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Maria Azenha

Poussin, The Empire of Flora

Poesia:


Alguma notícia da autora:

 

 

William Bouguereau (French, 1825-1905), Reflexion

 

John William Godward (British, 1861-1922),  A Classical Beauty

 

 

 

 

 

Titian, Venus with Organist and Cupid

 

 

 

 

 

Maria Azenha


 

Bio-Bibliografia


Maria Azenha (Coimbra, dezembro de 1945) é uma poeta portuguesa.

Licenciou-se em Ciências Matemáticas pela Universidade de Coimbra. Exerceu funções docentes nas Universidades de Coimbra, Évora e Lisboa. Desempenhou actividade docente no Quadro de Nomeação Definitiva na Escola de Ensino Artístico António Arroio. Membro da Associação Portuguesa de Escritores e Membro de Honra do Núcleo Académico de Letras e Artes de Lisboa.

Obras

  • Folha Móvel, Edições Átrio, Lisboa
  • Pátria D' Água, Edições Átrio, Lisboa
  • A Lição Do Vento, Edições Átrio, Lisboa
  • O Último Rei de Portugal, Colecção Poesia, Fundação Lusíada, Lisboa
  • O Coração dos Relógios, Editora Pergaminho, Lisboa
  • Concerto Para o Fim do Futuro, Editora Hugin, Lisboa
  • P.I.M. (Poemas de Intervenção e Manicómio), Universitária Editora, Lisboa
  • Poemas Ilustrativos de Pintura de Valdemar Ribeiro, Edição Symbolos, Porto
  • Nossa Senhora de Burka, Editora Alma Azul, Coimbra
  • Poemas Ilustrativos - De Camões a Pessoa - Viagem Iniciática, Editora Setecaminhos, Lisboa
  • A Chuva nos Espelhos, Editora Alma Azul, Coimbra
  • O Mar Atinge-nos, CD - Editora Discográfica Metro-Som, Lisboa
  • De Amor Ardem os Bosques, Edição Independente, Lisboa
  • A Sombra da Romã, Editora Apenas Livros, Lisboa
  • Num Sapato de Dante, Escrituras Editora, São Paulo, Brasil - Semifinalista ao Prémio Portugal Telecom de Literatura
  • A Casa de Ler no Escuro, Editora Urutau, São Paulo BR e Galiza ESP (1ª. Edição Esgotada | 2ª Reimpressão, Maio de 2017) — Finalista do Prémio Internacional de Poesia Glória de Sant' Anna 2017
  • As Mãos no Fogo, Escrituras Editora, São Paulo, Brasil
  • Xeque-Mate, Editora Urutau, São Paulo BR, Galiza ESP e Portugal
  • De Amor Ardem os Bosques - (Edição revista) - Editora Jaguatirica, Rio de Janeiro, Brasil
  • A Mamã por Cima dos Telhados e o meu Amor, Editora Urutau, São Paulo BR, Galiza ESP e Portugal
  • Bosque Branco, Editora Urutau, São Paulo BR, Galiza ESP e Portugal
  • A Loucura das Facas, Editora Urutau, São Paulo BR, Galiza ESP e Portugal

(Texto redigido em 29.12.1022)

 

 

 

 

 

 

 

Caravagio, Êxtase de São Francisco

 

 

 

 

 

Maria Azenha


 

Mamã! Mamã federal !
(ao Pedro, meu filho)

mamã:

o meu corpo caiu na pia baptismal. Foi um percalço.
recebi a tua bênção com os óleos santos
em algodão de rama.

Mas que faço agora eu neste bordel das lágrimas,
com tantas orlas com tantos véus,
a fabricar poemas nas morgues do Céu?

Que faço agora eu artesã do sangue
com a minha mão profana que ficou grávida?
E a minha mão direita é ainda uma têmpora
num país distante com lágrimas de sal

mamã!:
envia um telegrama a todos os jornais, anuncia
com o meu coração em febre,
com todos os meus punhos cerrados como que a rezar,
que eu fumo cambodja, liamba,
hiroxima, armas nucleares,
que rendilho a ferros todos os meus cárceres
com as palavras brancas do medo
que saltam dos meus olhos.

Eu roubei a todos os arcanjos as palavras do ódio!
eu fumo cachimbos, goelas de bairros, narcóticos, drugstores democráticos; mato vinte e sete pessoas por cada prato faço massacres na américa central cravo balas nos vestidos amarelos das crianças estrangulo o tempo com o sexo dos eléctricos ilumino as fezes com feiuras sacro-santas faço ícones com toda esta tristeza humana.

mamã,
eu rasgo «cânceres» de papel, trabalho as sombras
com as lágrimas de plástico,
mexo na história com cadáveres brancos
estendo os meus braços em tecnicolor
como numa tela circular humana.

mamã,
eu encolho os ombros, espirro,
bebo cafés evangélicos, grito com os filhos.
mamã, vivemos juntos!, isto é o meu mau génio.

ah, mas o Vaticano,
esse grande gangster de robe,
que anuncia
a paz para os domingos, essa pia
baptismal onde eu também caí com fome
foi um percalço.
e o pavimento lustral da carniçada humana
pisando o sangue , os incensos
da guerra,
onde não cabe agora aí o trigo!

mamã,
e os uniformes azuis a dizer
tão bem com as velas,
e os pássaros
e as indochinas
e os vitrais da esperança com tanta luz.
a difundir as trevas com vapores de chumbo.
e os trigais maduros a vencer
o chão, a curvar a terra
aos anéis do mundo; e as lutas armadas
e as recitações de tréguas
e as missas solenes lidas à breviário,
cantadas por gorilas
com sapatos d'anjos.
e a guarda civil e as patrulhas
e os ofícios e as escolas
e as embaixadas anfíbias nas tuas nádegas
onde fica agora aí toda a tua força política.
e os tribunais de togas a julgar
os crimes a barricar as fomes
esquecendo as dívidas.

mamã,
onde fica o grande rio das palavras onde fica guatemala
onde fica a noite dos tam- tans onde fica a esperança
com os olhos de napalm?!

onde fica a vida mamã-sacrária?
mamã! mamã federal,
esta manhã eu mijei todas as rimas
todos os versos brancos,

nessa pia baptismal!
 

 

 

Herbert Draper (British, 1864-1920), A water baby

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José Alcides Pinto

 

 

 

 

 

Andreas Achenbach, Germany (1815 - 1910), A Fishing Boat

 

 

 

 

 

Maria Azenha


 

Ovo Nuclear
 

este reencontro com o Silêncio na procura de mim mesmo
esta busca de Paz em cada ave
em cada movimento
como uma janela entreaberta

este centro que 
evolui com a paisagem

esta Viagem ao país do meu rosto
a  minha janela fotográfica
este cigarro que acendo
e
que procura 

Ovo

 

 

Um esboço de Da Vinci

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Weydson Barros Leal

 

 

 

 

 

William Bouguereau (French, 1825-1905), A Classical Beauty

 

 

 

 

 

Maria Azenha


 

Um fantasma branco de nuvens e cabelos
 

falo de um espelho secreto entre os meus dedos
um espelho que reflecte múltiplas imagens
um espelho que
de cada vez que alguém chama por um nome inteiro
sucede nele um tremor de terra

e o espelho quebra
ficam então os estilhaços dele
entre os meus dedos
que entraram abruptamente no meu cérebro
vejo agora e de mais perto
um rapaz com asas e sem lágrimas:

um fantasma branco de nuvens e cabelos...

 

 

Franz Xaver Winterhalter. Portrait of Mme. Rimsky-Korsakova. 1864.

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Roberto Pires

 

 

 

 

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