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Jornal do Conto

 

 

Caio Porfírio Carneiro


 


Não Dá...



 

- Quero isto pronto ainda hoje.

- Hoje?

- Hoje.

Olhou o sol declinado e descobriu, aflito, que não conseguiria cumprir a tarefa antes do cair da noite. Mas baixou a cabeça e entregou-se, com a máxima rapidez, a ladrilhar, o suor pingando do queixo, das axilas. Na pressa e no nervosismo quebrou alguns ladrilhos.

- Meu Deus.
O sol descia e o ladrilhado avançava pouco. A vista turvou. Sentou-se no chão, abanou-se com o velho chapéu. Fome medonha. Sede medonha.

Os passos aproximaram-se:

- E então?

Olhou para ele, súplice:

- Não dá...

Primeiro o pigarro, depois a decisão aborrecida:

- Tudo bem. Chamo outro para o serviço. Pode ir. Venha amanhã receber as horas de serviço.

Ainda quis argumentar, o alpendre era grande. Apenas levantou-se, pôs o chapéu na cabeça e rumou para casa.

A primeira pergunta, logo à entrada, os olhos dela esperançosos:

- Arranjou serviço?

A sede confundia-se com a fome. Olhou além dela e viu o monte de ladrilhos e o vasto alpendre.

- Não deu...

Sentou-se à mesa, mãos cruzadas ao queixo, à espera de alguma coisa que ela lhe pudesse trazer para comer.