Mais de 3.000 poetas e críticos de lusofonia!

 

 

 

 

 

Dimas Macedo

 

Uma recolha de ensaios sobre a obra de Pedro Henrique Saraiva Leão
 

 

Tempo e Antítese, acerca da poesia de Pedro Henrique Saraiva Leão, não seria, como se pode à primeira vista supor, uma tese de motivação acadêmica. Não corresponde, por outro lado, a uma visão abrangente da obra desse poeta de dicção singular, pois não foi esta a intenção ou a decisão do organizador. Os textos, na sua maioria, já estavam escritos - até publicados - quando resolvi enfeixá-los no presente volume.

Trata-se de uma recolha de ensaios, portanto, alguns solicitados  diretamente pelo organizador, entre eles me parecendo oportuno destacar aquele de autoria de Floriano Martins, que fala na existência de uma ''poesia dimensionada por uma ampla visão do mundo''. E mais: entende ''também necessário questionar o pouco apreço crítico que se reveste a poesia de Saraiva Leão no âmbito da literatura cearense''.

A dimensão plástica e multifária da poesia pedroenriqueana - inclusive no sentido da sua leitura visual e cênica - é destacada por Noemi Elisa Aderaldo, num texto anterior à concepção desta coletânea, mas ainda hoje infelizmente inédito, e que aponta, igualmente, para a reconstrução da escrita na poesia de Saraiva Leão, que é autor, segundo o ensaísta e crítico Paulo de Tarso Pardal, de uma obra poética reveladora, sob todos os aspectos, pois a poesia de Pedro Henrique ''parece ter o propósito de desnudar não só os mistérios do mundo interior e simbólico do poeta, mas, acima de tudo, de revelar o que há de mais importante na poética de um  criador - a estética''.

A densidade estética é também visualizada e perseguida por Giselda Medeiros, num texto instigante e permeado todo ele de boa erudição, intitulado ''Os Eus de Pedro Saraiva Leão'', ficando com o olhar crítico do poeta José Helder de Sousa a precisão de enxergar o discurso erótico como uma das possibilidades e uma das muitas facetas do autor de Concretemas (1983), Poeróticos (1984) e 12 Poemas em Inglês (1960).

Tempo versus antítese foi a perspectiva a partir da qual o poeta Batista de Lima sentiu a pulsação de Meus Eus (1995), o livro mais duradouro e maduro de autoria de Saraiva Leão. Não o mais transbordantemente lírico, no entanto, pois em Ilha da Canção (1983) Pedro Henrique consegue os melhores efeitos desse processo de transbordamento, elevando sua poesia também à mais pura forma de inventividade e à sua mais bela linguagem discursiva.

O texto de Jorge Pieiro, possivelmente por ser o mais profundo, sendo o mais extenso, coloca, a meu juízo, a poesia de Pedro Henrique no seu devido lugar, pois chama a atenção para o virtuosismo e para a expressão universal e libertária dessa mesma poesia, marcada pelo signo da sintaxe e da fragmentação.

Para Assis Brasil, do alto da sua estatura de crítico, Pedro Henrique ''é um dos melhores e mais inventivos poetas brasileiros''. Já para a ótica de Francisco Carvalho é o autor de Meus Eus ''um mestre na arte de subverter a ordem constituída dos raciocínios e das palavras'', argumentação com a qual concordo plenamente, pois me parece que a poesia de Pedro Henrique é, em essência, um libelo contra as convenções da linguagem e as aporias do senso literário comum.

O estudo de Alcides Pinto, que serviu inicialmente de prefácio do livro Concretemas, editado em 1983, é revelador da atitude experimental assumida pela poesia de Pedro Henrique, assim como da sua adesão à vanguarda poética concretista, num dado momento da sua trajetória, mostrando-nos o autor de O Dragão o quanto o nome de Pedro Henrique representou como um do marcos de referido movimento literário no Ceará e no Brasil.

A poesia de Pedro Henrique é vista por Juarez Leitão a partir de sua dicção metafórica e de seu revigoramento lírico e afetivo, isto tudo a partir de um texto que encanta, principalmente, pela exuberância da sua linguagem poética e pela força da sua motivação retórica e interpretativa.

Trívia, o mais recente livro de Saraiva Leão, publicado em 1996, é resenhado e um pouco dissecado pela emoção e a pena ilustre de Faria Guilherme, um veterano das letras cearenses, que conhece, como Pedro Henrique, a carpintaria da editoração gráfica do discurso poético, realizando assim um texto complementar e diferente, mas talvez não tão instigante e diferente quanto a ''Crônica para um libertário'', de autoria de Elvia Bezerra, que leu o poeta por dentro mas também por fora, isto é, o poeta plantado em meio à sedução e à solidão da boemia, rodeado pela admiração dos amigos, segurando um copo de wisky e sondando, com a expressão corporal e a linguagem dos olhos, o significado da condição humana e os limites do imponderável.

Ilha da Canção foi o livro de poemas de Pedro Henrique que inspirou o doutor Newton Teófilo Gonçalves, seu professor na Faculdade de Medicina da UFC e seu colega na Academia Cearense de Letras. O texto foi recolhido do volume intitulado Prosa dispersa, publicado em 1995, pelo Programa Cultural da Casa de José de Alencar, como parte integrante da Coleção Alagadiço Novo.

Ao texto do doutor Newton Gonçalves, no final do volume, junta se uma contribuição acadêmica de caráter também erudito. Trata-se de ''A obra científica e literária de Pedro Henrique Saraiva Leão'', de autoria do professor Pedro Paulo Montenegro, um dos expoentes da crítica literária do Ceará. Corresponde ao discurso de recepção do poeta na Academia Cearense de Letras. O texto, talvez sem que tenha sido a pretensão do autor, reflete uma visão de conjunto: sintética, concisa, datada porém de um momento em que somente era possível o estabelecimento de uma visão parcial.

Por último, o texto por mim elaborado ainda em fins de 1995, à
propósito de Meus Eus. Uma notícia crítica, desprovida, com a mais absoluta certeza, de toda e de qualquer pretensão. O trabalho, no entanto, teve a predisposição de mostrar a curva ascensional da poesia desse expressivo bardo cearense. Um desses raros poetas de trajetória, tão difíceis de serem encontrados nos escaninhos das diversas províncias literárias.

Quanto aos motivos que me levaram à organização dessa coletânea, não me parece seja necessário declinar uma linha sequer. Uma boa dose de admiração. Possivelmente uma dose de wisky outra vez. écios da imaginação. A fragmentação e o espanto. A ânsia de deslizar na borda de uma estrela ou de carpir o coração da lua.

Ainda sobre a obra do poeta:

''Tarefa difícil é encontrar um poema de Pedro Henrique Saraiva Leão que não tenha alguma ligação com o tempo. Esse tempo pode se apresentar de diversas formas. A mais comum é a cronológica. É nessa forma que o tempo se apresenta corrosivo, desembocando muitas vezes numa ligação íntima a tanatos. Como uma das características marcantes de sua poética é o jogo das antíteses, como marca das contradições existenciais, fontes alimentadoras de sua temática, o autor contrapõe sempre a eros, tanatas, ''um que fenece'', outro que ''viceja''. Desse jogo entre extremos que se entrechocam, nasce a culminância poética do livro Meus Eus, Edições UFC/Coleção Alagadiço Novo, 1995...''.
 

 

Pedro Henrique Saraiva Leão

Leia Pedro Henrique Saraiva Leão