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Humberto Gomes de Barros

 

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Allan R. Banks (USA) - Hanna

 

 

 

 

     
 

 

Gizelda Morais

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Riviere Briton, 1840-1920, UK, Una e o leão

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Humberto Gomes de Barros

 

 

 

Há exatos dois meses, recebi de meu amigo Marcos Pires um pequeno livro chamado Peste e Cobiça, de um tal Tião Lucena. Chegou-me quando já preparava a saída rumo ao aeroporto, onde iniciaria viagem internacional. Cheguei a colocá-lo junto a outros textos que pretendia ler em meu retorno. Pensei, entretanto: se o Marcos Pires mandou, com certeza é bom; certamente contém aquelas glosas irônicas e bem- humoradasde que a Paraíba é tão rica. Apaixonado pelas coisas paraibanas, enfiei o livrinho na bolsa de mão, certo de que me divertiria na viagem.

Qual o quê! O livro nada tinha de divertido. Nele se contém a trágica saga de Princesa – a cidade-república paraibana. Mergulhei na leitura, fascinado desde o primeiro capítulo. Nem mesmo a escuridão da cabine – no voo noturno – me fez parar. Vali-me de uma providencial luzinha presa ao encosto da poltrona. Quase insone, cheguei a Londres conhecendo o desfecho da história e com a certeza de que acabara de conhecer uma obra-prima. O estilo rústico, no mais puro linguajar sertanejo não resvala para a grosseria. O texto, enxuto e preciso alça-se à perfeição. A ele bem se aplicaria a observação em voga nos anos sessenta do Sáculo XX: “é impossível acrescentar, cortar ou substituir qualquer palavra, sem piorá-lo”. Tião Lucena seguiu à risca a lição de Graciliano Ramos na famosa analogia entre a arte de escrever e o trabalho das lavadeiras alagoanas. Em Peste e Cobiça, a palavra é utilizada apenas para dizer.

Graças ao enxugamento, o livro consegue em exatas cem páginas, dar vida ao povoado de Princesa e às pessoas que nela vivem, padecem e morrem. Pouquíssimas palavras bastaram para assentar uma fortíssima personagem: Chico Bocão, amolando sua foice e desafiando o todo-poderoso Coronel Jobilino: “se o coronel, quiser, venha ele mesmo me tirar daqui”.

Há trinta anos, antes de se instalar o processo de desnacionalização da literatura brasileira, Peste e Cobiça estaria – como estiveram Dona Flor, Maria Moura e tantos outros – na lista dos best-sellers e nas páginas mais nobres da crítica literária. Isso, estou certo, acontecerá fatalmente. Tião Lucena escreveu uma obra eterna. Vale a pena conferir.

 

(Fonte: Jornal da ANE nº 38, fevereiro e março de 2011)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

18.2.2011