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Vássia Silveira
vassia@uol.com.br

Thomas Colle,  The Return, 1837

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Poesia:


Ensaio, crítica, resenha & comentário: 


Fortuna crítica: 


Contos:


Alguma notícia da autora:

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Ruth, by Francesco Hayez

 

William Bouguereau (French, 1825-1905), L'Innocence

 

 

 

 

 

 

 

 

Riviere Briton, 1840-1920, UK, Una e o leão

 

 

 

 

 

Vássia Silveira



Vássia Silveira por ela mesma:

 

Nasci em Belém no ano de 1971, mas ainda moleca, meu pai resolveu voltar com a família para o Acre. A desculpa era que estava indo, como correspondente do jornal O Estado de São Paulo, cobrir os conflitos de terra na região. Hoje vejo que era mais do que uma cobertura jornalística. E acredito que além do retorno a terra onde havia nascido, meu pai desejava que os filhos conhecessem a cor do barro e os mistérios das raízes seringueiras. E acabou conseguindo.

Ali aprendi o sentimento amazônida. Um sentimento alimentado pelos ideais comunistas de meu pai e pelos pensamentos libertários de minha mãe – que me imputaram, na infância, a pecha de ser filha de hippie.

Foi essa mesma combinação que forjou o meu nome: Vassia, a homenagem a um personagem de Dostoievsk; e Vanessa, graças à atuação de Vanessa Redgrave no papel da bailarina Isadora Duncan. Razão e emoção. Dois elementos que passaram a fazer parte de mim, e que até hoje explicam o meu olhar sobre o mundo. Explicam também os cursos começados e não terminados. As paixões efêmeras, a inquietação e o não-conformismo.

Morei alguns anos no Rio de Janeiro, tempo suficiente para descobrir que habitava em mim uma alma urbana. E quando estava preste a fundir-me no concreto da grande cidade, fiz as malas e voltei para a Amazônia – onde passei os últimos dez anos trabalhando como jornalista.

Hoje, as sombras que vejo são novamente as dos arranha-céus. Cinza-fuligem que alimenta as idiossincrasias da palavra. Chão de concreto e brisa delimitando o espaço da criação. E uma memória molhada pelos rios e igarapés, o verde da mata e o silêncio.

A maturidade descobriu-me com as calças do medo e a tranqüilidade do amor. E se antes o espelho mostrava a face despida de traços, reflete agora a imagem de uma mulher na descoberta de suas primeiras rugas. No círculo da existência, sou agora a mãe que procura nas suas próprias referências o nome que forjará os destinos de Clara e Anaís. Uma mistura de razão e emoção.


Bibliografia:

 

  • XI Antologia Poética Hélio Pinto Ferreira. Fundação Cultural Cassiano Ricardo, 1996, São Paulo.

  • Trapiche, ancoradouro de sonhos (Crônicas). Amapá Publicidade e Promoções, 1998, Amapá.



 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Jacques-Louis David (França, 1748-1825), A morte de Sócrates

 

 

 

 

 

Vássia Silveira



Bordel


Ventos e horas
trouxeram-me o nada.
Sorrisos de esquina na boca
gestos pálidos
luzes néon – ainda recendendo a éter e gozo,
matei o amor.
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

São Jerônimo, de Caravagio

 

 

 

 

 

Vássia Silveira



Fim de cena


Quando as luzes apagarem-se
E eu ficar a sós,
Dividirei com a dor
Do instante
A silenciosa lágrima
Que teimou
Em não ser vista.

E rasgarei, até o último fio,
As vestes que encobriram
Meu fracasso – empilhando, como peças de dominó,
Sonho após sonho.

Quando as luzes apagarem-se
E eu ficar a sós,
Acenderei o cigarro, quebrarei os copos
E andarei nua,
Sob a tempestade.
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904) - Phryne before the Areopagus

 

 

 

 

 

Vássia Silveira



Descoberta


O acalanto da noite
Espanta o bisonho pássaro
Abrindo sobre mim as asas
De insanos desejos.

No desalento das horas
O tique-taque do relógio
Invade o último pedaço
De chão e terra de minha alma.

Sobram em mim os devaneios
Da vida e da morte
Um manto singelo
Que esconde a verdade dos demônios.
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Theodore Chasseriau, França, 1853, The Tepidarium

 

 

 

 

 

Vássia Silveira



Partida


Uma pedra vermelha e redonda
Foi jogada no fundo do lago
A sombra em volta espia
Enquanto tua imagem se desfaz.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poussin, Acis and Galatea

 

 

 

 

 

Vássia Silveira



Poesia sem nome


Vísceras amorfas
despertam a ira
dos anjos

E o cheiro de naftalina
emprega o ritmo
das horas

Por todos os cantos
o pó reveste
o que havia de límpido

E enquanto a garganta
engasga o grito,
as folhas sujas do jardim
balançam ao vento.
 

 

 

 

 

 

 

29/05/2006