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Adriano Espínola

Theodore Chasseriau, Fran�a, 1853, The Tepidarium

Poesia:


Ensaio, crítica, resenha & comentário:


Escreveram sobre a poesia de Adriano Espínola:


Alguma notícia do autor:

 

Adriano Esp�nola (Foto de Socorro Nunes)

 

Tiziano, Mulher ao espelho

 

Leonardo da Vinci,  Study of hands

 

 

 

 

 

Frederic Leighton (British, 1830-1896), Antigona,detail

Adriano Espínola



Pequena Biografia

Nasceu em Fortaleza, Ceará, em 1952. Professor da Universidade Federal do Ceará, lecionou como professor visitante no Departamento de ciência da Literatura da Universidade Federal do Rio de Janeiro, no período de 2003 a 2007. Como Ensaísta, publicou As artes de enganar: um estudo das máscaras poéticas e biográficas d Gregório de Mattos (2000), sua tese de doutorado. Em 2009, lançou o livro de contos Malindrânia (relatos).

Seu livro-poema Táxi foi traduzido para o inglês por Charles Perrone e lançado, em Nova York e Londres, pela Garland Publishing, na coleção World Literature in Translation. Como escritor convidado, participou, entre outros eventos, do Festival Internacional de Poesia do Mundo Latino, em Bucareste (1997); do 18º Salão do Livro, em Paris (1998) e do Congresso de Escritores Brasil-Portugal, no Porto (2000). Obra poética: Fala, favela (1981); O lote clandestino (1982); Trapézio (1984); Táxi – ou poema de amor passageiro (1986).


 

Frederic Leighton (British, 1830-1896), Antigona,detail

 

 

 

 

 

 

 

Frederic Leighton (British, 1830-1896), Antigona,detail

Adriano Espínola



Haicai


Tristeza


Uma árvore torta.
Uma ave cantando grave.
A tarde já morta.



Outono


Folhas. Ventania.
Cajus se despencam nus:
apodrece o dia.


 

Frederic Leighton (British, 1830-1896), Antigona,detail

 

 

 

 

 

 

 

Allan R. Banks (USA) - Hanna

 

 

 

 

 

 

Hildeberto Barbosa Filho

 

Diário do Nordeste, Fortaleza, Ceará, Brasil

15.7.2007


 

Adriano Espínola, com Praia Provisória - Prêmio 2007 de Poesia da Academia Brasileira de Letras -, aposta na leveza e na concisão como requisitos básicos da linguagem poética. Leveza no olhar e no captar os materiais que se dispõem à sensibilidade lírica; concisão no que concerne à formalização do verso: curto, medido, musical.


Se lá observa-se a capacidade de tocar as coisas, os sentimentos, as percepções, a própria linguagem com o impacto do flagrante poético, reinventando, portanto, experiências e sensações. Aqui, no corpo mais palpável da forma, projetam-se o domínio técnico e vocabular, a consciência do ritmo e o sentido plástico, concreto, das imagens.

Se pensarmos também na claridade, ou para lembrar Bachelard, num viés solar onde a luz se faz signo seminal, teremos uma das trindades categóricas dessa dicção. Vejam-se, por exemplo, poemas como 'Verão', 'Meio-dia', 'Sede', 'Fera', 'Café' e 'Insônia', todos, a seu modo, permeados por sinais incandescentes, estilhaços de significação em que a luz, com seus imponderáveis sortilégios, é componente fundamental. Transposta da natureza para a consciência, da consciência para a página pela transfiguração característica da poesia, a luz - signo quase icônico - chega a repercutir, ou melhor, a percutir, assim, materialmente na textura do verso.

'Feito um cão solto/ súbito o sol/salta janela/ adentro do quarto', escreve o poeta em 'Fera', exercitando, na montagem do poema, o jogo daquilo que T. S. Eliot denomina de 'correlato objetivo', como um contrapeso ao jorro emocional típico de poetas invertebrados, frouxos e melosos. A emoção, aqui, é substituída pela ação e presença de fatores, objetos e situações tangíveis que, convertendo-se em experiência sensorial, como que evoca a emoção imediata, todavia sem o risco do subjetivismo linear.

