Mais de 3.000 poetas e críticos de lusofonia!

Lucas Tenório

lucas_tenorio@zipmail.com.br

Poussin, The Triumph of Neptune

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poesia:


Ensaio, crítica, resenha & comentário: 


Fortuna crítica: 


Alguma notícia do autor:

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

William Bouguereau (French, 1825-1905), Admiration Maternelle

 

Frederic Leighton (British, 1830-1896), Antigona

 

 

 

 

 

 

 

 

Alessandro Allori, 1535-1607, Vênus e Cupido

 

 

 

 

 

Lucas Tenório


 

Bio-Bibliografia


Lucas Tenório nasceu em 1969, na cidade de Recife, em Pernambuco, o que em si já justifica, em parte, seu envolvimento com a poesia. Terra de grandes como Manuel Bandeira (o predileto de Lucas, sem a menor dúvida), Carlos Pena Filho, João Cabral e tantos outros, Recife respira ar poético. Há poesia nos muros, nos ônibus, nos panfletos, nas escolas, na universidade, em tudo.

Além disso, desde menino observava a vida de um ângulo lírico, no quintal, brincando com as irmãs, com gafanhotos e libélulas, observando e aprendendo que a beleza pode se esconder nos lugares e seres mais inesperados. Ou nas palavras, como ziguezigue, por exemplo. Não era, contudo, nenhum santinho: tinha um galo de briga e o colocava em rinhas. Espiava as pernas da empregada...

Na adolescência entristeceu, como Peter Pan, que não queria crescer. Vendo isso, e como sempre preferiu os tristes e de coração profundo, a Poesia chegou-se a ele e lhe deu sonetos, a brincadeira de gente grande. Como todo poeta sabe, os sonetos viciam, e ele compôs muitos, até que passou a brincar-compôr também em versos soltos, livres. Mas ainda faz sonetos belíssimos e prazerosos como um gole de café.

Lucas tem poemas espalhados pela Net, em sites e revistas portugueses e brasileiros e, ainda, em coletâneas.

Seu verdadeiro nome é Carlos Galvão Neto, e ele diz que Lucas Tenório é seu pseudo-heterônimo, talvez querendo dizer que é Lucas o verdadeiro Carlos. É funcionário público, como o foram muitos poetas, e formado em Administração de Empresas. É divorciado e pai de Gabriela e Álvaro. De si, diz apenas que:

"Sou alguém que gosta do que não sabe. E sabe do que não gosta. Portanto, gosta também do que sabe. E por isso, procura não saber o que sabe pra não deixar de gostar do que gosta, e poder gostar, um dia, do que não gosta. E sempre gostaria...Bom, brigo pouco, como muito, durmo pouco, falo muito, sinto muito, amo muito, vejo pouco, penso muito, calo pouco, danço pouco, canto muito, erro muito, vivo pouco, vivo muito, bebo muito, muito pouco. Mudo um pouco. E não muito".

O resto? O resto se descobre lendo seus poemas, como verá o leitor.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Da Vinci, La Scapigliata, detail

 

 

 

 

 

Lucas Tenório


 

Catavento


Gira, gira Catavento
Senão meus olhos estacionam.
Traz-me a brisa das auroras
Vem com os sons que não me enganam.

Catavento, Catavento.
Fale a língua dos Besouros
Não me traga gesto humano
A cantiga das Cigarras...

Borboletas, Catavento
Sai atrás das coloridas
Mas me leve às esquecidas
Onde pousa a solidão

E se passa, Catavento
Ziguezique nessa cauda
Dê-lhe um laço pelas costas
que me leve pelos sonhos...

Pois Catavento, gritaria
Só das crianças nas ruas
Ah, essa sim jogue na cara!
Em rajadas, bofetadas
Tempestades, beliscões
Não deixe raios sem trovões
Se um dia escuro,
a noite é clara!
Com muita chuva,
inundação.

Catavento, vai na barquinha com
a alegria.

Catavento,
deixa remar meu coração.
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Ingres, 1780-1867, La Grande Odalisque

 

 

 

 

 

Lucas Tenório


 

Falando de amor


Eu não falo de amor porque sou triste.
E a minha tristeza me amordaça.
Não falo do amor presente,
Como não falo do amor que passa.

Eu não falo do amor transeunte,
Inconstante, transitório, aparente.
Falo do amor a essência.
Falo do amor ao avesso.

Eu não falo do amor em versos.
Falo do amor no silêncio.
Tenho o amor em pensamento.
Não falo do amor em flores.

Não falo do amor dos amantes,
Que se despedem antecipadamente.
Falo do amor eterno.
Falo do amor permanente.

Eu não falo do amor dos bêbados,
Dos tolos, dos iludidos.
Falo do amor esquecido.
Falo do amor que tenho.
 

