Adriano Espínola
Psi, a
Penúltima
O título é meio esquisito, pouco
poético, parece livro de física (Psi, a penúltima partícula!) ou de
psicanálise. Poeta, tu estás ficando doido? Acho que é isso mesmo —
sem a loucura, que seríamos nós senão “cadáver adiado que procria”?
como diz o verso fulgente de Pessoa. Você é um desses seres
possuídos pelo daimon ou pelo furor da musa, musa telúrica, pois seu
verso é rememoração, canto órfico que vão presentificando,
retomando, clarificando, celebrando o passado, reinaugurando as
coisas, transfigurando as lembranças e os seus como no belo poema
inicial Antífona: Venho de outras terras, meu capitão,/ não sou da
beira do mar, eu venho/desd’onde um bola de fogo, /volúpia de luz,
volúpia de cor, /cavalgava o horizonte e desabava...”
Ali, os jatobás queriam-se apoderar
do ouro do crepúsculo, e o mestre Sol afrouxava as correias de
mestre Vento, enquanto as palmeiras apenas conseguiam tostar os
coquilhos, grande manadas de lágrimas de sol!
O poema inteiro é de uma beleza de
uma autenticidade ímpares (até as cantorias reproduzindo as falas
típicas sertanejas), tudo misturado: evocações do sertão brabo, com
seus personagens, suas lendas e visões, mas citações e recorrências
à tradição cultural do Ocidente, indo até Homero e ao Olimpo.
Parabéns, meu poeta. Poemão para ser lido e relido.
Leia Psi, a
Penúltima, de Soares Feitosa
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