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            Dimas Macedo 
                                         
                                            
                                                                        
                                                                        
                                                                        
                                                                        
                   
              
                                                                   
                                                                        
                                                                        
                                                                        
                   
            
            Os contos de Airton Monte 
             
  
                                                                   
                                                                        
                                                                        
                                                                        
                   
            O contista 
            cearense Airton Monte, já não se pode ocultar a verdade, é um nome 
            que está a merecer um reparo por parte da crítica que presentemente 
            se pratica nos grandes centros culturais do país. 
                                                                   
                                                                        
                                                                        
                                                                        
                   
            Apesar de a sua 
            estréia ter sido feita através de uma editora como a Moderna, de São 
            Paulo, e de seu primeiro livro ter tido distribuição nacional, 
            Airton Monte é um escritor que, enclausurado na Província, ainda não 
            teve a oportunidade de revelar-se por inteiro para um número mais 
            significativo de leitores. E, se o contrário de tudo ocorrer, com 
            isso muito lucrará a história da novíssima literatura brasileira, 
            que incorporará às suas páginas um contista que nada deixa a dever 
            aos melhores contistas brasileiros de sua geração. 
                                                                   
                                                                        
                                                                        
                                                                        
                   
            Seus contos 
            revelam um engajamento humano quase que sem precedentes na nova 
            safra de contistas seus contemporâneos, são textos graves que 
            dissecam o cotidiano de marginalidade e penetram nos recônditos do 
            desespero e da tragédia dos perseguidos pelos fantasmas de uma 
            sociedade opressora. 
                                                                   
                                                                        
                                                                        
                                                                        
                   
            Relatos 
            pungentes da odisséia dos drogados da vida, dos enlouquecidos e 
            abandonados, dos embriagados pelo absurdo existencial, os seus 
            contos refletem igualmente, por assim dizer, o sórdido e o patético 
            do estrangulado universo social que paulatinamente nos vem 
            resgatando. 
                                                                   
                                                                        
                                                                        
                                                                        
                   
            Utilizando as 
            suas estórias como instrumento de denúncia, Airton Monte às vezes 
            transfigura o seu discurso para uma linguagem quase que 
            jornalística, desestabilizando a estrutura de alguns dos seu contos, 
            o que faz na maioria das vezes buscando alcançar estágios de 
            plenitude artesanal pelos quais tanto e tanto se debate. 
                                                                   
                                                                        
                                                                        
                                                                        
                   
            Porém essa 
            mudança de técnica da construção textual em nada prejudica a 
            densidade dos seus relatos ficcionais, muito pelo contrário, ela 
            plastifica a ação dando-lhe a dimensão conteudística impossível às 
            vezes de ser arrumada dentro da forma fixa que permeia a técnica do 
            conto. 
                                                                   
                                                                        
                                                                        
                                                                        
                   
            O que importa de 
            tudo, porém, é que Airton Monte demonstra conhecer os segredos da 
            problemática dos modernos métodos exigidos pela ficção que 
            contemporaneamente se pratica. Assim, naquilo que os seus contos 
            exibem de apreensão do real, de aprisionamento dos cortes do 
            cotidiano, é que Airton Monte demonstra possuir a consciência de que 
            o que realmente interessa ao ficcionista é produzir a sua ficção 
            independentemente do gênero em que a mesma possa vir a ser 
            enquadrada. 
                                                                   
                                                                        
                                                                        
                                                                        
                   
            Estas anotações 
            ocorrem-me a propósito da leitura de Alba Sangüínea (1983), 
            exatamente o terceiro livro de contos que Airton Monte publica. 
            Anteriormente havia ele editado O Grande Pânico (São Paulo, 
            Editora Moderna, 1979), e Homem Não Chora (Fortaleza, 
            Secretaria de Cultura e Desporto, 1981), isto afora trabalhos seus 
            em outros gêneros literários, terrenos, aliás, onde não se realiza 
            com tanto desempenho como o experimentado pelo contista. Seus 
            poemas, por exemplo, são apelos para que o poeta transite de uma vez 
            por todas das lucubrações poéticas para a prosa de ficção ou, pelo 
            menos, provocações a uma opção conciliadora, no caso a experiência 
            teatral. E diga-se de passagem que Airton Monte já anda a anunciar 
            que o teatrólogo em breve entrará em cena, exibindo os estandartes 
            do seu Ritual. 
                                                                   
                                                                        
                                                                        
                                                                        
                   
            Alba 
            Sanguínea é um livro que nos oferece uma leitura agradável, é 
            uma coletânea de contos que parece fazer transitar entre os seus 
            textos considerável equilíbrio, a par de uma unidade temática e 
            estilística já denunciada, porém não encontrada facilmente nos seus 
            livros anteriores. 
                                                                   
                                                                        
                                                                        
                                                                        
                   
            Um livro que 
            segue as pegadas do que Airton Monte publicou anteriormente em 
            termos de contos. Antes, porém, é a confirmação da existência de um 
            contista plural, de um escritor consciente da importância da sua 
            militância cultural. 
            ____________________ 
            DN Cultura, Fortaleza, 02/10/1983. 
  
                                                                   
                                                                        
                                                                        
                                                                        
                   
            DE LEITURA E 
            CONJUNTURA/1984 
                                                    |