 

 

 

Crepúsculo, William Bouguereau (French, 1825-1905)

Início desta página

Albertus Marques

 

 

 

 

 

 

 

 

Caravagio, Tentação de São Tomé, detalhe

 

 

 

 

 

Lucas Tenório


 

Luminância


Tem roçado meus sentidos docemente.
Vem no leito dos albores da alvorada
Deitar luz pelos meus olhos, disfarçada,
Em murmúrios, leves, frouxos e dormentes.

És nas tardes horizontes, nuvens claras,
Onde deito por teu colo verdejante.
Bebo o brilho de tua face, tão fragrante,
Do ocaso que nos cantam essas searas.

É da noite um clarão, suas estrelas,
refulgentes pelo orbe infinito,
a certeza do quão tudo é tão bonito...

Então sós na madrugada, uma centelha
do calor que aflora à tua pele fria,
me arrebata...
ao romper-te em novo dia.
 

 

 

 

Inocência, foto de Marcus Prado

Início desta página

Sérgio Castro Pinto

 

 

 

 

 

 

 

 

Franz Xaver Winterhalter. Portrait of Mme. Rimsky-Korsakova, detail

 

 

 

 

 

Lucas Tenório


 

Amenidades


Vamos falar de amenidades agora.
De flores que estão brotando lá fora.
Dos lindos nenês que nascem
nas maternidades.

É preciso falar de amenidades,
a gente quer!
do jogo do final de semana
do Natal que se aproxima...
E olha lá!
Vá desejar a todos muitas,
mas muitas felicidades!

Vamos falar de amenidades, vamos sim.
Eu prefiro o azul, você não gosta de mim.
Mamãe gosta do verde, ou do encarnado
meu vizinho acordou com um pé inchado.

Amenidades é bom de se falar,
e escutar!
Os médicos estão em greve
O menor abandonado
foi pro diabo que lhe carregue
mataram mais um tamanduá bandeira.

Ah... amenidades...
Na ribanceira
de um morro da periferia
cem soterrados.
Chuva forte e a previsão do tempo:
o Brasil cresceu um décimo por cento.

Quanta amenidade... mas isso é bom!
Faz relaxar a gente, brava gente!
baixou o preço do bombom -
(- Vou dar uma caixa pra minha namorada!)

Que escalada de amenidades, essa atual?
É um tempo fértil
e genial,
isso é!
Descobriram um gene da barata
do cupim, da mosca...
e de uma ameba.

Ah... amenidades, amenidades...
Os corações viraram pedra!
Espero um beijo no rosto
há tantos anos...
E só me dizem:
te dou mais tarde,
te dou mais tarde
te dou mais tarde...


 

 

 

Psi, a penúltima

Início desta página

Artur da Távola

 

 

 

 

 

 

 

 

Thomas Colle,  The Return, 1837

 

 

 

 

 

Lucas Tenório


 

Luz, Alfazema e Pão com manteiga


Onde é?
É numa Venda?
Que eu vá com uma venda
às quinquilharias.
E não profanem meus sentidos -
(banha, ovos e ninharias.)

Quando menino eu comprava
bala de amendoim, chiclete
e um carretel de linha.
Papel de seda, picolé
com um álbum de figurinhas.
Mas não profanem meus ouvidos:
(pequenez, arrogância e mesquinharia.)

No Carnaval tinha bisnaga,
óculos d`água
e dente postiço de vampiro.
Mas não profanem tudo aquilo:
(aridez, cegueira e antropofagia.)

- Luz, Alfazema e Pão com manteiga...


 

 

 

Ticiano, Magdalena

Início desta página

Maria da Graça Almeida

 

 

 

 

 

 

 

 

Leighton, Lord Frederick ((British, 1830-1896), Girl, detail

 

 

 

 

 

Lucas Tenório


 

Habitat


Que habite no meu poema.
Seja ele casa
com as paredes ortogonais.
Sei que não a casa de Vinícius,
sem chão,
o largo dos pacifistas.

O meu modesto poema requer
um mocambo Freyreano.
Sei que não o mocambo alagoano
do guerreiro das senzalas,
da tribo dos Palmares,
nova tupinambá.

O meu verso de taipa e argila,
a sala do sertanejo Lampião.
Sei que não a casa do Conselheiro,
o de lá,
com seu lajedo que ainda hoje cintila
ao sol de Belo Monte.
(a casa do desmonte dos generais)
Reerguida atrás do front,
bem aqui atrás,
na ante-sala-gleba do testamenteiro.

O meu poema requer uma casa,
um monumento ao séquito brasileiro.
Sei que não ao séquito modernista,
regionalista, concreto ou pós-moderno.

O meu poema só neste caderno.
No sêmen dessas poucas palavras.


(Inspirado pelo poema "Habitação", de Soares Feitosa.)

