Vássia Silveira
Vássia Silveira por ela mesma:
Nasci em Belém
no ano de 1971, mas ainda moleca, meu pai resolveu voltar com a
família para o Acre. A desculpa era que estava indo, como
correspondente do jornal O Estado de São Paulo, cobrir os conflitos
de terra na região. Hoje vejo que era mais do que uma cobertura
jornalística. E acredito que além do retorno a terra onde havia
nascido, meu pai desejava que os filhos conhecessem a cor do barro e
os mistérios das raízes seringueiras. E acabou conseguindo.
Ali aprendi o sentimento amazônida. Um sentimento alimentado pelos
ideais comunistas de meu pai e pelos pensamentos libertários de
minha mãe – que me imputaram, na infância, a pecha de ser filha de
hippie.
Foi essa mesma
combinação que forjou o meu nome: Vassia, a homenagem a um
personagem de Dostoievsk; e Vanessa, graças à atuação de Vanessa
Redgrave no papel da bailarina Isadora Duncan. Razão e emoção. Dois
elementos que passaram a fazer parte de mim, e que até hoje explicam
o meu olhar sobre o mundo. Explicam também os cursos começados e não
terminados. As paixões efêmeras, a inquietação e o não-conformismo.
Morei alguns
anos no Rio de Janeiro, tempo suficiente para descobrir que habitava
em mim uma alma urbana. E quando estava preste a fundir-me no
concreto da grande cidade, fiz as malas e voltei para a Amazônia –
onde passei os últimos dez anos trabalhando como jornalista.
Hoje, as
sombras que vejo são novamente as dos arranha-céus. Cinza-fuligem
que alimenta as idiossincrasias da palavra. Chão de concreto e brisa
delimitando o espaço da criação. E uma memória molhada pelos rios e
igarapés, o verde da mata e o silêncio.
A maturidade
descobriu-me com as calças do medo e a tranqüilidade do amor. E se
antes o espelho mostrava a face despida de traços, reflete agora a
imagem de uma mulher na descoberta de suas primeiras rugas. No
círculo da existência, sou agora a mãe que procura nas suas próprias
referências o nome que forjará os destinos de Clara e Anaís. Uma
mistura de razão e emoção.
Bibliografia:
-
XI Antologia Poética Hélio Pinto
Ferreira. Fundação Cultural Cassiano Ricardo, 1996, São Paulo.
-
Trapiche, ancoradouro de sonhos
(Crônicas). Amapá Publicidade e Promoções, 1998, Amapá.
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