainda precisamos fortalecer mais os vínculos entre as duas Américas,
mas convém mencionar os estudos pioneiros realizados nesse campo, no
Brasil, por Haroldo de Campos, Irlemar Chiampi, Horácio Costa e
Jorge Schwartz.
7) Qual é o critério no seu trabalho como
tradutor para escolher determinados textos, autores e línguas? Em
que sentido a tradução é ainda um processo de absorção cultural ou
transculturizante? É possível dizer que a poesia constitui uma
ferramenta para os processos de globalização?
O poema precisa me seduzir, me encantar, pela música das palavras,
pela força das imagens, pela estranheza léxica ou sintática. Precisa
me ensinar algo que não sei. Comecei a traduzir poemas do espanhol
aos 28 anos, fascinado por En la Masmédula, de Girondo;
Trilce, de Vallejo; e Altazor, de Huidobro. Essas obras
foram essenciais para mim, por sua beleza inquieta; creio que várias
peças de Sutra, meu primeiro livro de poesia, não seriam
possíveis sem a leitura desses autores, que traduzi de maneira
esparsa, sem reunião em volume. Minhas primeiras traduções foram
exercícios ou estratégias de leitura, sem outro objetivo que o de
estudar a linguagem dos poetas que amava; não tinha, então, qualquer
projeto sério nesse campo, o que surgiu apenas depois de conhecer a
poesia de José Kozer, que passei a ler e traduzir de modo mais
sistemático.
Não tenho nenhuma teoria da tradução, nem pretendi criar algo
diferente nessa área; quis apenas divulgar aos leitores de língua
portuguesa, e aos poetas, em especial, autores que considero
relevantes ao nosso fazer poético. Quis estabelecer o diálogo com
Kozer e alguns outros, Milán, Jiménez, Sosa, Coral, pensando no
intercâmbio entre as duas literaturas do continente, que tanto
possuem em comum, por sua história e formação cultural. Com certeza,
outros poetas e tradutores fizeram isso com mais brilho do que eu,
mas alegro-me de ter contribuído, de alguma maneira, para que um
número maior de leitores brasileiros tivessem acesso a textos de
autores latino-americanos contemporâneos..
No campo teórico, estou de acordo com as teses de Pound, que via na
tradução uma forma de crítica literária e de invenção. Estas teses
foram aprofundadas, no Brasil, pelos estudos de Haroldo de Campos,
em obras como A Arte no Horizonte do Provável e A Operação
do Texto, que mantêm plena atualidade e seguem inspirando os
jovens tradutores. É possível também ver a tradução de um ponto de
vista “antropofágico”, no sentido que Oswald de Andrade dava ao
termo, ou seja, devoração crítica, seletiva, do que havia (ou há) de
mais inventivo em outras latitudes, para aprimorar a nossa própria
criação, posição oposta à da cabeça colonizada, que incorpora, de
maneira acrítica, qualquer porcaria produzida pela indústria
cultural norte-americana. É interessante recordar, também, o
princípio haroldiano (derivado de Goehe e Marx) de uma
transculturação, ou seja, um universalismo ou comunhão dos bens
culturais mais avançados da humanidade, de qualquer tempo ou espaço,
via tradução (que Haroldo intentou realizar em suas versões da
Bíblia, da poesia chinesa, japonesa, alemã e russa, entre outras, ao
lado de seu irmão Augusto e de Décio Pignatari).
Todos esses temas, da antropofagia à transculturação, nada tem a ver
com o conceito de globalização, que é outra coisa — uma fase da
história em que o estado nacional começa a desaparecer, ou
enfraquecer, frente a um novo sistema autoritário, impessoal e
desumanizante, que é a hegemonia do capital internacional, e
sobretudo do capital financeiro. Nesse tempo áspero, em que os
interesses das grandes corporações transnacionais conduzem guerras
para lucrar com a reconstrução de países demolidos (como o Iraque),
assistimos também a uma perigosa onda de intolerância contra toda e
qualquer diferença étnica, religiosa, cultural. A mídia tenta impor
modelos de comportamento, de cultura e de linguagem nos quatro
cantos do planeta, sobrepondo a uniformidade à diversidade. É a
versão mais inteligente e hi tec do fascismo, já previsto nas
anti-utopias de George Orwell e Aldous Huxley. Neste sentido, creio
que a poesia é uma forma alternativa de resistência à barbárie. É um
modo de dizer, como Mishima: eu não concordo.
Julho de 2004
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