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Soares Feitosa

Poetímetro

Listas, a propósito delas, quem é mesmo o maior Poeta? Vêem-se coisas impossíveis de acreditar: a lista do poeta Floriano Martins quando ele escolheu 10 poetas, ele de dentro!, e daqueles 10 dele, ele incluso, apenas 3 se confirmaram na lista geral de todas as listas, que foram Ruy Espinheira, Adriano Espínola e Alexei Bueno, ele não.  
  

Ana Cristina César Sérgio Campos
Ruy Espinheira Filho Leonardo Fróes
Adriano Espínola Paulo Henriques Brito
Donizete Galvão Alexei Bueno
Floriano Martins Fábio Weintraub
   
Doutra feita, Marcelo Coelho, da Folha de São Paulo, por quem eu tenho a maior admiração — por ele e pelo jornal — fez uma lista solteira colocando o poeta Nelson Ascher como o melhor do Brasil, logo ali colado nas apragatas de João Cabral de Melo Neto, e agora o Ascher, segundo os 119, não entra na lista dos 20. [Nem o Marcelo foi escolhido pelo "listeiro chefe" como um dos 119]. Ambas as exclusões, Marcelo e Ascher, uma injustiça dos setecentos diabos. 
 

Eu mesmo vivo fazendo listas: GMM, Gerardo Melo Mourão como o maior poeta de todos os tempos, logo ali, na minha lista, só um pouquinho abaixo de NSJC, e Gerardo sequer é escolhido entre os 20 da Revista Poesia Sempre e muito menos entre os 10 do Floriano. Sequer na lista dos 119. Como se esse Gerardo não existisse. Nem Thiago de Melo, outro poeta da gota serena. Nem a Renata Palotini, autora dos mais belos (outra lista!) sonetos bíblicos, melhor do que Camões nos 14 de Raquel. Nem o Alberto da Costa e Silva. Nem o Álvaro Pacheco, nem os irmãos Maia [Virgílio e Luciano], nem o José Alcides Pinto, muito menos o Francisco Carvalho ou o Artur Eduardo Benevides. Por todos estes boto a mão no fogo, são poetas! Se vou-me queimar? Claro que sim.  

Qual, finalmente, a validade das listas?   

As listas são válidas, boas e verdadeiras. A explicação, só encontro esta, é o velho eneagrama, a 9 faces da alma — seria mais uma lista, a lista das nove faces? Sim, é mais uma.  

Pois bem, segundo os eneagramistas, cada pessoa "mora" em uma casa distinta, de 1 a 9, não é de 1º a 9º não. Nenhuma casa melhor ou pior do que a outra, apenas diferente. Dessa multiplicidade de "moradas", a diversidade[ad] das pessoas — daí serem diferentes as listas. Dificilmente, o morador da casa 3 vai gostar da poética de quem mora na casa 9, mas tudo isto, com muita "teoria", é papo para longas cervejadas.  

Fiquemos num tema menor: o poetímetro. Existiria algum instrumento de medida, como uma trena de costureira, uma escala de pedreiro, um densímetro, um paquímetro, sei lá o que, para medir o nível de poeticidade de alguém? 

Esta expressão — poetímetro — cunhei-a quando o poeta Luís Antonio Cajazeiros Ramos — de minhas listas!, inclusive da mais séria delas todas, 4 ou 5 gatos pingados, os amigos, ele, dos mais-mais — pois bem, uma bela tarde me chega o tal poeta Luís com uma carta de um apenado, um certo sr. Djalma, direto do Carandiru, em que o dito Djalma, ninguém sabe como, tomou conhecimento do livro dele, Fiat Breu, e pedia um exemplar, gratuito, para ler. Emocionou-se o Luís Antonio. E eu também. Eu disse: "Luís, isto é um poetímetro. Quem ler esta carta, se for poeta, se emocionará profundamente. Ou não". Vejam o fac-símile da dita cuja. Em cima da dita carta, escrevi Salomão.  

Parece que um outro poetímetro seria o relato de uma reunião de poetas a falarem de Deus & o Mundo, pura banalidade, total inconseqüência, quando o final do relato é a notícia da sagração(con) de Saramago. O material está on line. Cheguei a receber um email criticando: o relato passaria a idéia de uma corja de embriagados falando mal de todo mundo e usando a bebida a pretexto de liberar. [Sou quase abstêmio, e os comparsas da dita rodada de maledicência naquele dia beberam pouco]. O autor da reclamação esclarecia que tinha um trauma de infância: alguns cachaceiros em casa que pintavam e bordavam, e finalizava dizendo que tinha gostado, apesar de. O fato é que naquele relato, do meu ponto de vista,  se comete a perfeita peripécia grega: o final súbito, surpreendente, a sacralização do profano [poderia ser o contrário, a banalização do sagrado], quando aqueles 119 nomes são riscados e todas aquelas rixas desaparecem ante a notícia gloriosa, Saramago, o nº único!  

Tenho que os dois exemplos, a carta do preso ou o relato sobre Saramago podem não despertar mínimo furor poético em determinados habitantes deste circo, e, mesmo assim, sejam poetas extraordinários. É o eneagrama: aquilo que agrada a a, b e c, pode não agradar a d. Faça o teste. Leia a carta do preso. Aproveite e lembre os seus próprios poetômetros. Estou a procura deles: qual o teste de poesia?   

Que furor poético lhe desperta um soneto de Augusto dos Anjos ou o Navio, de Castro Alves? A partir dos posicionais do eneagrama, 1... 9, diferentes, divergentes, complementares, etc, etc, a gente começa a entender coisas. Por exemplo: João Cabral de Melo Neto que, para a  unanimidade [quase] dos poetas brasileiros é o maior poeta vivo do Brasil. Leio O Funeral do Comendador e consigo apenas não gostar. Outros dizem: poemão. Deve ser. Somos habitantes de outras casas. O Homem disse que nada casa dEle existem muitas moradas...  

Em tempo:   
Mateus/Cristo, estes sim, Poetas, eram eneagramistas. O Sermão da Montanha, Mateus 6, é o relato das 9 moradas da alma pelo lado da bem-aventurança. Trato do tema, pelo lado do "pecado", no poema Talvez Outro Salmo. Que meu amigo Luís Antonio Cajazeira Ramos diz que é o meu pior.

 
Opinião do leitor 

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Programação visual, 01.01.1998: SF