Vamos ao resto do texto: 'Inquieto, morde/os punhos da rede,/ derruba a sombra/ vã do retrato,//lambe o pé sujo/lá da parede,/fuça a amarela/mancha do espelho,//late:luz! luz!-/ depois se enfia,/fiel, no velho/par de chinela.// (Como a cidade/lá fora, fera,/ na alva coleira/do novo dia.)'. A leveza, a concisão, a musicalidade, a precisão, a claridade e a epifania são traços que se fazem presentes neste e em tantos outros poemas do livro.

Seja no modo de dizer o amor, caro motivo do poeta cearense, em especial no texto 'Negra', seja no registro descritivo de sutileza metafísica, em A Cebola', seja nas correspondências fônicas, morfológicas e plásticas de 'Cântaro', 'Pássaro', 'Pássara' e 'Paloma', Espínola age como puro 'verse-maker', desbastando as impropriedades que podem fraturar a ordenação das palavras, as cadências do ritmo e a força sugestiva das imagens.

À sensibilidade e à imaginação do poeta une-se o lastro de leitura, pois Praia Provisória, assim como outros títulos de sua obra, demonstra que Espínola é um poeta culto, um poeta-leitor, que tem seus pares, suas afinidades, suas preferências. Um poeta que também elabora o seu paideuma. A seção 'Os hóspedes' oferece um pequeno roteiro dessas leituras. Leituras que se prestam, evidentemente, ao labor de outras suas também reinvenções poéticas. Os poemas, aqui, pretendem dialogar com outros autores numa prática intertextual explícita, porém atenta aos elementos viscerais da fala anterior, ao ingrediente impermeável que perdura e permanece na tradição estética. 'Ulisses', 'São Jerônimo', 'Luís', 'Euclides' e 'Borges' podem se destacar, entre outros, pois tendem a se cristalizar na memória do leitor enquanto figurações vérsicas das mais singulares.

Há, ainda, nesta coletânea, o perscrutador da metalinguagem, o que dispõe seus instrumentos no palco da página para ditar conceitos, estabelecer caminhos, externar dúvidas e perplexidades diante da poesia, 'armadilhas para apanhar o tempo', segundo palavras do próprio poeta, no texto que abre a última seção do livro. A verve crítica e irônica consolida o empenho metalingüístico sem que essa vertente, tão comum à poesia moderna e pós-moderna, não se transforme em estéril tautologia.

Nesta tópica, o fulgor das palavras ilumina também o tecido carnal da existência. Basta, desse modo, pinçar estes versos, que me soam como legítimas pedras de toque: 'Não há outra verdade/senão a que invento'(p. 105); 'No esplendor da manhã, furtar uma elegia' (p. 109) e 'De manhã cedo,/ salta do chão/o cão do esquecimento' (p. 115).

É prazeroso freqüentar as águas poéticas dessa Praia Provisória, com a garantia de que os arrastões das semioses forçadas -lúdicas, gráficas, experimentais-, em que tantos ingênuos do Parnaso se comprazem, passam ao largo de suas areias encantadas. Exemplos desta natureza reforçam-me a certeza de que a poesia brasileira contemporânea tem salvação.

 

Direto par a página de Hildebrando

Allan R. Banks (USA) - Hanna

 

 

 

 

 

 

 

Manoel de Barros

 

Augusto dos Anjos

 

 

 

 

 

 

John William Godward (British, 1861-1922), Belleza Pompeiana, detail

Adriano Espínola


 

Língua-mar
 


A língua em que navego, marinheiro,
na proa das vogais e consoantes,
é a que me chega em ondas incessantes
à praia deste poema aventureiro.
É a língua portuguesa, a que primeiro
transpôs o abismo e as dores velejantes,
no mistério das águas mais distantes,
e que agora me banha por inteiro.
Língua de sol, espuma e maresia,
que a nau dos sonhadores-navegantes
atravessa a caminho dos instantes,
cruzando o Bojador de cada dia.
Ó língua-mar, viajando em todos nós.
No teu sal, singra errante a minha voz.


 

John William Godward (British, 1861-1922), Belleza Pompeiana, detail

 

 

 

 

 

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