 

 

 

Rubens_Peter_Paul_Head_and_right_hand_of_a_woman

Início desta página

Marco Lucchesi

 

 

 

 

 

 

 

 

Titian, Three Ages

 

 

 

 

 

Lucas Tenório


 

Meu Pensamento, minha Cotovia...


Pensamento meu...
És meu melhor amigo.
Mensageiro ambulante
em gaivota fugaz.
Turbilhão de desejos
em carrossel de sentidos,
Que em minh`alma se faz,
se desfaz, se refaz...

Cotovia, alegria,
és meu tinido mudo!
Como a brisa passante
dessas primaveras...
Pensamento, espera!
... me emudeça com ela...
......................

(- Será este pr`a ti
um cortejo absurdo?)

Mas por quê? Afinal,
não és tu a que voa?
Pois que tal, da janela,
joga aos ares tuas velas!
Que os meus sonhos, menina,
já vão de vento em proa...

Cotovia, psiu! Ô Cotovia,
sê`nessa caravela,
nosso pouso distante,
e que nos deixem à toa...

Tempestades, Tufões...?
Só nos querem as garoas...


(Inspirado em Manuel Bandeira e em Chico Buarque, e em homenagem a uma pernambucaninha da garoa, não menos leve e talentosa.)
 

 

 

Bernini_Apollo_and_Daphne_detail

Início desta página

Adelaide Lessa

 

 

 

 

 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), Plaza de toros

 

 

 

 

 

Lucas Tenório


 

Noite


Sonhei com um soneto somente.
Era apenas um soneto, um soneto só.
Um soneto tão sozinho que dava dó.
Sonhei com um soneto, indiferente.

Era apenas um soneto, soneto mudo.
Ele não pedia nada, não me falava.
Entretanto me encarava, a tal me olhava
Como se quisesse pôr-me a par de tudo.

Mas era apenas um soneto, era mais um
Era apenas mais um sonho, mais um perdido
E era apenas um olhar, olhar algum...

Noutro dia outra manhã, novos olhares
Dessa velha solidão nos calcanhares
E um soneto a me espreitar, adormecido.


 

 

 

Bernini_Bacchanal_A_Faun_Teased_by_Children

Início desta página

Luiz Rufatto, foto de Simone Rufetto

 

 

 

 

 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), Consummatum est Jerusalem

 

 

 

 

 

Lucas Tenório


 

As casas


As casas.
As casas e suas lembranças
passeando nos jardins ou debruçadas
no parapeito das janelas.

As casas com seus muros
oitão e quintais.
E suas gentes.

Casas com sorrisos de bom dia,
fuxicos nas calçadas e muita história
pendurada nos varais.

Casas com alegria, com parentes.
Tias, pais, irmãos, avós
e na esquina a padaria.
Mais à frente uma multidão.

Casas com nascente
poente e paz.
Casas do ocaso, bolo inglês
e um luar ao alcance das mãos.

Casas com as galinhas
e ao menos um galo das quatro da manhã.
Casas de alvorada, alvenaria.

Ah, casas.
Havia casas
que viviam conosco,
e mais nada.

Não as casas do amanhã.
Casas sem caso
Casas de ferro, xadrez.
As casas catamarã,
pequenas e que nos levam
ao décimo terceiro andar
em gaiolas com os passarinhos.
(E ainda há vez para esses bichinhos?)

Há casas que nos guardam
sozinhos, neuróticos.
Ao acaso.
Casas desacasaladas, descasadas.
Assexuadas ou hermafroditas.

Ah, casas malditas e desocupadas!
Estamos fartos
e noutro lugar!

Nessas casas, ao entrar,
só nos resta pedir de joelhos:

Dê-nos asas...
Dê-nos casas.


 

 

 

Bernini, Apollo and Dafne, detail

Início desta página

Adriana Zapparoli

 

 

 

 

 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), Bathsheba

 

 

 

 

 

Lucas Tenório


 

São Paulo


São Paulo,
Eu queria te ver
No meu rosto já não há
Os teus traços vis-à-vis.

São Paulo traz-me aqui
O mentor do Tietê.
A placidez daquele mar
De concreto calculado.

São Paulo desbravado
Angulado em quem te quis.
Os teus prédios monumentos
Os sacramentos guaranis.

São Paulo entrincheirado
Nas modernas conjecturas.
São Paulo as iluminuras
Dos vitrais maquinofaturados.

São Paulo tens mesquitas?
São Paulo sinagogas.
Tuas palavras-igrejas
Os urbanitas de Rita.

São Paulo tens em voga
Os meus credos de cidade.
São Paulo latinidade
Ascendente em lua nova.
 

 

 

 

Bernini_The_Rape_of_Proserpina_detail

Início desta página

Inez Figueredo

 

 

 

21/10/2005