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Dimas Macedo


Linhas da alma

 

 

Entre todas as linguagens com as quais a sociedade reveste as suas intenções e as suas formas, parece ser a arte aquela que agrega o melhor conjunto de valores e o mais sofisticado de todos os apelos. 

Acredito ser impossível apreciar a arte de boa qualidade e não desejar tê-la para si, uma vez que a arte é a extensão do nosso imaginário e do nosso desejo de estar-no-mundo e de lutar até onde as energias da vida possam permitir. 

A arte atravessa os caminhos escuros do nosso inconsciente e, na proporção em que se vai tornando soberana, projeta no espaço do nosso exterior o caleidoscópio no qual nos espelhamos. E não há como fugir da sua linguagem sedutora, da sua tentação desafiante e dos lençóis de linho com os quais ela nos envolve.

Ana Costalima é uma artista plural e multifacetada. Toca os mais diversos instrumentos da escansão poemática e vai da gravura e da escultura do ferro à pintura de linhagem clássica que aponta para o limite de todos os desejos.

E sabe manipular, como poucos, o desenho de linhas abstratas e a alquimia das formas como se fosse uma equilibrista que caminha por fios de arame sem a necessidade de nenhum elemento de apoio.

A escultura, de longe, parece ser o seu supremo campo de domínio, mas não é. Ana Costalima é mais do que aquilo que aparenta ser e muito mais ainda do que aquilo que dela se possa imaginar, isto é, é mais do que aquilo que a sua exposição -  Linhas da Alma -  pode revelar.

Mas é em Linhas da Alma, acredito, que ela demonstra, como poucos, o quanto é possível transformar as estruturas pesadas dos materiais resistentes em folhas laminadas em branco e em linhas que apontam para as grandes levezas da vida.

A dança das formas resistentes, a leveza significante do traço, o desenho simbólico da sinergia da alma, a comandar o prazer e o deleite dos apreciadores, são valores e achados com os quais Ana Costalima nos encanta.

Todos os recursos da criação artística que até hoje lhe foram facultados ela os reuniu nos objetos que constituem essa exposição.

Um crítico de arte talvez aqui quisesse inventar teorias ou escolas, tendências estéticas ou didáticas para enquadrar as suas perspectivas de trabalho. Mas não é isto o que penso a respeito da sua criação cultural. Acho tão-somente que Ana Costalima é uma artista de traços criativos, que prima pela leveza da forma e do desenho, que sabe que a energia suprema da vida é o amor e que os desafios da arte de viver implicam, necessariamente, em tomar a criação ponto de partida.     

E a criação como ponto de partida é tudo o que importa a Ana Costalima, especialmente quando se debruça sobre o ofício de escrituração do poema. É poetisa, sim, e escritora, no sentido mais justo da palavra.       

Desliza, como poucos, pelas linhas do imponderável. Não é uma engenheira do poema, no sentido cabralino do termo. Não escreve pela emoção, mas pelo ouvido. Compreende sinais, interpreta signos, fixa a atenção num ponto qualquer do horizonte, desce olhar sobre o papel e o poema explode em forma de canção e de resguardo de sua doce sensibilidade.        

Faz poemas como se estivesse ouvindo alguma partitura. Vozes musicalizadas. Melodias sonoras. Texto preparado para a escansão e para as grandes energias do corpo.           

A palavra, em Ana Costalima, constitui a sedução de todos os prazeres. O movimento, o alento, o alimento, nesta ordem de partida do zen oriental, integram a sinergia do texto que ela nos dirige.           

É impossível olhar para Ana Costalima e não sentir. Olhar para Ana Costalima e não criar. Quem a percebe, pela primeira vez, não tem como evitar os seus olhos e a sua efusão em abraçar. Tudo nela é poesia e determinação. Tudo, em Ana Costalima, me parece a expressão poética do desejo, assim como se tece a melodia que se perfaz na concha e no rumor.

 

 

Leia Ana Costalima