José Inácio Vieira de Melo
Aos Navegantes
Para seguir viagem com Carlos Barbosa
é preciso de pouca coisa. Matalotagem e outros poemas da viagem tem
de quase tudo. Que rumo iremos tomar? Qual o destino? Não importa! A
bússola do nosso timoneiro tem como norte magnético a poesia.
Então, começaremos por fazer um
passeio pelo leito do “Poema em nove gotas para um rio franciscano”.
Conosco estarão todos aqueles que um dia deslizaram pelas águas
brasílicas do Velho Chico - desde as nações indígenas até o
navegante italiano Américo Vespúcio, que o nomeou. Dentro do poema
franciscano, as nove gotas clamam pela renovação das águas cálidas,
que banham a integridade do país: “mirem:/ o rio está só!// sintam:/
o rio míngua!// ouçam:/ o rio geme!”. Carlos Barbosa rege cada
movimento desta suíte de olhos bem abertos. Das pupilas de seus
versos, podemos sentir toda emoção que dedica às águas do rio que
perpassa a sua infância e a sua cidade de origem, Ibotirama. Mas
sabe também que “o pôr-do-sol nas águas/ vale mais que a cidade//
vale mais que a veleidade/ de qualquer humana obra”.
Ao sairmos das águas do Rio São
Francisco, avistaremos um poemário de temáticas diversificadas,
dividido em duas partes: “Matalotagem” e uma seleta da “Poesia
anterior”, publicada em seu livro de estréia, Água de cacimba
(1998). E é aí que se confirma a coerência lírica do poeta, pois,
apesar da profusão de assuntos, sua caligrafia não treme e a linha
de seus versos livres continua seguindo os mesmos caminhos tortos
condicionados pelo homem que é.
“Caçador manco de seguir formigas”,
anuncia a sua verdade: “nenhuma plenitude me atrai”.
E assim, fazendo “Exposição de
motivos”, duvidando da própria sombra, Carlos Barbosa nos brinda com
a água profunda de suas estrofes. Seja nos poemas inéditos ou na
seleta dos já publicados, homenageia Brasília, cidade onde viveu
(“busco-me entre poeiras planaltinas/ meu nariz perde o faro na
esplanada”); dialoga com os poetas Manoel de Barros (“o livro sobre
nada é tudo/ que resta daquela noite”) e Zé Limeira (“meu jejum é
recheado/ de orvalho e de poesia”), que são algumas de suas
principais referências; faz uma “Georação baiana” – espécie de
itinerário místico por várias cidades da Bahia; e compreende que “o
pior pecado é esquecer o caminho”. E nos alerta: “fugir, jamais/
escapar, sempre”.
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